10 março, 2013

Gossip Boys - 10° capítulo



Heartbreake


Lua fala:

Eu e o pessoal ficamos mais um dia na praia – agora todos sabiam sobre eu e Thur, então podíamos ficar mais à vontade. Na verdade, foi até divertido ouvir todos dizendo que já sabiam e essas coisas – e voltamos para a cidade, e, infelizmente, para a escola.
Segunda-feira foi um dia como todos os outros. Pelo menos o começo do dia.
Eu e Thur andamos de mãos dadas pela escola e os murmúrios iam e vinham. Mas nós nem ligamos. Acho que eu estava tão feliz em finalmente mostrar para todos que nós estávamos apaixonados que nem dei atenção para as fofocas que surgiam.
- E aí, o que já inventaram sobre vocês? – Aline perguntou, sentando-se na mesa do pátio com Maker.
- Grávida. – admiti. Melanie e Sophia – que tinha voltado com Micael naquele dia da praia – levantaram as mãos e disseram ao mesmo tempo: - Grávida.
- Grávido. – Thur brincou e me deu um beijo na testa. Todos nós rimos.
E o dia seguiu. O sinal da última aula bateu. Thur me deu um beijo na bochecha e sussurrou no meu ouvido:
- Vamos ensaiar, passa lá em casa mais tarde.
- Claro. – respondi, beijando a ponta do seu nariz e depois sua boca. Ele me segurou pela cintura e nos beijamos na frente de todos, que sussurravam e apontavam, até que a inspetora que eu nunca lembro o nome veio nos separar.
- Onde já se viu, fazer uma coisa dessas na frente de todo mundo? – ela exclamou, olhando feio para Thur, como se ele fosse o culpado.
Normalmente, ele xingaria a inspetora e tomaria uns 3 dias de suspensão, mas acho que o bom humor havia o invadido, porque ele somente sorriu e pediu desculpas, envergonhado. A tiazinha-sem-nome olhou assustada para ele e nos deixou ir embora, ainda surpresa com sua reação.
- Até mais tarde, Lu! – ele gritou, saindo pelos portões da escola. Acenei com a mão e me sentei no muro de tijolos, esperando minha mãe chegar, pois iríamos ao shopping depois da escola.
E foi quando tudo começou.
- E aí, Lua. – ouvi uma voz me chamar. Virei-me e dei de cara com John, seus cachos dourados caindo no rosto e os olhos azuis celestiais me fitando. Se ele não fosse tão escroto eu cairia de costas ali mesmo.
- Oi, John. – respondi, me virando novamente, rezando para minha mãe chegar logo. Ele se sentou ao meu lado e colocou o braço nos meus ombros. Virei os olhos. – O que você quer?
- Sempre direta ao ponto... – ele riu e me apertou nos braços. As pessoas passavam e comentavam. – Bom, se você quer assim...
- Diz logo, John. – murmurei entre os dentes, me segurando para não dar um soco nele. Tirei seu braço dos meus ombros com nojo e fitei seus olhos, agora raivosos.
- Eu quero te propor uma troca.
- Do que você está falando?
- Eu troco seus beijos pela reputação do Aguiar. – ele respondeu, agora sorrindo maliciosamente.
- Como assim? – perguntei, ficando meio assustada.
- Se você não terminar até hoje à noite com o Aguiar, eu conto pra escola inteira o segredinho dele e dos seus amiguinhos. – ele explicou, como se estivéssemos tendo uma conversa de elevador. – Eu fui muito bonzinho até agora, mas ele merece perder tudo que tem.
- Você não tem como provar nada. – eu disse, tentando me controlar um pouco, mas o meu cérebro já trabalhava a mil e eu tentava de qualquer jeito fugir daquela situação.
- Tenho sim. – ele replicou, levantando a sobrancelha de um jeito sombrio. - A última foto que eles postaram eu que mandei, e posso provar que só eu tenho aquela foto e só mandei pra eles.
- Você mandou para o conteseubabado, isso não prova nada. – declarei, ficando um pouco aliviada.
- Acontece, linda, que seu amigo, Micael, é tão idiota, que postou uma foto que eu mandei para o e-mail próprio. – ele disse, passando a mão pelos cachos. Arregalei os olhos. Ele gargalhou. – Você tem até à noite. Me encontre no Barney’s, senão, adeus McLosers.
Depois disso ele pulou do muro e saiu pelo portão da escola, com todas as meninas se virando para observar ele passar. Minha boca se abriu.
Acho que eu nunca vira John falar mais sério em toda vida.
E eu tinha que tomar uma decisão. E nem cheguei a pensar direito. Na verdade, eu já sabia, de algum jeito, que aquilo iria acontecer, e eu meio que tinha uma decisão tomada na cabeça. Nem que para isso eu tivesse que sofrer.
Minha mãe chegou bem na hora. Eu pulei do muro e entrei no carro.

Thur fala:

Quando ela saiu pela porta, fiquei tão zonzo que caí com tudo na cama. Apoiei os dedos nas têmporas e respirei fundo, tentando processar o que havia acontecido.
Não havia nenhuma explicação plausível, nada que eu tenha feito. Mas então, porque ela tinha feito aquilo?
Fechei os olhos e tudo ficou preto. Meu coração batendo lentamente no peito. As mãos suando e a tontura que não passava. Tentei me recordar do que havia acabado de acontecer.
Lua entrara em casa, no final da tarde. Chay a deixou entrar e ela subiu para meu quarto. Bateu na porta e entrou, com passos lentos e firmes. Levantei minha cabeça da guitarra e a vi parada na batente, séria. Sorri para ela, que continuou com a mesma expressão.
- Oi, linda, entra aí! – eu disse, colocando a guitarra de lado. Levantei-me, só de boxers e meias, e a puxei para perto. Ela vacilou, caindo em meus braços e me dando o melhor beijo que eu já recebera em toda vida. Suas mãos acariciavam meus cabelos e eu passeava com as minhas mãos pela sua cintura, quadril, ombros e nuca, sempre com intensidade. Ela ofegava e dava leves beijos na minha boca. Nem sei porquê, mas senti que aquele beijo era... Triste.
Como um final previsto.
Até que ele foi ficando mais lento. Suas mãos pararam nos meus cabelos e as minhas na sua cintura. Ela encostou sua testa na minha, separando nossas bocas.
- Thur? – chamou, baixinho. Estremeci.
- Oi?
- Eu quero terminar.
Abri os olhos, sentindo meu chão sumir.
O quê?
- Você ouviu o que eu disse? – ela perguntou, depois do longo silêncio que eu fiz. Inclinei minha cabeça, me separando dela totalmente. Meus braços caíram pesados ao lado do meu corpo e minha visão ficou escura.
O quê?
- Como assim, o que, eu... – tentei organizar meus pensamentos, mas não tive muito sucesso. Sua voz ecoava em minha mente. “Eu quero terminar. Eu quero terminar”. Só conseguia ouvir isso. Quase nem ouvi quando ela disse, já saindo pela porta:
- Não se preocupe, você vai ficar legal. – sua voz era séria e um pouco nervosa. – Acho que eu nunca precisei de você, assim como você não precisa de mim. Desculpe, Thur, nós fomos um erro e eu quero consertar isso.
- Lu, espera, o que você está dizendo? – as palavras conseguiram finalmente escapar da minha garganta.
- Acredite, Aguiar, você vai melhorar.
E saiu.
E lá estava eu, me lembrando de tudo aquilo, os dedos nas têmporas, a pele formigando e uma dor inexplicável dentro de mim.
Uma dor que eu nunca sentira antes.
- Dude, por que a Lu saiu correndo daqui, vocês brigaram ou algo do tipo? – Chay perguntou, invadindo meu quarto sem nenhum tipo de constragimento. Quando me viu deitado de barriga para cima, os braços no rosto, chamou: - Dude?
Eu não conseguia dizer nada. Ou talvez não soubesse o que dizer. As palavras não saíam da minha boca e a dor no peito não passava.
- Dude, o que foi que aconteceu? – ele perguntou novamente, dessa vez se sentando na beirada da minha cama. Tirei os braços do rosto e me levantei, apoiando meus cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos novamente. Respirei fundo, tentando organizar aquilo para soar o menos estranho possível. Mas se nem eu estava entendendo, como faria para explicar para Chay? Então as palavras meio que jorraram da minha boca, antes mesmo que eu pudesse ter um pingo de amor próprio e orgulho masculino: - Ela terminou comigo.
- HAHAHAHA, essa é boa! – Chay gargalhou, me dando um tapa forte na perna. Levantei meu rosto dos braços e lhe lancei meu melhor olhar pára-de-rir-retardado-que-eu-estou-falando-sério e ele fechou a cara. – Nossa, é verdade?
- É verdade, porra. – eu disse, ficando reto. – Dá pra você sair do meu quarto agora?
O que estava acontecendo!? Eu nunca fora idiota daquele jeito com os meus amigos, principalmente por uma... garota.
- Foi mal, Thur. – ele parecia arrependido. – Se precisar de alguma coisa, é só chamar. – e saiu do meu quarto, o olhar vazio.
Joguei-me na cama novamente e fitei o teto.
Mas que merda tinha acontecido?
A dor assolou meu coração e eu fechei os olhos, para tentar me convencer de que aquilo era uma brincadeira e que Lua iria voltar.
Mas ela não voltou. 
E aquilo não era brincadeira.

Lua fala:

Caminhei sozinha pela rua, a garoa caindo sobre minha pele. Meus olhos se apertavam contra o frio e minha cabeça latejava de dor. Enfiei as mãos nos bolsos do meu moletom e me obriguei a continuar. Porque pelo menos a dor física – frio – me afastava da pior dor de todas. A dor de perder a pessoa que eu mais amava no mundo.
Não sei quanto tempo caminhei, mas sei que cheguei ao Barney’s muito mais cedo do que eu previa. E como eu também previa, John esperava por mim, sentado no banco mais visível do lugar, com os braços no assento.
- Olha só quem resolveu aparecer! – ele disse, a ironia estampada na voz. – Minha princesa.
- Ok, John, você venceu. Pode parar com a brincadeira. – respondi, virando meus olhos. Sentei-me na sua frente e ele se inclinou bruscamente. Todos que estavam ali – maioria alunos do Colégio Norbert – viraram seus rostos para nós dois.
- Agora o grande final. – ele sorriu, mostrando a fileira de dentes reluzentes. Inclinou-se mais um pouco e seus lábios gelados tocaram os meus. Uma ânsia muito forte percorreu meu corpo, mas não me afastei, com medo de sua reação.
Sua boca pairou sobre a minha por um bom tempo. Ele tentou algo a mais, mas minha repulsa era tão grande que nem se eu quisesse, conseguiria. Finalmente, ele se separou de mim.
Não tive coragem de olhar em volta, mas pelo que pude perceber, todos estavam adorando aquilo. A maior fofoca do ano.
- Lu, Lu... – ele suspirou. – Tão doce, mas com tanto ódio dentro desse coração.
- Vai. Se. Foder. – eu disse, com grandes pausas entre as palavras. Ele gargalhou.
- Adoro seu gênio!
Fiquei em silêncio e um amigo dele chegou. John começou a tagarelar sobre nós dois – mentiras e mais mentiras – e eu me forçava a sorrir de vez em quando para o garoto, que parecia sinceramente interessado e impressionado.
- Falou aí, boa sorte pra vocês dois! – ele exclamou, e me lançou um aceno de cabeça. Sorri de boca fechada e o observei ir embora. John agora me olhava.
- Posso ir? – perguntei, cruzando os braços no peito.
- Pode. – ele respondeu, jogando os cachos dourados para trás. – Mas paga a conta antes.
Respirei fundo. Naquele momento eu queria MUITO voar no seu pescoço. Mas agarrei a mesa e contei até dez. Mais calma, continuei:
- Eu não vou pagar nada. Você pode muito bem pagar com o cartão do seu papai.
- Como se você também não fosse fazer isso. – ele virou os olhos azuis.
- Não, John, e quer saber porquê? – perguntei, me levantando da mesa.
- Por que, gata?
- Porque eu não sou escrota como você. – respondi, e meio que corri para sair logo dali. Lá fora a chuva caía pesada e fria. Mas eu não me importei. Caminhei pelas ruas já escuras com o final da tarde, tentando imaginar como seria bom estar na chuva com Thur e como eu nunca mais teria aquele sorriso perfeito só para mim.
Cheguei em casa ensopada e triste.
Triste como nunca fora antes.
- Mãe, cheguei. – gritei, e ao ouvir alguma resposta de volta, subi correndo para meu quarto e me enfiei no chuveiro. A água quente acalmou um pouco a dor que eu sentia, mas nem de longe fez eu me sentir bem. Quando saí do chuveiro, coloquei meu pijama e me enfiei debaixo das cobertas.
Thur…
Eu nunca me perdoaria por tê-lo machucado tanto.

4 meses depois.

Thur fala:

Segundos se passaram. Minutos. Horas. Dias. Semanas. Meses.
No começo eu ligava para ela todos os dias. Ela nunca estava. E quando caía na secretária, eu deixava inúmeras mensagens, uma mais humilhante que a outra.
Ela nunca chegou a me responder.
A minha vida seguia. Não totalmente uma vida. Uma semi-vida.
Forçava-me a conversar, a opinar, a rir, a zoar, a comer, a dormir, a viver. Mas tudo parecia incompleto e... vazio.
Toda vez que meus olhos se encontravam com os de Lua no colégio, no Barney’s, nos ensaios, minha visão ficava escura e a dor no peito latejava. Eu não podia e não queria mais viver sem ela. Então me afastei das meninas, e muitas vezes deixei os dudes de lado. Ficava a maior parte do tempo sozinho, e quando não estava sozinho, era para ensaiar, pois o Festival de Bandas estava próximo. Escrevi uma música para ela, somente uma música, pois todas as outras que escrevi não eram boas. Toda minha inspiração foi embora, assim como todo o meu motivo para ser feliz. Se antes dela minha vida era normal, depois dela, minha vida não chegou nem perto de voltar a ser como era.
- Dude, nem acredito que é amanhã! – Micael exclamou, descendo as escadas correndo, secando os cabelos com uma toalha amarela. – Vai ser a primeira vez que todos aqueles babacas do colégio irão ver o nosso potencial!
- Só se for o seu potencial. Porque eu tenho quase certeza que vou vomitar na cabeça de alguém. – Chay replicou, zapeando pelos canais da Tv. Maker garalhou. Eu continuava no piano, batendo qualquer tecla que me vinha à cabeça. Dó, dó, ré, sol, sol. Dó, dó, ré, sol, sol.
- Hey, dude, faz isso de novo! – Maker pediu, quando eu deixei minha cabeça cair na teclas. Bati minha cabeça de novo, e o mesmo barulho ensurdecedor aconteceu. – Não isso, seu animal, as notas antes disso.
Dó, dó, ré, sol, sol.
- Isso? – perguntei, fechando o piano.
- É. Ficou legal. – ele respondeu, apertando os lábios. Micael concordou.
- Ficou uma merda. – eu disse, subindo as escadas lentamente. Maker suspirou e Chay desligou a Tv. Micael continuou secado os cabelos.
- Thur, volta aqui. – Maker chamou, mas eu já entrava no meu quarto. Deixei-me cair na cama e fechei os olhos, não conseguindo dormir direito, como havia acontecendo há alguns meses. 4 meses, 2 semanas e 3 dias para ser mais exato. Esse era o tempo certo que eu não falava com ela. Não a beijava. Não sentia sua pele quente na minha.
E esse era o tempo exato em que ela estava com o escroto do John, sempre a humilhando e fazendo-a de boba.
Lua, agora, era a maior corna do colégio. E o que mais me matava era que ela não parecia se importar muito com aquilo. Sua expressão era sempre séria e há muito tempo eu não a via sorrir. Suas amigas tentavam, em vão, fazer com que ela terminasse com John. Mas ela não terminava, e também não demonstrava qualquer tipo de afeição por ele, salvo as vezes em que ele a beijava à força na frente de todos, sendo repelido com nojo.
Era isso que eu não entendia.
Se ela não gostava dele, por que não voltava para mim?
E é aí que o orgulho masculino – aquele filho da puta, que sempre existiu em mim – entrava. Depois dela ignorar todas minhas mensagens, eu simplesmente não fui atrás dela para tentar descobrir o porquê de tudo aquilo.
Na verdade, mantive a maior distância possível por todo esse tempo, sempre evitando qualquer palpite emocional que meu coração insistia em dar.
Eu sabia que ela ainda me amava. Ela TINHA que amar. Mas me forcei a acreditar que não. E por isso sofri em silêncio por 4 meses, segurando as lágrimas e mentindo para meus amigos que estava bem.
- Não é egoísmo, só não quero que ele se humilhe amanhã na frente de todo mundo! – Chay exclamou lá de baixo. Levantei-me na mesma hora e encostei a orelha na porta quando percebi que falavam de mim.
- Eu também não, mas o que podemos fazer? Ele é nosso guitarrista, não podemos tocar sem ele! – Maker respondeu, irritado.
- Sei lá, liga pra Aline, pede pra ela pedir pra Lu não ir. – Chay sugeriu e Micael replicou:
- Não, dude, ele tem que perceber que ela já era! Que ela não vai voltar!
Encostei-me na porta e deslizei até o chão. Meus cabelos caíram por cima da testa e eu apertei os olhos, segurando novamente as lágrimas que eu nunca deixara cair em todo aquele tempo. E, não sei como, adormeci ali mesmo, com a cabeça encostada nos joelhos.

Lua fala:

- Eu não quero ir! – berrei, me encostando no armário de Sophia. Ela virou os olhos. – Que parte do eu não quero ir você não entendeu? O eu, o não, o quero ou o ir?
- Você não tem escolha. – ele respondeu, me atirando uma calça jeans skinny escura e uma blusa decotada em V preta. Os saltos scarpins pretos já estavam no chão e os acessórios na sua escrivaninha. – Vai por bem ou por mal.
- Soph! – choraminguei, mas ela ignorou. Levantou-se e tentou tirar minha blusa rosa do pijama. Dei um tapa em sua mão e exclamei: - Ok, isso eu ainda consigo fazer sozinha!
- Ótimo. – ela respondeu, sentando-se novamente. – Anda, você só tem 15 minutos.
- Ótimo. – repeti, atirando longe meu pijama. Eu tinha tomado banho e colocado-o, crente de que iria passar mais um sábado assistindo filmes na Tv e sendo corna, mas minhas amigas tinham outros planos para mim.
Em 10 minutos estava pronta.
- Vamos. – ela disse, me arrastando pela porta. – Micael já está me esperando lá embaixo.
- Espera, Micael está com...? – nem terminei, e Sophia respondeu, seca:
- Não.
Elas – minhas amigas - não sabiam porque eu havia terminado com Thur – ninguém sabia –, mas sabiam que eu não queria qualquer contato com ele, até um simples olhar, atitude que discordavam ferozmente.
- Oi, Lu! – Micael exclamou, me olhando com uma mistura de eu-ainda-te-amo e vai-se-foder-você-fez-meu-amigo-ficar-mal.
- Oi, Micael. – disse, afundando no banco de trás. Ele deu partida no seu novo New Beatle preto – presente de seu pai que ele odiou por ser gay demais e amou por ser um ótimo carro – e voamos até a escola, em silêncio por todo o caminho.
Chegando lá, as luzes saíam pela porta e meu coração acelerou. Tentei ficar calma, mas só de saber que todos os olhares se focariam em mim quando entrasse foi o suficiente para me desesperar.
- Ok, péssima idéia, posso ir pra casa? – pedi, e Micael me lançou um olhar de compaixão. Mas Sophia foi menos compreensiva.
- Nada disso. Vamos lá, você é uma mulher ou um saco de pipocas?
Saco de pipocas, saco de pipocas.
- Mulher. – murmurei, como uma criancinha. Sophia sorriu e me ajudou a descer do carro. Fiquei mais alta que ela, pois eu já era bem alta, e o salto não ajudou muito. Aliás, devo ter ficado maior que Micael, mas isso não vem ao caso...
Entramos no salão que estava todo escuro e tinha um palco perto da arquibancada norte. Na frente do palco, algumas pessoas se aglomeravam. Algumas até usavam camisetas com o nome das bandas que iriam tocar ali. Virei os olhos. Eu não queria estar ali. Eu não queria ter que ouvir a voz de Thur linda e maravilhosa nas caixas de som. E, acima de tudo, eu não queria encostar em John.
Opa. Tarde demais.
- Oi, linda! – ele exclamou, chegando perto de mim com outras duas garotas muito suspeitas. Lançou-me um olhar de finja-que-gosta-de-mim-na-frente-dos-outros e eu respondi, quase inaudível:
- Oi, John.
O “Oi, linda!” percorreu meu cérebro diversas vezes, e eu me lembrei de como era quando Thur dizia aquilo. A perfeição do seu timbre de voz, o modo como falava as palavras lentamente, o jeito que sua boca se mexia...
John podia ser lindo e gostoso, mas nem de longe era Thur.
Aquela altura do campeonato, eu não queria mais degolar John. Na verdade, eu já me acostumara com ele, e a única coisa que eu me forçava a fazer era suportá-lo.
Minha vida estava tão vazia e triste que eu nem me importava mais de ser a maior corna do colégio. Na verdade, eu agradecia por John estar galinhando por aí, ao invés de me encher o saco. Porque eu só queria ficar sozinha. Todo o tempo. Isolada, sozinha e triste.
Assim como Thur.
Thur... Sentia tanto sua falta...
- Olá, alunos do Colégio Norbert! – um famoso Vj da Mtv gritou no microfone. A gritaria subiu a mil e eu tapei meus ouvidos, com medo de que eles estourassem. Nossa escola havia ganho a promoção “use e abuse de Daniel Madolack” e era o que estávamos fazendo, colocando o coitado para apresentar aquele Festival idiota. – Tudo ok?
“Tudooo!”
- Bom, eu sou Daniel Madolack, e estou aqui para apresentar as melhores bandas do Colégio! – mais gritos histéricos. Reparei direito. Ele era bem gato. E não parava de me olhar. – Sem mais demora, com vocês, Asas de Porco!
Espera aí.
Asas de Porco?
Eca!
A banda entrou. 5 meninos vestidos de preto com a maior cara de mal. Reconheci-os do clube de xadrez. Ou será que era do clube de ciência?
Ah, vai saber...
- E aí, galera! – o vocalista gritou, e foi recebido por poucos gritos. – Nós somos o Asas de Porco e essa é a nossa música!
Os acordes pesados das guitarras começaram e eu me senti tonta. Olhei para o lado e Sophia era abraçada por Micael e ria da banda.
- Cadê os outros? – perguntei.
- Atrás do palco. Nós somos os próximos! – Micael respondeu.
- E por que você não está lá?
- Opa, é mesmo. – ele exclamou, e Sophia riu. Ele a pegou pela mão e sumiu atrás do palco, me deixando, bem... sozinha.
Olhei em volta novamente, e todos os olhares estavam focalizados em mim. Minhas mãos começaram a suar e eu senti que poderia desmaiar. O chão pulsava e minha cabeça doía. Aliás, os pensamentos da minha cabeça que a faziam doer. Há 4 meses que a única coisa que eu sabia pensar, direta e indiretamente, era em Thur.
Senti minha visão escurecer e sabia que iria cair ali, no meio de todos.
- Hey, você está bem? – uma voz conhecida perguntou. Minha visão ficou clara novamente e eu vi o Vj gato parado na minha frente, me segurando pelo braço. Os acordes agora soavam dentro do meu cérebro e eu respondi, sincera:
- Não muito.
- O que aconteceu? – ele perguntou, ainda me segurando pelo braço. Forcei um sorriso e respondi:
- Eu não queria estar aqui.
- E por que não? – ele perguntou, verdadeiramente curioso. Olhei em volta e os olhares não saíam de mim. Apontei com a cabeça e ele sorriu. – Ah, claro, fofocas escolares.
- Se fosse só isso, tudo bem. – eu respondi, e respirei fundo. Nem sei porquê, mas logo em seguida me ouvi contando todos meus problemas para um cara maravilhoso, que, provavelmente, era só uns 2 anos mais velho do que eu. – Na verdade, eu tive que terminar com o cara que eu amo porque um outro cara me forçou, dizendo que se eu não terminasse e ficasse com ele, ele contaria para todos o segredo desse garoto que eu amo. E eu não quero que esse garoto que eu amo fique com a reputação queimada, porque, bem, eu o amo certo? E agora eu estou há 4 meses sem falar com ele, sem ouvir sua voz, sem senti-lo, sem nada! – parei e respirei. Daniel me olhava meio assustado, mas ao mesmo tempo com cara de que queria ouvir mais. – E agora, depois dessa banda, ele vai subir ali e cantar, com a mesma voz que ele já cantou pra mim muitas vezes, e eu não sei como eu vou reagir e...
- Hey, hey, espera um pouco! – Daniel me chacoalhou pelos ombros e eu parei subitamente de falar. Ele agora estava sério. – Você chegou a conversar com esse garoto sobre tudo isso?
Pensei um pouco.
É, na verdade, não.
- Não.
- E como você sabe que ele prefere a reputação ao invés de você?
- Porque, bem, antes de mim, ele era o maior pegador e... – comecei, mas ele me interrompeu de novo.
- Desculpe, qual seu nome?
- Lua, mas pode me chamar de Lu.
- Lu. – ele repetiu. – Bem, eu sei que eu não sou assim tão mais velho e experiente que você, mas eu sou um garoto. E pelo o que você me diz, esse cara que você gosta...
- Thur.
- Esse Thur, ele também gosta de você! Também, quem não gostaria? – ele perguntou, me olhando de cima a baixo. Corei. – Acho que quando duas pessoas se amam de verdade, todas as outras coisas não são nada. Se ele gosta de você, ele não se importa com reputação ou qualquer coisa do tipo! Sabe, aconteceu uma coisa parecida entre mim e minha noiva.
Olhei para baixo e vi um anel de noivado reluzente na sua mão esquerda. Assenti com a cabeça, para ele continuar.
- Ela é da minha produção. Eu gostei dela desde que a vi pela primeira vez. E ela também. Mas ela sempre me rejeitava, dizendo que não estava a fim, mas depois eu descobri que na verdade ela não queria manchar minha reputação de famoso ficando com uma reles garota da produção. E se não fosse pela minha insistência, talvez eu teria perdido a garota que eu amo.
Meus olhos se encheram de lágrimas, pela primeira vez em muito, muito e muito tempo. Acho que eu nem me lembrava mais há quanto tempo as lágrimas conseguiam escapar da minha garganta. Pisquei os olhos rapidamente e elas voltaram para dentro.
Mas que porra estava acontecendo comigo?
Nem quando meu pai foi embora com o meu irmão tive vontade de chorar como eu estava naquele momento!
- Olha, agora eu preciso subir para anunciar a banda do seu garoto. Mas, sei lá, pensa no que eu disse. Não vale a pena sofrer calado por amor se você não sabe o que o outro quer.
Ele piscou para mim e saiu correndo, porque o Asas de Porco já havia se retirado – com algumas vaias – do palco.
- Ok, a próxima banda que vai pisar aqui no palco é o... – ele olhou no papel que segurava. – McFLY! E, antes de eles entrarem, eu queria deixar um, ah, sei lá, nem sei o que é isso que eu vou dizer... Mas, eu queria que antes que vocês façam alguma besteira e quebrem o coração de alguém, parem, pensem e conversem com essa pessoa. Porque, por mais que isso pareça piegas, um coração partido dói mais do que o orgulho de pedir perdão.
Daniel piscou para mim e saiu do palco, sob milhões de aplausos. Estremeci, e engoli mais lágrimas. O ginásio ficou escuro e as pessoas começaram a murmurar. Fui mais para frente, costurando entre as pessoas, e cheguei bem perto do palco. Ao meu lado estavam algumas meninas da oitava série que me lançaram olhares de compaixão. Sorri para elas.
Percebi vultos se mexendo no palco e prendi a respiração. Chay foi o primeiro a aparecer, e foi até o microfone, com o ginásio todo escuro. Apesar de estar morrendo de medo, fiquei firme ali na frente.
- E aí, Colégio Norbert! – ele gritou, e o ginásio inteiro gritou de volta, até meus antigos amigos que, bem, odiavam os McLosers. – Como vocês estão essa noite?
“Bem!”
- Ok, agora um comunicado para vocês. Não sei se irão gostar ou odiar, mas o McFLY vai tocar duas músicas. Uma, foi feita por todos nós. A outra, foi feita somente por um de nossos integrantes. – mais gritos. – Vamos lá?
As luzes do palco se acenderam. Maker contou 3 vezes com a baqueta e as guitarras tocaram os primeiros acordes. Micael apareceu do outro lado sob os gritos das meninas e, bem na minha frente, Thur surgiu.
Seus cabelos caíam no rosto como sempre. Suas calças eram – incrivelmente – do tamanho certo, azuis escuras e apertadas na batata da perna. Ele usava uma camiseta verde escura com as mangas compridas pretas. Seu alargador preto fora trocado por um verde e no dedo da mão esquerda um anel tribal. 
Os pés batiam no ritmo da música com um All Star preto e sujo.
- Went out with the guys, and before my eyes, there was this girl and she looked so fine! And she blew my mind! And I wish that she was mine... And I said: "Hey wait up 'coz I'm off to speak to her!” 
(Saí com meus amigos, e diante dos meus olhos, estava esta garota e ela era tão linda! E ela me deixou louco! E eu desejei que ela fosse minha... E eu disse "Ei, esperem porque eu vou falar com ela!") – Thur cantou. Sei que ele percebeu que eu estava ali, mas não me olhou nenhuma vez. – And my friends said: (You'll never get her, you'll never gonna get that girl!) But I didn't care, 'cuz I loved her long blond hair! And love was in the air! And she looked at me, and the rest was history... “Dude you're being silly cuz you're never gonna get that girl! And you're never gonna get that girl!” (E meus amigos disseram: (Você nunca vai pegar ela! Você nunca vai pegar aquela garota!) Mas eu não liguei, porque eu adorei seus cabelos loiros! E o amor estava no ar! E ela olhou para mim, e o resto é história... “Cara, você está sendo idiota porque você nunca vai pegar aquela garota! E você nunca vai pegar aquela garota!”).
Ao meu lado, as pessoas pulavam e algumas já pegaram a música e cantavam o refrão.
Eles eram realmente muito bons.
- We spoke for hours! (She) Took off my trousers! (Spent) Spent the day laughing in the sun! And we had fun! And my friends they all looked stunned... "Dude she's amazing and I can't believe you got that girl!" 
(Nós conversamos por horas! Ela tirou minhas calças! Passamos o dia rindo no sol! Nós nos divertimos! E meus amigos pareciam surpresos... "Cara, ela é demais e eu não acredito que você pegou aquela garota!") - Maker cantava da sua bateria, fazendo caras engraçadas nas viradas. Micael mandava beijos para Sophia sempre que podia e Chay ficou o tempo todo no centro do palco, bem em frente de Melanie. – And my friends said: (She's amazing, I can't believe you got that girl!) It gave me more street cred... I dug the book she read! How can I forget? That she rocks my world! More than any other girl... "Dude she's amazing and I can't believe you got that girl! And I can't believe you got that girl!" (Meus amigos disseram: (Ela é maravilhosa, eu não acredito que você pegou aquela garota!) Ela me deu mais popularidade... Eu peguei os livros que ela lia! Como eu poderia esquecer? Ela agita meu mundo! Mais que qualquer outra garota... "Cara, ela é maravilhosa e eu não acredito que você pegou aquela garota! Não acredito que você pegou aquela garota!").
Todos ao meu lado estava curtindo a música, até meus ex-amigos. 
Achei estranho, mas gostei mesmo assim.
- She looked incredible, just turned seventeen! I guess my friends were right, she's outta my league... So what am I to do? She's too good to be true! 
(Ela parecia incrível, acabou de completar 17 anos! Eu acho que meus amigos estavam certos, ela é demais para mim... Então, o que devo fazer? Ela é muito boa para ser verdade!) - Quando foi a vez do solo de Thur, ele foi para o outro lado e quase fez umas meninas da sétima série desmaiarem quando sentou no palco e tocou para elas. Sorri. Ele estava fazendo aquilo de birra. - But three days later, went round to see her, but she was with another guy! And I said fine! But I'll never ask her why... And since then loneliness has been a friend of mine! And my friends say: (Such a pity, I'm sorry that you lost that girl...) I let her slip away, they tell me every day! That it will be okay! 'Coz she rocked my world, more than any other girl... "Dude it's such a pity and I'm sorry that you lost that girl! And I'm sorry that you lost that girl..." (Mas 3 dias depois, saí para vê-la, mas ela estava com outro cara! E eu disse tudo bem! Mas nunca perguntei a ela porquê... E desde então a solidão tem sido minha amiga! Meus amigos disseram: (Que pena, sinto muito que você tenha perdido aquela garota!) Eu deixei ela escapar, eles me disseram todo dia! Que ficará tudo bem! Ela agita meu mundo, mais que qualquer outra garota... "Cara, que pena, sinto muito que você tenha perdido aquela garota! Sinto muito que você tenha perdida aquela garota...").
O último acorde de guitarra acabou e eles tiraram os instrumentos dos ombros, apoiando-os perto nas caixas de som. Pegaram uns banquinhos no fundo do palco e Maker trocou os baquetas por outras. Thur sentou-se na minha frente com o banco, e os outros sentaram-se nos seus lugares. Chay e Micael não seguravam nenhum instrumento, e somente Thur segurava um violão. O ginásio ficou escuro novamente e eu estremeci. Olhei para cima e Thur olhava diretamente para meus olhos, e seu braço estava estendido para mim, como se ele quisesse de algum modo me acalmar. Respirei fundo. De repende as luzes pousaram em cima de cada um deles. Thur tinha um brilho estranho no olhar e sorria, triste.
- Bom. – ele começou, tirando os olhos de cima de mim e olhando para todos os alunos que agora estavam aglomerados perto do palco, com um brilho diferente no olhar. – Essa música eu fiz quando... Quando a garota dos meus sonhos partiu meu coração.
As meninas ao meu lado soltaram um “aaaah!” e eu olhei para seus olhos, novamente voltados para mim. As lágrimas se acumularam embaixo dos meus olhos, e embaixo dos seus olhos também. Mas ele estava sorrindo, diferente de mim.
- Eu ainda não sei porquê tudo aconteceu, e, para falar a verdade, ainda não superei. Mas eu tenho certeza de que se ela está aqui hoje, - ele ainda olhava para mim. – vai saber que essa música é pra ela, e, bem, isso para mim já vale a pena.
As lágrimas escorreram no seu rosto e no meu também. Sorri para ele, um sorriso fraco e forçado, mas verdadeiro. Ele fez o mesmo, brilhando sob os refletores.
As meninas ao meu lado comentavam que ele estava chorando e que ele não parava de olhar para mim, e uma até tirou uma foto. Mas eu não me importei. Naquele momento, éramos só nós dois naquele salão. Nossos olhares não se desgrudavam por um segundo.
Thur começou a tocar o violão e Maker tocou um ritmo bonitinho na bateria.
- She walked in and said she didn't wanna know, anymore... 
Before I could ask why, she was gone, out the door... I didn't know what I did wrong! But now I just can't move on... (Ela entrou e disse que não queria mais saber... Antes que eu pudesse perguntar o porque, ela já tinha saído pela porta... Eu não sabia, o que eu tinha feito de errado! Mas agora eu não consigo seguir em frente!) – ele começou, e agora as lágrimas caíam sem vergonha do seu rosto, e do meu também. Mas apesar de estarmos chorando, sorríamos um para o outro, numa compreensão mútua. – Since she left me, she told me, don't worry! You'll be ok! You don't need me, believe me, you'll be fine! Than I knew what she meant, and it's not what she said... Now I, can't believe, that she's gone... (Desde que ela me deixou, ela me disse, não se preocupe! Você vai ficar bem! Você não precisa de mim, acredite, você vai melhorar! Então eu soube o que ela queria dizer, e não era o que ela disse... Mas agora, eu não consigo acreditar, que ela se foi...).
Enquanto ele cantava o refrão, me lembrei perfeitamente do dia em que terminamos. O gosto do nosso último beijo. O seu olhar incrédulo quando eu disse que queria terminar. A dor que se instalou no meu peito e que nunca mais saíra.
Thur era tudo que eu sempre sonhei, e eu tinha desperdiçado tudo o que nós tínhamos.
- I tried calling her up on her phone, no one's there... I've left messages after the tone! (Eu tentei ligar em seu telefone, não havia ninguém... Deixei mensagens depois do bip!) – agora era Chay que cantava, com Micael ao fundo, e Thur enxugava as lágrimas com a manga da camiseta. Enxuguei as minhas também, com as mãos, e continuei hipnotizados por ele, brilhando sob os refletores. Quando Chay cantou que deixara mensagens na secretária, Thur falou ao microfone: Sério? 
E Chay respondeu: É, cara, um monte. – I didn't know, what I did wrong! But now, I just, can't move on! (Eu não sabia, o que eu tinha feito de errado! Mas agora, eu não consigo, seguir em frente!).
Eles tocaram o refrão novamente e terminaram a música. O ginásio ficou claro novamente e Thur colocou o violão de lado. Agora eu percebia as pessoas em minha volta.
Thur se levantou da cadeira e deu dois passos para sair do palco. Mas voltou em seguida, e parou na frente do microfone. Olhou para mim e disse, num impulso que eu sabia que estava o matando por dentro:
- Eu ainda te amo. E eu sei que você também me ama.
E saiu do palco, sob fortes aplausos.

Thur fala:

É, eu sei. Eu me humilhei e rebaixei diante de toda a escola. Mas... Foda-se! Era o que eu queria fazer e foi o que eu fiz.
Saí do palco meio zonzo, com todas aquelas luzes estourando na minha cara. Joguei-me nas cadeiras que nos esperavam no backstage e passei a mão pelos cabelos, meio nervoso e meio feliz.
- Caralho, Thur! – Chay exclamou, rindo. – Nós não havíamos combinado isso!
- Você sabe que vão falar disso pelo resto do ano, não sabe? – Maker perguntou.
- É, eu sei...
- Thur! – Aline gritou, chegando com Sophia e Melanie, me sufocando em seu abraço apertado. – Eu quase chorei!
- Hum. – resmunguei, com a cara enfiada no seu ombro. – Nine, eu não consigo respirar!
Ela me soltou, mas não pude respirar por muito tempo, pois Sophia e Melanie resolveram fazer a mesma coisa, me sufocando em seus abraços carinhosos/sufocantes. Elas exclamavam de como eu era fofo e como aquilo fora a coisa mais linda que já viram, a atrás de mim os caras riam até perder o fôlego. Depois de todos os apertões e gritinhos, elas foram dar os parabéns para seus respectivos pares, e eu saí de lá, antes que vomitasse em mim mesmo.
Passei despercebido por todos, pois estavam muito concentrados na banda que se apresentava, – ou será que era no Vj da Mtv que apresentava as bandas? - e saí noite afora. Lembrei-me da festa à fantasia e demorei meu olhar no banco que ficara com Lua.
A noite estava quente e abafada, e as estrelas brilhavam mais do que o normal. E foi por isso que eu decidi descer até o campo de futebol, longe do ginásio e provavelmente escuro e vazio, pois ele deveria estar inundado de luzes estelares.
Eu sempre fora louco por estrelas.
Caminhei chutando as pedras no chão e sentindo a brisa pinicar meu rosto. As mãos no bolso me desequilibravam, e eu quase caí diversas vezes.
E foi quando eu estava descendo as escadas que meu olhos perceberam um vulto no meio do campo. Parei de andar e pisquei algumas vezes, tentando me acostumar com o escuro e esperando que o vulto sumisse, mas não foi exatamente o que aconteceu. Ao contrário. O vulto se mexeu, e eu pude perceber que se tratava de um corpo.
E que corpo!
Pisei na grama sintética e caminhei em silêncio até a garota deitada no chão. Alguma coisa nela me atraía como um imã, e meus pés se movimentaram sozinhos. Só percebi que estava parado em cima dela feito um idiota quando ela se levantou nos cotovelos e me olhou curiosa.
E para minha enorme surpresa, a linda garota que me atraíra era ninguém menos que Lua Blanco.
Claro. A única garota que eu achara gostosa desde Lua tinha que ser a própria Lua. Do jeito que eu era cagado, não poderia mesmo esperar outra coisa.
Nem sei como ela chegara tão rápido assim ali, mas não quis fazer nenhum tipo de comentário idiota para não estragar o momento.
- Oi. – foi a única coisa que eu achei certo dizer.
Ela voltou a jogar os longos cabelos na grama e a observar as estrelas. Sem esperar convites, deitei-me ao seu lado e fiz o mesmo.
Ficamos um bom tempo sem dizer nada, curtindo a respiração um do outro, e quando meu coração parou de bater como um louco, eu disse:
- Quer conversar?
Ela não respondeu prontamente. Mexeu-se ao meu lado e, como se nada tivesse acontecido entre a gente, segurou minha mão entre seus dedos frios.
Fechei os olhos e respirei fundo, enquanto ela falava:
- Thur, eu nunca deixei de te amar. Nem por um segundo sequer. Eu só... Só queria o melhor para você...
- E como o melhor para mim envolve te perder?
- Eu só quis preservar sua vida antes de mim, antes de eu aparecer e ferrar com tudo.
- Lua... – suspirei, apertando sua mão na minha. – Você precisa entender que, felizmente ou infelizmente, depois que você surgiu, nada vai ser como antes. Você... Mudou o mundo como eu conhecia.
- Eu... – ela tentou responder, mas eu não aguentava mais ficar longe dela, e fui mais rápido, pelo menos uma vez na vida. Antes que ela pudesse evitar, meus lábios estavam nos dela.
No começo, o beijo foi intenso, mas de um jeito diferente. Foi um intenso mais no estilo senti-saudades-disso. Nossas mãos continuavam estrelaçadas e minhas língua explorava sua boca, relembrando os bons tempos.
Mas, depois de algum tempo, meus sentidos começaram a ficar mais aguçados, e minha coordenação motora começou a falhar. Nossas respirações ficaram falhadas e o meu instinto masculino – adorando ter Lua nos braços - falou mais alto.
Minhas mãos soltaram suas mãos e se enfiaram em seus cabelos. Ela parou de beijar minha boca e desceu para o pescoço, roçando seus lábios quentes na minha pele gelada, em um contraste delicioso.
Não agüentando mais aquela situação, passei minha perna por cima do seu quadril, me apoiando na grama molhada com os cotovelos, para não machucá-la.
Em cima de nós, as estrelas reluziam, e cada vez mais eu a queria toda para mim.
Lua segurou a barra da minha camiseta e passou os dedos pela linha da minha boxer. Voltei a encontrar nossas bocas e mordi seus lábios. Ela estremeceu e tirou a minha camiseta delicadamente. Enfiei minha mão na sua blusa com força e com a outra mão a virei, e logo ela estava em cima de mim, beijando meu pescoço e acariciando meu tórax. Tirei sua blusa e nós dois ficamos só de calça, ofegando.
Lua escorregou para o lado e novamente eu estava em cima dela, explorando suas curvas com as mãos. Suas unhas deslizavam em minhas costas e eu me arrepiava toda vez que ela gemia. Finalmente, tomei coragem e coloquei as mãos sobre o botão da sua calça, mas ela estava tão entretida mordendo minha orelha – e me deixando louco – que nem reparou. Abri o botão com delicadeza e em seguida puxei o zíper. Lua descolou o quadril da grama e eu puxei a calça, que estava no chão segundos depois. Ela, por sua vez, demorou para tirar as minhas calças, me provocando ao passar a unha pela minha barriga.
- Provoca mesmo! – eu disse, fazendo-a rir. – Mas depois não reclama!
- Reclamar do que, Aguiar? – ela perguntou, passando a língua pelos lábios ao me observar de cima a baixo. – Não tenho nada do que reclamar.
E minha calça se juntou a dela.
Na verdade, era meio estranho pensar que estávamos no maior amasso no meio do campo de futebol só com as roupas íntimas. E acho que alguém lá em cima teve o mesmo pensamento, pois quando eu estava quase abrindo o feixe do seu sutiã, as gotas começaram.
- Porra! SEMPRE TEM ALGUMA COISA PRA ATRAPALHAR? – eu gritei para o nada, indignado. Lua gargalhou embaixo de mim. – E você? Tá rindo por quê? Eu tenho cara de palhaço? Tenho? – gritei de brincadeira para ela, que agora estava no meio de uma crise de risos. Comecei a cutucá-la e ela fez o mesmo, os dois rolando pelo campo e rindo.
Há quanto tempo eu não era feliz daquele jeito?
Ah! Lembrei! 4 meses, 2 semanas e 4 dias.

Lua fala:

- Thur, nós vamos pegar uma pneumonia! – eu gritei, dando vários beijos na sua bochecha. Ele sorriu e afagou meus cabelos encharcados.
- Ótimo. Assim vamos perder a semana de provas.
Admito que em condições normais aquilo não me convenceria. Mas eu estava agarrada em Thur, no meio da maior chuva, só de calcinha e sutiã.
Quem se importa?
- Ok, o que você quer fazer agora? – perguntei.
- Você quer mesmo saber? – ele respondeu, levantando a sobrancelha sugestivamente.
- Ótimo, já que você só consegue pensar em coisas pornográficas, eu sugiro que brinquemos de Pergunta e Resposta.
Thur sorriu do jeito que só ele sabia. Envolveu as pernas no meu quadril e subiu em cima de mim.
- Uma música?
- Basket Case. – respondi, e repeti seu movimento, ficando em cima dele. As gotas caíam com tudo nas minhas costas, mas, não sei como, eu ainda estava quente. – Um filme?
- De volta para o futuro. [N/A: Clichêzinho básico pra não perder o costume.] – ele novamente subiu em cima de mim. – Um lugar?
- Qualquer um com você. – respondi, e ele sorriu mostrando todos os dentes. Beijei levemente seus lábios e continuei a brincadeira. – Um sonho?
- Tenho 2. – ele respondeu, e eu assenti com a cabeça para ele continuar. – O primeiro é ver o McFLY dar certo e fazer sucesso. O segundo...
- O segundo? – perguntei, quando ele parou de falar e ficou me observando. Seus cabelos molhados caíam nos olhos e ele tremia de frio, o que o deixava incrivelmente lindo e sexy. – O segundo eu não posso te contar... Ainda! – completou, quando viu minha cara de cão sem dono. – Algum dia eu te conto.
- Eu vou me lembrar disso. – respondi, e ele se curvou e mordeu carinhosamente meus lábios.
E de repente eu nem me lembrava mais de todos os problemas. Na verdade, eu só queria ficar ali com Thur e colar meu coração de volta, pedaço por pedaço.
Mas quem foi que disse que a vida é cor-de-rosa?

Continua....

Créditos: Raissa

Um comentário:

  1. ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ posta mais to muuito apegada *-*

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