
- O quinto elemento
Thur fala:
- Hum, Lu, não acha melhor voltar para casa? – perguntei, depois do longo silêncio que fizemos. Lua estava deitada ao meu lado olhando para o céu escuro e tenebroso. E eu já estava ficando congelado por ficar ali só de boxers, deitado na grama úmida e com o vento batendo na minha pele molhada. – Sua mãe deve estar preocupada.
Ela suspirou e virou o rosto para mim, ficando na altura do meu ombro. Virei também e ela me olhou com aqueles olhões grandes de bebê no fundo da minha alma.
É, dude, quando eu digo que aquela garota era influente, não estou mentindo.
- Eu não quero voltar para casa. – murmurou, como uma criancinha mimada. – Vai ser muito doloroso.
- Tudo bem, então vamos ficar mais um pouco aqui. – sugeri, passando as mãos por meus braços, tentando aquecê-los.
- Mas você está congelando! – ela exclamou, dando um beijo em meu ombro. – Vem, vamos para sua casa. – disse, se levantando e me estendendo a mão. – Eu ligo pra Melanie ou pra alguma das meninas e fico na casa delas...
- Não. – eu disse, me levantando também. – Você fica lá em casa.
- Ah, claro, e você acha que seus amigos não vão perceber nada entre a gente? – ela perguntou, colocando a camiseta por cima do sutiã molhado. – “Hey gente, a Lu veio chorar no meu ombro e agora ela vai dormir no sofá!”
Não seria bem no sofá...
- Nada a ver. De manhã eu explico o que aconteceu. Não precisa se preocupar, eles ainda vão achar que nós nos odiamos. – a acalmei.
- Mesmo...? – ela perguntou, piscando os cílios de um jeito surpreendentemente sexy. Fiz uma careta para ela daquele jeito que as mães fazem para os nenês quando eles peidam pela primeira vez e apertei sua bochecha.
- Claro que sim, coisa fofa!
- Obrigada. – ela disse, envolvendo os braços na minha cintura e afundando a cabeça no meu peito. Achei aquilo engraçado, mas não comentei nada. Sabe como é, a menina estava mal e eu ia ficar zoando ela, tipo: “HAHAHA, SUA CRIANCINHA!”. Então só fiquei ali, parado.
Eu não era a melhor pessoa para os outros se consolarem, mas por ela eu estava tentando.
- Então vamos? – perguntei, quando ela levantou a cabeça.
- Vamos.
Andamos abraçados pela rua deserta pulando as lindas no chão. De vez em quando, Lua pulava errado e eu dava um cascudo em sua cabeça. Quando eu errava ela me dava uma mordida na bochecha. Bem aquelas brincadeiras daqueles casais gays que eu sempre achei ridículas.
Agora eu sabia porque eles faziam aquilo. E eu estava fazendo igual.
Merda.
- Ah, esqueci de te contar! Enquanto vocês estavam fofocando na sua casa depois da festa, nós, homens, machos dominantes, os fodões, os...
- Pára de chatice! – ela exclamou, entortando o nariz.
- Então, nós, os fodas, - ela me olhou bravinha e eu ri – ligamos para uma casa na Argentina que os donos alugam na alta temporada e nós vamos esquiar!
- Mas Micael não queria ir pra Suíça? – ela perguntou.
- Em julho na Suíça é tipo, quente. – respondi, não tendo muita certeza daquilo.
- Quem disse? – ela perguntou, e eu senti que ela também não sabia a resposta.
- Ah, sei lá, só sei que na Argentina é frio e é pra lá que nós vamos! – respondi, e ela gargalhou.
- Sabia que era só procurar no Google, né?
- Ah, foda-se. – disse, entortando a boca.
- Ok, então, Argentina, aí vamos nós!
Continuamos conversando e andando, até meu celular – que eu nem sei como tinha ido parar na minha calça – começou a vibrar.
- Espera aí. – pedi, tirando o aparelho do bolso. Nem vi quem era e antendi. – Alô?
- E aí, Thur, como vai o passeio noturno? – uma voz chiada a anasalada perguntou.
- Quem tá falando? – perguntei, apreensivo, parando de andar. Fiquei preocupado, não por mim, mas por Lua estar comigo. A voz do outro lado ficou em silêncio. – Quem tá falando, PORRA!? – gritei a última palavra, e isso fez ela ficar de frente para mim e gesticular perguntando o que estava acontecendo.
- Não precisa se preocupar, Thur. Eu não vou fazer nada com você. Nem com sua namorada, se é isso que você tem medo. – a voz riu, ironicamente.
- O que você quer? – perguntei, me aproximando de Lua e segurando sua mão.
- Nada, quero saber como você está. Tudo bem com você?
- Caralho, dá pra parar com isso? – pedi, virando os olhos. – Por que você tá me perseguindo? Quem é você? O que eu fiz pra você?
- Dicas só no blog meu querido, só no blog...
- Então eu vou desligar.
- Se você desligar eu vou tirar uma foto de vocês agora e postar amanhã no blog.
Comecei a olhar em volta. Quem morava por ali?
A pessoa só podia estar me observando de 6 casas, que era o número de casas na rua. Na primeira moravam um casal e dois filhos pequenos. Descartada. Na segundava, morava uma senhora e seus 20 gatos. Descartada. Na terceira morava... Quem morava na terceira? Apertei os olhos, tentando me lembrar. E foi quando me atingiu em cheio. Marcus! Marcus morava naquela casa!
- Então, diz aí, você está me perseguindo porque é apaixonada ou apaixonado por mim, ou algo assim? – perguntei. Lua arqueou a sobrancelha.
- Pode ser que sim, pode ser que não... – a voz respondeu, rindo.
- Sabe que o Maker é bem mais bonito do que eu. Sabe, com toda aquela pinta de lord inglês... – disse, e a voz riu.
- Todos vocês são bonitos.
Olhei mais uma vez em volta. Na quarta casa morava um cara separado e sozinho. Descartada. Na quinta casa morava um casal com três filhos pequenos também. Descartada. Na sexta casa morava um casal com dois filhos adolescentes. E um deles eram John.
“Merda!” pensei.
Agora, qual dos dois seria?
- E então, Thur, como é ser famoso?
- E porque isso te interessa? – perguntei, procurando algum vulto nas janelas das duas casas ou qualquer coisa parecida. Nada. Dava voltas em mim mesmo e Lua me olhava com curiosidade. – Você é algum tipo de maníaco obsessivo que tem inveja do sucesso dos outros?
Ela continuava a ouvir a conversa completamente pasma.
Tudo bem, estávamos molhados e eu falava como um louco – com um louco – ao celular no meio de uma rua vazia.
Era compreensivo...
- Não, nada disso, eu só quero saber... Mas você sabe que se não descobrir quem eu sou até o final do ano, vai ter que aproveitar muito sua fama agora, porque depois, bye bye amigos, bye bye namorada e bye bye fama!
- Vai se foder. – murmurei, me segurando para não gritar. – Seu viado, por que você não mostra a cara e me encara como homem!
- E quem disse que eu sou homem? – a voz perguntou, rindo novamente.
- O mesmo serve se você for mulher. – respondi, ficando cada vez mais bravo.
- Bom, Thur, foi ótimo conversar com você. – ele/ela disse, todo animadinho/a – Tenha um bom resto de noite com a sua amante. Só espero que Bella não descubra! Beijos, meu lindão!
E desligou.
Estendi o braço e fiquei olhando com cara de idiota para o celular, tentando descobrir quem seria. Mas fui interrompido por Lua.
- O que aconteceu?
- É uma longa história. – disse, tentando fugir do assunto.
- Eu tenho todo o tempo do mundo. – ela respondeu.
Lua fala:
- Então ele ou ela disse que vai tirar tudo que você tem se você não descobrir até o final do ano quem ele ou ela é? – perguntei, recapitulando na minha cabeça tudo que Thur havia contando.
- É. Basicamente.
- E como ele ou ela pretende fazer isso?
- Não sei. – ele respondeu, parando quando chegamos à sua casa. Apoiou-se no muro da casa do vizinho e eu parei na sua frente. – Mas não sei se posso me dar o luxo de não acreditar. Eu não quero perder tudo que tenho. – então ele se virou e me olhou no fundo da alma, com aquele sorrisinho torto que eu já disse milhões de vezes que amava. Talvez ele lesse mentes e soubesse daquilo, porque era só ele sorrir daquele jeito que eu quase me desmanchava na sua frente.
- Você não vai perder tudo o que você tem. – eu disse, sorrindo para ele.
- Eu... – ele começou a dizer, mas parou.
- Fala, Thur. – pedi, e ele balançou a cabeça.
- Quando eu era menor, meu pai costumava dizer que tudo que um homem conquistava em muitos anos, poderia perder em alguns segundos. E isso meio que entrou na minha cabeça. E eu realmente estou com medo de perder meus amigos, perder o que eu amo fazer, que é a música, e perder você, Lu. – ele parou e eu me aproximei dele, segurando sua mão. – Porque nós dois sempre nos gostamos, mas só agora eu tenho você, mesmo que esse ter seja um meio ter, mas eu sei que tenho você. Eu sei que você me ama o tanto que eu te amo, e que não é pouco. Então eu não sei se suportaria te perder. Te perder pra sempre.
- Thur! – exclamei, bagunçando seus cabelos. – Isso não vai acontecer! Seus amigos te amam, a música é seu dom, e fama já está começando a te perseguir e eu...? – ele levantou a cabeça das nossas mãos entrelaçadas. – Eu sempre vou estar com você. Mesmo que for em pensamente. Porque você pode ter certeza que sempre que pensar em mim eu vou estar pensando em você.
Ele sorriu e eu sorri junto. Uma brisa gelada bateu e eu me arrepiei.
- Vem, vamos entrar. – ele sugeriu, se desencostando do muro e me puxando pela mão. – Você se incomoda de dormir na minha cama?
- Não. Mas e você, vai dormir aonde? – perguntei, estranhando. Ele soltou uma gargalhada anasalada e respondeu:
- Na minha cama.
- E sua cama é de...? – perguntei.
- Casal. – ele respondeu, e eu suspire aliviada. – Não precisa se preocupar, eu não vou abusar de você nem nada.
Não que eu não quisesse.
- Espero que esteja falando a verdade.
- Crianças não mentem. – ele respondeu, abrindo a porta com cuidado. Entramos e ele pediu silêncio, levando o dedo indicador aos lábios. Obedeci e nós subimos lentamente até seu quarto. Ele fechou a porta com cuidado e sussurrou:
- Pega uma camiseta aí, prometo que não olho.
Dei um tapinha na sua testa e olhei em volta. Reparei que era a primeira vez que entrava no quarto de Thur.
Ele era incrivelmente e totalmente bagunçado. Havia meias por todo lado e pôsters apinhados nas paredes. Em cima da escrivaninha, um computador, milhões de revistas, o material da escola e alguns livros alheios. Pelo chão, figurinhas, garrafas de cerveja e muitas manchas no carpete. Manchas e furos de cigarro. As portas e gavetas do armário marrom escuro estavam abertas e roupas eram praticamente expulsas de lá. Na sua janela, vários adesivos, um mais idiota que o outro. E em uma das paredes, alguns rabiscos.
Mas sua cama era, de longe, o pior do quarto.
Seu edredom estava todo embolado e amassado. O travesseiro estava no chão. Debaixo do colchão saíam revistas – de mulher pelada. Eca. – e mais meias. E algumas cuecas. E ao lado da cama, seu violão e guitarra estavam descansando em pedestais. Um amplificador estava ao lado e, debaixo da cama, uma monstruosidade de coisas estavam acumuladas, e eu fiquei com medo de saber o que exatamente.
- Meu Deus. – foi a única coisa que eu consegui dizer.
- Está meio bagunçado, eu sei... – ele disse, tirando o moletom úmido.
Meio?
- Você consegue mesmo dormir aqui? – perguntei, pulando algumas meias e garrafas de cerveja para chegar ao seu armário. Ele jogou o moletom junto com a camiseta no chão – e que barriga era aquela? – e respondeu, indiferente:
- Claro. É só fechar os olhos.
Agachei-me em frente ao armário e fucei em sua gaveta, procurando a maior camiseta possível. Achei uma vermelha gigante e mandei ele olhar para o outro lado. Ele me obedeceu e eu tirei minha blusa e camiseta rapidamente, colocando a dele por cima. Nem sei porquê para falar a verdade. Ele já havia me visto várias vezes – ok, duas – de calcinha e sutiã.
Mas sei lá, era diferente.
Ah, foda-se. Eu era estranha.
Tirei minha calça e a sua camiseta bateu um pouco acima do meu joelho. Virei-me para Thur e ele já estava na cama, olhando para o teto. Pulei mais algumas nojeiras do chão e me joguei ao seu lado. Ele passou o braço por debaixo do meu pescoço e nós ficamos olhando para umas estrelas brilhates que estavam coladas no seu teto.
- Você é realmente louco por estrelas. – eu disse. Ele murmurou alguma coisa em resposta, com a voz sonolenta. Fechei meus olhos, tentando não me lembrar do assunto pai-voltando-com-irmão e relaxei em seu braço. Thur se remexeu ao meu lado e puxou o edredom até nossos pescoços. Depois se virou de lado e passou o braço na minha barriga. Virei-me de lado e coloquei meu braço em cima do seu.
- Thur? – chamei.
- Hmmm? – ele murmurou, quase dormindo.
- Nós precisamos limpar seu quarto.
Mais tarde. Ou mais cedo. Quem se importa?
Abri os olhos sem vontade. A claridade que entrava pela janela me fez fechá-los novamente. Virei-me de lado e senti um frio estranho nas pernas. Lembrei-me que usava só uma camiseta de Thur, então abri os olhos novamente, preguiçosamente, e dei de cara com uma foto dele com uma senhora sorridente de um lado e um senhor divertido do outro. Olhei em volta para ver se estava sozinha no quarto. Positivo. Dobrei-me toda para pegar o porta-retratos e o trouxe para junto dos meus olhos. Segurava-o em cima da cabeça e analisava as três pessoas na foto. Eles pareciam felizes. Uma família feliz. E eu subitamente fiquei com a estranha sensação de... Inveja.
Eu também queria uma família feliz.
Abracei a foto e apertei as pálpebras.
- Mas ela vai, tipo, morar aqui? – ouvi a voz abafada de Chay perguntar. Coloquei a foto de volta no criado-mudo e me virei de lado, fingindo estar dormindo. – Por mim tudo bem, eu não sou de recusar mulher bonita e essas coisas, mas... – a porta fez um clic e sua voz ficou mais nítida. – Onde ela vai dormir?
- Hoje ela dormiu na minha cama e eu dormi no sofá... – Thur respondeu.
Ah, que mentirinha mais inocente!
- É, mas você não pode dormir no sofá pra sempre. E se ela resolver ficar um ano por aqui!? – foi a vez de Micael dar sua opinião sobre a garota semi-nua que dormia na cama ali, na frente deles.
No caso, eu.
- Ela pode dormir no quarto de visitas. – Maker sugeriu.
- E quem vai tirar todo o lixo de lá? – Chay perguntou.
- Qual é, dudes, isso não é um problema. Em meia hora a gente faz isso! – Thur parecia aborrecido.
- Eu tenho medo do que vou encontrar lá... – Micael sussurrou mais para ele mesmo do que para os outros, mas como estava mais perto da cama, eu ouvi. E me segurei para não rir.
- Nossa, Aguiar, quem vê pensa que você tá doidinho para ter uma nova moradora em casa! – Maker ironizou.
- Claro, meu sonho de consumo!
Segurei o riso mais uma vez.
- Ok, quem vai acordar ela? – Chay perguntou.
- Eu que não. Ouvi dizer que as mulheres são assustadoras quando acordam... – Micael sussurrou, receoso, fazendo Maker rir.
- Claro, elas acordam com vontade de comer tripas! – disse, e eu ouvi um barulho oco do soco que Micael deu em seu braço.
- Parem com isso, suas bixonas! – Thur pediu, sentando-se na cama. – Lua. Ow, Lua. – ele me empurrava para frente e para trás, e eu comecei todo meu teatro. Deitei-me de barriga para cima, abri um olho só e me espreguicei. Depois abri o outro e olhei para Thur, que tinha um sorriso adorável estampando dos lábios.
- O que foi, Aguiar? – perguntei, puxando o edredom para cima, cobrindo minhas pernas. Chay entortou a boca e Micael pareceu desapontado. Maker riu da reação dos meninos.
- É assim que você me trata depois que eu acordo no meio da madrugada pra te ajudar? – ele perguntou, trocando olhares subentendidos comigo. – Ok, Blanco, deixa você...
- Não, desculpe... – pedi, e os outros abriram discretamente a boca. Thur me olhou curioso e eu completei: - Se sou tão chata assim, Aguiar, mas quem mandou você ser um babaca que realmente acorda de madrugada quando alguém chama?
Os meninos suspiraram, aliviados.
Depois eram as garotas que adoravam uma fofoca.
Hum...
- Hum, Lu, o que exatamente aconteceu? – Maker perguntou, sentando-se ao lado de Thur e de frente para mim. – Pra você estar dormindo na cama do Thur e tals...
- Ah. – deixei escapar, e abaixei os olhos. Não sei se estava preparada para falar.
- É porque ela não vive sem mim. Vocês já deveriam saber disso... – Thur me ajudou. Os meninos riram e eu sorri, agradecida.
- Claro, e meu nome é Avagina! – disse, e eles riram mais ainda.
- Bom, Avagina, o que você quer de café-da-manhã? – Chay perguntou.
- Sei lá. Eu tenho medo de comer alguma coisa por aqui. – respondi, me levantando e colocando uma boxer de Thur que eu puxei de uma gaveta aberta. – Vai que eu morro...
Eles não responderam nada. Estavam muito mais ocupados em me observar. Maker com a sobrancelha levantada, Micael com a testa franzida, Chay com a boca torta e Thur com um olhar de bravo.
Ahhh, ele estava com ciúmes!
Que coisa mais fofa!
E gay.
- O quê? – perguntei, tentando parecer inocente.
- Coloca uma roupa, menina. – Chay exclamou, pegando minha calça no chão e jogando em cima de mim. – Não tem dó dos seus amigos comprometidos?
- Ah, vão se foder. As minhas amigas são tão gostosas como eu! – respondi, tirando a boxer e enfiando minha calça nas pernas.
- É, mas elas não estão aqui agora... – Maker respondeu.
- Você é um ótimo namorado, Wash. – Thur disse, irritado. Levantou-se e olhou para a janela, como sempre com as mãos nos bolsos, sua marca registrada ao ficar nervoso.
- Hey, eu até dei uma aliança para a Aline! – ele exclamou, não percebendo que Thur estava bravo e com ciúmes.
Como ele poderia saber?
- Hum, meninos, vocês não tem um show às 16h? Porque, sabe como é, já são 14:38h. – disse, tentando mudar de assunto.
- Táqueopariu! – Chay exclamou. – O show!
- Ai meu Deus! – foi a vez de Maker parecer uma garotinha ao acabar de ouvir que o RBD acabou [N/A: HAHAHAHA, não resisti!]. – O show!
- Run, Maker, run! – Micael gritou, empurrando-o porta afora. Chay foi correndo atrás e quase caiu no meio do caminho. Thur assistia a cena se divertindo, mas quando nós dois ficamos sozinhos no quarto, ele não conseguiu dizer nada.
- Aaah, vai me dizer que ficou com ciúmes, Aguiar! – eu disse, ficando de frente para ele, que virou o rosto como uma criança mimada. – Pára com isso, são seus amigos, e eles namoram minhas amigas! – pedi, passando o dedo pela gola da sua camiseta. Ele me pegou pela cintura e disse, ainda como uma criança mimada:
- Estão namorando mas não estão mortos. E já assistiram filmes pornôs o suficiente para imaginar muita coisa ao ver uma garota de boxers.
- Pára com isso, seu bobo! – pedi, juntando meu corpo ao dele, para ver se com isso ele parava com aquele ciúmes sem noção. E meio que funcionou – ah, a sedução feminina e todas essas merdas – porque ele deixou escapar um sorriso e virou os olhos. Aproveitei para empurrá-lo para dentro do banheiro. – Agora anda logo, que você tem um show para fazer hoje!
Ele entrou e tirou a camiseta, deixando seu abdômem amostra.
Ai, que homem!
Ok, isso ficou meio minha-mãe-suspirando-pelo-Bono-Vox.
Mas, quer saber?
Foda-se.
- Hey, hey, hey! – ele exclamou, me puxando pelo braço quando eu tentei sair do banheiro. Virei-me e ele veio todo cheio de manha. – Não ganho um beijo de bom dia?
- Que bom dia o que, Thur! Já são quase 15h! – respondi, fazendo doce. – E eu não posso ficar pelos cantos te beijando. E se algum dos meninos descobrir? Nós estamos ferr...
Mas meu discurso ético foi meio que boicotado por seus lábios, que se juntaram aos meus com uma certa urgência.
Thur me beijou com tanta intensidade que eu tive que me apoiar na batente da porta para não cair.
Sabe como é, um beijo pode fazer isso com você.
Ele enfiou as duas mãos no meu cabelo e me forçou na batente, encaixando as duas pernas no meio das minhas, subindo o corpo pelo meu quando o beijo começou a esquentar. Sua respiração estava muito ofegante e ele me beijava com força.
- Thur!? – Chay gritou lá de baixo, nos atrapalhando. Separei-me na mesma hora e Thur balançou a cabeça, saindo do banheiro às pressas, sem olhar para trás.
Achei estranho, mas não questionei. Meu coração ainda estava acelerado daquele beijo que demos.
E que beijo.
- Que é? – ele gritou de volta, na porta do quarto.
- Micael grampeou o dedo. – Chay respondeu, e eu comecei a rir do banheiro. E ri mais ainda ao ouvir Chay completar: - De novo.
Thur virou os olhos, como se aquilo acontecesse todos os dias, e começou a sair pela porta. Mas eu o impedi, correndo até ele e o pegando pelo braço.
- Não, deixa. Eu vou. – disse, fazendo ele se virar para mim. – Vai se arrumar, eu tiro o grampo do dedo do Micael.
Thur me olhou de um jeito esquisito.
Mas eu também estava com aquele olhar estampado no rosto. Eu não conseguia ler sua expressão, como consegui tantas outras vezes, e ele não conseguia ler a minha.
Era tudo muito esquisito. O cotidiano dos meninos, o jeito como eles se conheciam tão bem, a cumplicidade deles e tudo o mais.
Mas, acima de tudo, achei muito estranho aquele beijo.
Porque ele não era um beijo comum, onde rolaria no máximo um amasso com umas mãos bobas.
Não.
Aquele fora um beijo com muito mais do que isso.
E eu achei aquilo estranho. Muito estranho.
E parece que Thur também tinha achado, porque continuou me olhando esquisito e respondeu:
- Ok.
Só isso.
Então eu saí do banheiro e ele entrou, fechando a porta atrás de si.
Fiquei encarando o chão.
Muito esquisito...
Thur fala:
“Merda, Thur! Ela dorme em casa um dia e você já está pensando nessas coisas?” eu pensava comigo mesmo embaixo do chuveiro, me esfregando com muita força. A água quente levava pelo ralo a ardência da minha pele, mas não os pensamentos. Não. Eles ainda giravam pela minha cabeça, junto com o beijo.
E que beijo!
Eu jurei a mim mesmo. Sabe como é. “Não vá tentar fazer nada, Aguiar, ela só está passando por alguns problemas e logo vai embora. Mesmo se quisesse, não teria cabeça para isso!”. Mas não, eu com meus pensamentos nefastos e Thur Jr. com a sua... Hum... Vontade, tínhamos que estragar tudo!
Será que ela tinha percebido?
E se percebeu, será que sabia que fora só um impulso?
Ah, Aguiar, seu pervetido!
- “She's got a lip ring and five colours in her hair! Not into fashion but I love the clothes she wears! Her tattoo's always hidden by her underwear, but she don't care!” (Ela tem um piercing no lábio e cinco cores no cabelo! Não dentro da moda, mas eu amo as roupas que ela usa! A tatoo dela sempre escondida pela calcinha, ela não liga!). – ouvi algumas vozes distantes cantarem. Apurei os ouvidos e permaneci em silêncio. – “Everybody wants to know her name! I threw a house party and she came! Everyone asked me: Who the hell is she? That weirdo with five colours in her hair!” (Todos querem saber seu nome! Eu a convidei para uma festa e ela veio! Todos me perguntaram: Quem diabos é ela? Aquela estranha com cinco cores no cabelo!).
“Mas que merda é essa?”, pensei, desligando o chuveiro para ouvir melhor.
- “She's just a loner with a sexy atittude! I'd like to phone her cos she puts me in the mood! The rumours spreading that she cooks in the nude! She don't care, she don't care!” (Ela é apenas uma solitária com uma atitude sexy! Eu gostaria de telefonar para ela, porque ela me deixa de bom humor! Tem boatos que ela cozinha pelada! Ela não liga, ela não liga!). - fiquei ouvindo mais um pouco e finalmente tive a brilhante idéia de sair do box. Enrolei uma toalha no quadril e abri a porta do banheiro, deixando o vapor escapar e ouvindo as vozes femininas mais nitidamente. Andei devagar até a janela, como se aquilo fosse algum tipo de ataque extraterrestre, e ao chegar lá, abri minha boca.
Não era um ataque extraterrestre.
Era bem mais estranho.
Ali, paradas no meu jardim, umas 30 meninas berravam Five Colours In Her Hair, gritavam nossos nomes e arrancavam pedaço dos guys que estavam lá no meio, tentando dar autógrafos.
Não que eles não estivessem gostando.
Coloquei a roupa que tinha separado para o show, tentei secar meu cabelo com a toalha – em vão, pois ele continuou pingando – e desci as escadas correndo, parando para respirar ao chegar na porta de entrada. Lua estava lá, e, quando as meninas me perceberam parado ali, ela se curvou como se tirasse um fiapo da camiseta e sussurrou:
- Boa sorte.
E logo depois sua voz doce e calma foi substituída por gritos e choros na minha mente. Pisquei os olhos algumas vezes e, quando dei por mim, estava no meio das meninas, assinando papéis, E.P's, fotos, camisetas, tênis e, hum, sutiãs. Meninas me puxavam por todos os lados e os barulhos de fotos tiradas estouravam em volta de mim. Tentei sorrir, mas deconfio que minha cara tenha ficado mais ou menos: 'Putaqueopariu, o que tá acontecendo?'.
- Mas que porra é essa? - perguntei, quando a maré de meninas me arrastaram para perto de Maker Ele sorriu meio torto, com duas fãs – hots, diga-se de passagem – nos braços e respondeu, baixinho:
- Acho que alguém espalhou por aí onde nós moramos!
- Sério!? Nem tinha percebido! - respondi, e ele me mostrou o dedo do meio, voltando a atenção a duas – não as que estavam agarradas a ele, mas outras duas – meninas que queriam tirar uma foto beijando a bochecha dele dos dois lados.
Dei mais alguns autógrafos e tirei mais algumas fotos e Chay veio até mim pela maré.
- Thur...! - ele arfou, com uma menina meio... Avantajada, agarrada a ele. - Eu sou forte... Mas... Nem tanto... - ele ia parando para respirar, enquanto a menina se apoiava cada vez mais nele. - Me salva...!
Mas nem foi preciso pedir. Ao me ver, a menina deu um urro, largou Chay e veio se atirar em mim. Ele suspirou aliviado e foi atender algumas fãs de uns 10 anos no máximo, que queriam porque queriam um beijo dele.
Aaah, esse Chay Pedófilo Suede.
Ficamos ali por uns 15 minutos, atendendo todas as fãs e tentando não dar muuuuita atenção para uma ou outra que, bem, poderia ser resumida em uma palavra: Hot!
O que foi recompensado, pois quando Melanie, Aline e Sophia encostaram com o carro de Melanie na porta de casa, nós estávamos conversando com algumas meninas que podiam ser resumidas em duas palavras: Nada hot.
- Bom, meninas, agora nós realmente temos que ir! - Maker gritou mais alto que os gritos das meninas, olhando para o relógio e para a cara de Aline, que não era a das melhores.
Elas murmuraram um “Aaaaaaah!” e começaram a desgrudar de nós, lentamente.
- É, nós temos um show e se não corrermos, ele vai começar sem a gente! - Micael completou, e elas riram. - Então, vocês vão estar lá?
“Siiiim!”.
Ótimo, quanto mais fãs, mais grana.
Não vou ser hipócrita. Desde que Five Colours começou a circular nas rádios e nós começamos a dar shows mais grandes, nossas contas estavam um pouco mais... Cheias.
Um pouco? Meu pai havia me ligado para perguntar se eu estava roubando bancos ou algo do tipo!
- Até lá então! - Chay exclamou, seguindo Maker até o conversível vermelho. Eu e Micael fomos atrás e subimos no carro. Esperamos Lua caminhar calmamente – como se algumas fãs lunáticas não estivessem nos observando e prontas para dar o bote – até o carro das meninas, esperamos elas bateram as portas com força – ciúmes? - e esperamos elas saírem disparadas pela rua, para, finalmente, sair da garagem.
As fãs nos seguiram com o olhar e Micael e Chay gritaram um animado:
- Tchaaaaau!
E o imbecil do Micael completou:
- Voltem sempre!
- Cala boca, Borges! - Maker exclamou, dando um tapa na cabeça dele. - Seu jumento! Elas podem realmente achar que nós queremos serenatas em plena luz do dia!
- Certo, qual dos dois retardados mentais contou para alguma fã aonde nós moramos? - perguntei, me virando para trás para encarar Micael e Chay.
- Hey! Por que o Wash não pode ter contado? - Chay perguntou, fazendo bico igualzinho uma criancinha.
- É, por que o Maker não pode ter contado!? - Micael repetiu, imitando o gesto do amigo.
- Porque o Maker não tem problemas mentais como vocês dois! - respondi, e eles riram.
- Eu não disse nada a ninguém. Nem minha mãe sabe aonde eu moro... - Micael respondeu, virando os olhos e passando a mão pelos cabelos molhados, tentando colocá-los no lugar.
- Eu não disse nada. Eu nem sei o nome da nossa rua! - Chay disse. - Qual é?
- Meu Deus, dude, morre! - eu respondi, me sentando direito. Olhei para Maker que dirigia sem olhar para a rua, e sim para o retrovisor, e perguntei:
- E você, mocinha, disse alguma coisa?
- Bem... - ele suspirou. - Eu posso ter dito alguma coisa...
- AHÁ! - Micael e Chay comemoraram, batendo as mãos a gritando “Hi-Five!”.
- Como assim pode ter dito alguma coisa? - perguntei, arqueando a sobrancelha. Maker suspirou e respondeu:
- Bem, eu posso ter dito alguma coisa para aquela mocinha que me vendeu a aliança... Qual era o nome dela? Sue? Sandra? Samantha?
- Suzannah, seu imbecil. - respondi, dando um tapa na minha própria testa. - Você achou mesmo que ela não iria espalhar a informação!?
- Qual é, Aguiar, nós nem éramos famosos! - ele respondeu, olhando para mim e deixando o carro balançar um pouco.
- Falou aí, sr. Eu Sou Famoso! - respondi, dando um soco de leve no seu ombro.
- Agora fodeu. Nós vamos ter que trocar de casa, de país e quem sabe mudar para a Lua! - Chay disse do banco de trás. Eu e Micael olhamos para ele, que fez uma cara de: “O quê? Que que eu fiz?”, e nós dois demos um tapa na sua cabeça quase ao mesmo tempo.
- Bom, acho que nossa maior preocupação agora não são as fãs lunáticas, e sim as nossas... - Maker começou a dizer.
- Namoradas! - Micael, Chay e Maker exclamaram juntos, se lembrando repentimante delas.
Eu olhei para o outro lado e desconfio que fiz a mesma cara de desesperado que eles estavam fazendo.
Lua fala:
- Filhos da puta. - Melanie exclamou, enfiando um Cd do Simple Plan de qualquer jeito no rádio do carro. - São uns cafajestes que não podem ver uma bunda!
- E peitos! - Aline completou, passando gloss enfurecidamente na boca. - Vocês viram a cara de feliz que eles estavam fazendo!? Viram!?
- São uns... Uns... Aaaah, uns desgraçados, cuzões e escrotos! - Sophia disse, com muita raiva, apertando a bolsa contra o corpo. - Nem sei como nós podemos namorar uns losers como eles!
- Veados... - Melanie sussurrou, apertando o volante.
- Gente, calma! - eu pedi, tentando não rir da situação. - Não foram eles que chamaram as fãs ali! Elas simplesmente apareceram!
- Como você sabe? - Aline perguntou.
- E o quê você estava fazendo lá, por falar nisso!? - Sophia perguntou também, cuspindo as palavras.
- Bom, isso não vem ao caso... - eu respondi, fechando os olhos.
Depois de todo aquele rolo, tinha até me esquecido de o porquê eu estava ali. Mas a imagem do meu pai voltando com meu irmão veio a tona, e eu me senti tonta. Mas antes que alguma delas pudesse perceber alguma coisa, eu abri os olhos e continuei: - Mas eu estava ali quando elas chegaram, e sei que nenhum deles as chamou ali!
Elas ficaram em silêncio.
- Qual é, meninas, agora eles estão ficando famosos, eles vão ter fãs grudadas aos pés 26 horas por dia. Vocês, como namoradas, têm que entender isso! E dar apoio! Não soltar vespas pela boca cada vez que alguma menina se aproximar deles!
- Falar é fácil, Lu. Mas você não namora algum deles para saber. - Aline disse. - Nem ao menos gosta de algum deles, para saber como é ruim!
Bom, tecnicamente...
- Ah, parem com isso! Eles amam vocês! - murmurei, tentando fugir do assunto Lua-não-ama-ninguém.
- Amam, até alguma fã mais gostosa aparecer. - Melanie suspirou, um pouco mais calma.
- Relaxem, meus amores. Daqui há uma semana e seis dias nós vamos para a Argentina esquiar e tudo vai ficar bem! - eu tentei acalmá-las.
- Argentina!? - elas exclamaram juntas.
- Era pra ser uma surpresa, então quando eles falarem, finjam estarem surpresas. - respondi, e elas deram alguns gritinhos abafados.
- Argentina! Ai, que sonho! - Sophia suspirou.
- E o que aconteceu com a Suíça? - Melanie perguntou.
- Ah, não sei... - respondi, com medo de parecer uma idiota completa por não saber se em julho era frio na Suíça. - Eles acharam melhor Argentina. E eu também acho. Os argentinos são uns gatos!
- Isso é verdade... - Aline pareceu desanimada. - Mas o que nós podemos fazer com um bando de argentinos gatos e nossos namorados!?
- E é por isso que eu estou solteira! - respondi.
Bom, tecnicamente...
- ARGENTINA! - nós quatro gritamos ao mesmo tempo, e caímos na risada, esquecendo um pouco a raiva que estávamos sentindo dos guys.
Porque sim, eu também estava com um pouco de ciúmes.
Mas só um pouco.
Fomos rindo até o local do show, e, quando entramos no backstage, eles já haviam entrado no palco. As meninas iam à loucura e nós assistíamos ao show com os olhos brilhantes ao ver nossos homens ali, todos fofinhos, famosos e desejados.
NOT!
Quando o show acabou, eles saíram pelas laterais e deram de cara com a gente. E parece que todo o discurso “Não liguem para as fãs, eles amam vocês!” que eu tinha dado mais cedo não adiantara nada, por que elas olharam para eles com raiva e caminharam em silêncio ao camarim. Os meninos se cutucavam e as meninas se entreolhavam. Mais atrás, eu e Thur nos olhávamos e tentávamos não rir, o que estava sendo um desafio e tanto.
- McFLY! - umas fãs que já esperavam no camarim gritaram quando eles entraram. As meninas me olharam com raiva e eu sussurrei nas costas de Micael, antes de ele ir falar com as fãs:
- Nós vamos para a casa da Aline, vou dormir lá hoje. Amanhã nos falamos na escola.
Micael se virou, me deu um beijo na bochecha e sussurrou de volta:
- Me salva. Não quero perder a namorada!
Sorri para ele e me virei, saindo pela porta. Mas antes de sair, joguei um beijo no ar para Thur, quando ninguém olhava. Ele pegou o beijo no ar e guardou no bolso. Mandou outro e eu guardei no decote – porque eu havia me trocado no carro. Nunca que eu iria de calça jeans e camiseta em um show daqueles.
Eu andava com losers, mas continuava louca por maquiagem como sempre.
Bom, só sei que eu não iria dormir na casa deles porque não sei se conseguiria depois daquele beijo de mais cedo. Sabe como é, dormir ao lado de Thur não seria a melhor idéia.
Mas eu teria que voltar para lá de qualquer jeito. Não poderia ficar na casa de Aline para sempre. E nem voltaria para minha própria casa tão cedo.
Então eu era, definitivamente, o quinto elemento na casa dos meninos.
Só restava saber se isso era bom ou ruim.
Continua...
- Hum, Lu, não acha melhor voltar para casa? – perguntei, depois do longo silêncio que fizemos. Lua estava deitada ao meu lado olhando para o céu escuro e tenebroso. E eu já estava ficando congelado por ficar ali só de boxers, deitado na grama úmida e com o vento batendo na minha pele molhada. – Sua mãe deve estar preocupada.
Ela suspirou e virou o rosto para mim, ficando na altura do meu ombro. Virei também e ela me olhou com aqueles olhões grandes de bebê no fundo da minha alma.
É, dude, quando eu digo que aquela garota era influente, não estou mentindo.
- Eu não quero voltar para casa. – murmurou, como uma criancinha mimada. – Vai ser muito doloroso.
- Tudo bem, então vamos ficar mais um pouco aqui. – sugeri, passando as mãos por meus braços, tentando aquecê-los.
- Mas você está congelando! – ela exclamou, dando um beijo em meu ombro. – Vem, vamos para sua casa. – disse, se levantando e me estendendo a mão. – Eu ligo pra Melanie ou pra alguma das meninas e fico na casa delas...
- Não. – eu disse, me levantando também. – Você fica lá em casa.
- Ah, claro, e você acha que seus amigos não vão perceber nada entre a gente? – ela perguntou, colocando a camiseta por cima do sutiã molhado. – “Hey gente, a Lu veio chorar no meu ombro e agora ela vai dormir no sofá!”
Não seria bem no sofá...
- Nada a ver. De manhã eu explico o que aconteceu. Não precisa se preocupar, eles ainda vão achar que nós nos odiamos. – a acalmei.
- Mesmo...? – ela perguntou, piscando os cílios de um jeito surpreendentemente sexy. Fiz uma careta para ela daquele jeito que as mães fazem para os nenês quando eles peidam pela primeira vez e apertei sua bochecha.
- Claro que sim, coisa fofa!
- Obrigada. – ela disse, envolvendo os braços na minha cintura e afundando a cabeça no meu peito. Achei aquilo engraçado, mas não comentei nada. Sabe como é, a menina estava mal e eu ia ficar zoando ela, tipo: “HAHAHA, SUA CRIANCINHA!”. Então só fiquei ali, parado.
Eu não era a melhor pessoa para os outros se consolarem, mas por ela eu estava tentando.
- Então vamos? – perguntei, quando ela levantou a cabeça.
- Vamos.
Andamos abraçados pela rua deserta pulando as lindas no chão. De vez em quando, Lua pulava errado e eu dava um cascudo em sua cabeça. Quando eu errava ela me dava uma mordida na bochecha. Bem aquelas brincadeiras daqueles casais gays que eu sempre achei ridículas.
Agora eu sabia porque eles faziam aquilo. E eu estava fazendo igual.
Merda.
- Ah, esqueci de te contar! Enquanto vocês estavam fofocando na sua casa depois da festa, nós, homens, machos dominantes, os fodões, os...
- Pára de chatice! – ela exclamou, entortando o nariz.
- Então, nós, os fodas, - ela me olhou bravinha e eu ri – ligamos para uma casa na Argentina que os donos alugam na alta temporada e nós vamos esquiar!
- Mas Micael não queria ir pra Suíça? – ela perguntou.
- Em julho na Suíça é tipo, quente. – respondi, não tendo muita certeza daquilo.
- Quem disse? – ela perguntou, e eu senti que ela também não sabia a resposta.
- Ah, sei lá, só sei que na Argentina é frio e é pra lá que nós vamos! – respondi, e ela gargalhou.
- Sabia que era só procurar no Google, né?
- Ah, foda-se. – disse, entortando a boca.
- Ok, então, Argentina, aí vamos nós!
Continuamos conversando e andando, até meu celular – que eu nem sei como tinha ido parar na minha calça – começou a vibrar.
- Espera aí. – pedi, tirando o aparelho do bolso. Nem vi quem era e antendi. – Alô?
- E aí, Thur, como vai o passeio noturno? – uma voz chiada a anasalada perguntou.
- Quem tá falando? – perguntei, apreensivo, parando de andar. Fiquei preocupado, não por mim, mas por Lua estar comigo. A voz do outro lado ficou em silêncio. – Quem tá falando, PORRA!? – gritei a última palavra, e isso fez ela ficar de frente para mim e gesticular perguntando o que estava acontecendo.
- Não precisa se preocupar, Thur. Eu não vou fazer nada com você. Nem com sua namorada, se é isso que você tem medo. – a voz riu, ironicamente.
- O que você quer? – perguntei, me aproximando de Lua e segurando sua mão.
- Nada, quero saber como você está. Tudo bem com você?
- Caralho, dá pra parar com isso? – pedi, virando os olhos. – Por que você tá me perseguindo? Quem é você? O que eu fiz pra você?
- Dicas só no blog meu querido, só no blog...
- Então eu vou desligar.
- Se você desligar eu vou tirar uma foto de vocês agora e postar amanhã no blog.
Comecei a olhar em volta. Quem morava por ali?
A pessoa só podia estar me observando de 6 casas, que era o número de casas na rua. Na primeira moravam um casal e dois filhos pequenos. Descartada. Na segundava, morava uma senhora e seus 20 gatos. Descartada. Na terceira morava... Quem morava na terceira? Apertei os olhos, tentando me lembrar. E foi quando me atingiu em cheio. Marcus! Marcus morava naquela casa!
- Então, diz aí, você está me perseguindo porque é apaixonada ou apaixonado por mim, ou algo assim? – perguntei. Lua arqueou a sobrancelha.
- Pode ser que sim, pode ser que não... – a voz respondeu, rindo.
- Sabe que o Maker é bem mais bonito do que eu. Sabe, com toda aquela pinta de lord inglês... – disse, e a voz riu.
- Todos vocês são bonitos.
Olhei mais uma vez em volta. Na quarta casa morava um cara separado e sozinho. Descartada. Na quinta casa morava um casal com três filhos pequenos também. Descartada. Na sexta casa morava um casal com dois filhos adolescentes. E um deles eram John.
“Merda!” pensei.
Agora, qual dos dois seria?
- E então, Thur, como é ser famoso?
- E porque isso te interessa? – perguntei, procurando algum vulto nas janelas das duas casas ou qualquer coisa parecida. Nada. Dava voltas em mim mesmo e Lua me olhava com curiosidade. – Você é algum tipo de maníaco obsessivo que tem inveja do sucesso dos outros?
Ela continuava a ouvir a conversa completamente pasma.
Tudo bem, estávamos molhados e eu falava como um louco – com um louco – ao celular no meio de uma rua vazia.
Era compreensivo...
- Não, nada disso, eu só quero saber... Mas você sabe que se não descobrir quem eu sou até o final do ano, vai ter que aproveitar muito sua fama agora, porque depois, bye bye amigos, bye bye namorada e bye bye fama!
- Vai se foder. – murmurei, me segurando para não gritar. – Seu viado, por que você não mostra a cara e me encara como homem!
- E quem disse que eu sou homem? – a voz perguntou, rindo novamente.
- O mesmo serve se você for mulher. – respondi, ficando cada vez mais bravo.
- Bom, Thur, foi ótimo conversar com você. – ele/ela disse, todo animadinho/a – Tenha um bom resto de noite com a sua amante. Só espero que Bella não descubra! Beijos, meu lindão!
E desligou.
Estendi o braço e fiquei olhando com cara de idiota para o celular, tentando descobrir quem seria. Mas fui interrompido por Lua.
- O que aconteceu?
- É uma longa história. – disse, tentando fugir do assunto.
- Eu tenho todo o tempo do mundo. – ela respondeu.
Lua fala:
- Então ele ou ela disse que vai tirar tudo que você tem se você não descobrir até o final do ano quem ele ou ela é? – perguntei, recapitulando na minha cabeça tudo que Thur havia contando.
- É. Basicamente.
- E como ele ou ela pretende fazer isso?
- Não sei. – ele respondeu, parando quando chegamos à sua casa. Apoiou-se no muro da casa do vizinho e eu parei na sua frente. – Mas não sei se posso me dar o luxo de não acreditar. Eu não quero perder tudo que tenho. – então ele se virou e me olhou no fundo da alma, com aquele sorrisinho torto que eu já disse milhões de vezes que amava. Talvez ele lesse mentes e soubesse daquilo, porque era só ele sorrir daquele jeito que eu quase me desmanchava na sua frente.
- Você não vai perder tudo o que você tem. – eu disse, sorrindo para ele.
- Eu... – ele começou a dizer, mas parou.
- Fala, Thur. – pedi, e ele balançou a cabeça.
- Quando eu era menor, meu pai costumava dizer que tudo que um homem conquistava em muitos anos, poderia perder em alguns segundos. E isso meio que entrou na minha cabeça. E eu realmente estou com medo de perder meus amigos, perder o que eu amo fazer, que é a música, e perder você, Lu. – ele parou e eu me aproximei dele, segurando sua mão. – Porque nós dois sempre nos gostamos, mas só agora eu tenho você, mesmo que esse ter seja um meio ter, mas eu sei que tenho você. Eu sei que você me ama o tanto que eu te amo, e que não é pouco. Então eu não sei se suportaria te perder. Te perder pra sempre.
- Thur! – exclamei, bagunçando seus cabelos. – Isso não vai acontecer! Seus amigos te amam, a música é seu dom, e fama já está começando a te perseguir e eu...? – ele levantou a cabeça das nossas mãos entrelaçadas. – Eu sempre vou estar com você. Mesmo que for em pensamente. Porque você pode ter certeza que sempre que pensar em mim eu vou estar pensando em você.
Ele sorriu e eu sorri junto. Uma brisa gelada bateu e eu me arrepiei.
- Vem, vamos entrar. – ele sugeriu, se desencostando do muro e me puxando pela mão. – Você se incomoda de dormir na minha cama?
- Não. Mas e você, vai dormir aonde? – perguntei, estranhando. Ele soltou uma gargalhada anasalada e respondeu:
- Na minha cama.
- E sua cama é de...? – perguntei.
- Casal. – ele respondeu, e eu suspire aliviada. – Não precisa se preocupar, eu não vou abusar de você nem nada.
Não que eu não quisesse.
- Espero que esteja falando a verdade.
- Crianças não mentem. – ele respondeu, abrindo a porta com cuidado. Entramos e ele pediu silêncio, levando o dedo indicador aos lábios. Obedeci e nós subimos lentamente até seu quarto. Ele fechou a porta com cuidado e sussurrou:
- Pega uma camiseta aí, prometo que não olho.
Dei um tapinha na sua testa e olhei em volta. Reparei que era a primeira vez que entrava no quarto de Thur.
Ele era incrivelmente e totalmente bagunçado. Havia meias por todo lado e pôsters apinhados nas paredes. Em cima da escrivaninha, um computador, milhões de revistas, o material da escola e alguns livros alheios. Pelo chão, figurinhas, garrafas de cerveja e muitas manchas no carpete. Manchas e furos de cigarro. As portas e gavetas do armário marrom escuro estavam abertas e roupas eram praticamente expulsas de lá. Na sua janela, vários adesivos, um mais idiota que o outro. E em uma das paredes, alguns rabiscos.
Mas sua cama era, de longe, o pior do quarto.
Seu edredom estava todo embolado e amassado. O travesseiro estava no chão. Debaixo do colchão saíam revistas – de mulher pelada. Eca. – e mais meias. E algumas cuecas. E ao lado da cama, seu violão e guitarra estavam descansando em pedestais. Um amplificador estava ao lado e, debaixo da cama, uma monstruosidade de coisas estavam acumuladas, e eu fiquei com medo de saber o que exatamente.
- Meu Deus. – foi a única coisa que eu consegui dizer.
- Está meio bagunçado, eu sei... – ele disse, tirando o moletom úmido.
Meio?
- Você consegue mesmo dormir aqui? – perguntei, pulando algumas meias e garrafas de cerveja para chegar ao seu armário. Ele jogou o moletom junto com a camiseta no chão – e que barriga era aquela? – e respondeu, indiferente:
- Claro. É só fechar os olhos.
Agachei-me em frente ao armário e fucei em sua gaveta, procurando a maior camiseta possível. Achei uma vermelha gigante e mandei ele olhar para o outro lado. Ele me obedeceu e eu tirei minha blusa e camiseta rapidamente, colocando a dele por cima. Nem sei porquê para falar a verdade. Ele já havia me visto várias vezes – ok, duas – de calcinha e sutiã.
Mas sei lá, era diferente.
Ah, foda-se. Eu era estranha.
Tirei minha calça e a sua camiseta bateu um pouco acima do meu joelho. Virei-me para Thur e ele já estava na cama, olhando para o teto. Pulei mais algumas nojeiras do chão e me joguei ao seu lado. Ele passou o braço por debaixo do meu pescoço e nós ficamos olhando para umas estrelas brilhates que estavam coladas no seu teto.
- Você é realmente louco por estrelas. – eu disse. Ele murmurou alguma coisa em resposta, com a voz sonolenta. Fechei meus olhos, tentando não me lembrar do assunto pai-voltando-com-irmão e relaxei em seu braço. Thur se remexeu ao meu lado e puxou o edredom até nossos pescoços. Depois se virou de lado e passou o braço na minha barriga. Virei-me de lado e coloquei meu braço em cima do seu.
- Thur? – chamei.
- Hmmm? – ele murmurou, quase dormindo.
- Nós precisamos limpar seu quarto.
Mais tarde. Ou mais cedo. Quem se importa?
Abri os olhos sem vontade. A claridade que entrava pela janela me fez fechá-los novamente. Virei-me de lado e senti um frio estranho nas pernas. Lembrei-me que usava só uma camiseta de Thur, então abri os olhos novamente, preguiçosamente, e dei de cara com uma foto dele com uma senhora sorridente de um lado e um senhor divertido do outro. Olhei em volta para ver se estava sozinha no quarto. Positivo. Dobrei-me toda para pegar o porta-retratos e o trouxe para junto dos meus olhos. Segurava-o em cima da cabeça e analisava as três pessoas na foto. Eles pareciam felizes. Uma família feliz. E eu subitamente fiquei com a estranha sensação de... Inveja.
Eu também queria uma família feliz.
Abracei a foto e apertei as pálpebras.
- Mas ela vai, tipo, morar aqui? – ouvi a voz abafada de Chay perguntar. Coloquei a foto de volta no criado-mudo e me virei de lado, fingindo estar dormindo. – Por mim tudo bem, eu não sou de recusar mulher bonita e essas coisas, mas... – a porta fez um clic e sua voz ficou mais nítida. – Onde ela vai dormir?
- Hoje ela dormiu na minha cama e eu dormi no sofá... – Thur respondeu.
Ah, que mentirinha mais inocente!
- É, mas você não pode dormir no sofá pra sempre. E se ela resolver ficar um ano por aqui!? – foi a vez de Micael dar sua opinião sobre a garota semi-nua que dormia na cama ali, na frente deles.
No caso, eu.
- Ela pode dormir no quarto de visitas. – Maker sugeriu.
- E quem vai tirar todo o lixo de lá? – Chay perguntou.
- Qual é, dudes, isso não é um problema. Em meia hora a gente faz isso! – Thur parecia aborrecido.
- Eu tenho medo do que vou encontrar lá... – Micael sussurrou mais para ele mesmo do que para os outros, mas como estava mais perto da cama, eu ouvi. E me segurei para não rir.
- Nossa, Aguiar, quem vê pensa que você tá doidinho para ter uma nova moradora em casa! – Maker ironizou.
- Claro, meu sonho de consumo!
Segurei o riso mais uma vez.
- Ok, quem vai acordar ela? – Chay perguntou.
- Eu que não. Ouvi dizer que as mulheres são assustadoras quando acordam... – Micael sussurrou, receoso, fazendo Maker rir.
- Claro, elas acordam com vontade de comer tripas! – disse, e eu ouvi um barulho oco do soco que Micael deu em seu braço.
- Parem com isso, suas bixonas! – Thur pediu, sentando-se na cama. – Lua. Ow, Lua. – ele me empurrava para frente e para trás, e eu comecei todo meu teatro. Deitei-me de barriga para cima, abri um olho só e me espreguicei. Depois abri o outro e olhei para Thur, que tinha um sorriso adorável estampando dos lábios.
- O que foi, Aguiar? – perguntei, puxando o edredom para cima, cobrindo minhas pernas. Chay entortou a boca e Micael pareceu desapontado. Maker riu da reação dos meninos.
- É assim que você me trata depois que eu acordo no meio da madrugada pra te ajudar? – ele perguntou, trocando olhares subentendidos comigo. – Ok, Blanco, deixa você...
- Não, desculpe... – pedi, e os outros abriram discretamente a boca. Thur me olhou curioso e eu completei: - Se sou tão chata assim, Aguiar, mas quem mandou você ser um babaca que realmente acorda de madrugada quando alguém chama?
Os meninos suspiraram, aliviados.
Depois eram as garotas que adoravam uma fofoca.
Hum...
- Hum, Lu, o que exatamente aconteceu? – Maker perguntou, sentando-se ao lado de Thur e de frente para mim. – Pra você estar dormindo na cama do Thur e tals...
- Ah. – deixei escapar, e abaixei os olhos. Não sei se estava preparada para falar.
- É porque ela não vive sem mim. Vocês já deveriam saber disso... – Thur me ajudou. Os meninos riram e eu sorri, agradecida.
- Claro, e meu nome é Avagina! – disse, e eles riram mais ainda.
- Bom, Avagina, o que você quer de café-da-manhã? – Chay perguntou.
- Sei lá. Eu tenho medo de comer alguma coisa por aqui. – respondi, me levantando e colocando uma boxer de Thur que eu puxei de uma gaveta aberta. – Vai que eu morro...
Eles não responderam nada. Estavam muito mais ocupados em me observar. Maker com a sobrancelha levantada, Micael com a testa franzida, Chay com a boca torta e Thur com um olhar de bravo.
Ahhh, ele estava com ciúmes!
Que coisa mais fofa!
E gay.
- O quê? – perguntei, tentando parecer inocente.
- Coloca uma roupa, menina. – Chay exclamou, pegando minha calça no chão e jogando em cima de mim. – Não tem dó dos seus amigos comprometidos?
- Ah, vão se foder. As minhas amigas são tão gostosas como eu! – respondi, tirando a boxer e enfiando minha calça nas pernas.
- É, mas elas não estão aqui agora... – Maker respondeu.
- Você é um ótimo namorado, Wash. – Thur disse, irritado. Levantou-se e olhou para a janela, como sempre com as mãos nos bolsos, sua marca registrada ao ficar nervoso.
- Hey, eu até dei uma aliança para a Aline! – ele exclamou, não percebendo que Thur estava bravo e com ciúmes.
Como ele poderia saber?
- Hum, meninos, vocês não tem um show às 16h? Porque, sabe como é, já são 14:38h. – disse, tentando mudar de assunto.
- Táqueopariu! – Chay exclamou. – O show!
- Ai meu Deus! – foi a vez de Maker parecer uma garotinha ao acabar de ouvir que o RBD acabou [N/A: HAHAHAHA, não resisti!]. – O show!
- Run, Maker, run! – Micael gritou, empurrando-o porta afora. Chay foi correndo atrás e quase caiu no meio do caminho. Thur assistia a cena se divertindo, mas quando nós dois ficamos sozinhos no quarto, ele não conseguiu dizer nada.
- Aaah, vai me dizer que ficou com ciúmes, Aguiar! – eu disse, ficando de frente para ele, que virou o rosto como uma criança mimada. – Pára com isso, são seus amigos, e eles namoram minhas amigas! – pedi, passando o dedo pela gola da sua camiseta. Ele me pegou pela cintura e disse, ainda como uma criança mimada:
- Estão namorando mas não estão mortos. E já assistiram filmes pornôs o suficiente para imaginar muita coisa ao ver uma garota de boxers.
- Pára com isso, seu bobo! – pedi, juntando meu corpo ao dele, para ver se com isso ele parava com aquele ciúmes sem noção. E meio que funcionou – ah, a sedução feminina e todas essas merdas – porque ele deixou escapar um sorriso e virou os olhos. Aproveitei para empurrá-lo para dentro do banheiro. – Agora anda logo, que você tem um show para fazer hoje!
Ele entrou e tirou a camiseta, deixando seu abdômem amostra.
Ai, que homem!
Ok, isso ficou meio minha-mãe-suspirando-pelo-Bono-Vox.
Mas, quer saber?
Foda-se.
- Hey, hey, hey! – ele exclamou, me puxando pelo braço quando eu tentei sair do banheiro. Virei-me e ele veio todo cheio de manha. – Não ganho um beijo de bom dia?
- Que bom dia o que, Thur! Já são quase 15h! – respondi, fazendo doce. – E eu não posso ficar pelos cantos te beijando. E se algum dos meninos descobrir? Nós estamos ferr...
Mas meu discurso ético foi meio que boicotado por seus lábios, que se juntaram aos meus com uma certa urgência.
Thur me beijou com tanta intensidade que eu tive que me apoiar na batente da porta para não cair.
Sabe como é, um beijo pode fazer isso com você.
Ele enfiou as duas mãos no meu cabelo e me forçou na batente, encaixando as duas pernas no meio das minhas, subindo o corpo pelo meu quando o beijo começou a esquentar. Sua respiração estava muito ofegante e ele me beijava com força.
- Thur!? – Chay gritou lá de baixo, nos atrapalhando. Separei-me na mesma hora e Thur balançou a cabeça, saindo do banheiro às pressas, sem olhar para trás.
Achei estranho, mas não questionei. Meu coração ainda estava acelerado daquele beijo que demos.
E que beijo.
- Que é? – ele gritou de volta, na porta do quarto.
- Micael grampeou o dedo. – Chay respondeu, e eu comecei a rir do banheiro. E ri mais ainda ao ouvir Chay completar: - De novo.
Thur virou os olhos, como se aquilo acontecesse todos os dias, e começou a sair pela porta. Mas eu o impedi, correndo até ele e o pegando pelo braço.
- Não, deixa. Eu vou. – disse, fazendo ele se virar para mim. – Vai se arrumar, eu tiro o grampo do dedo do Micael.
Thur me olhou de um jeito esquisito.
Mas eu também estava com aquele olhar estampado no rosto. Eu não conseguia ler sua expressão, como consegui tantas outras vezes, e ele não conseguia ler a minha.
Era tudo muito esquisito. O cotidiano dos meninos, o jeito como eles se conheciam tão bem, a cumplicidade deles e tudo o mais.
Mas, acima de tudo, achei muito estranho aquele beijo.
Porque ele não era um beijo comum, onde rolaria no máximo um amasso com umas mãos bobas.
Não.
Aquele fora um beijo com muito mais do que isso.
E eu achei aquilo estranho. Muito estranho.
E parece que Thur também tinha achado, porque continuou me olhando esquisito e respondeu:
- Ok.
Só isso.
Então eu saí do banheiro e ele entrou, fechando a porta atrás de si.
Fiquei encarando o chão.
Muito esquisito...
Thur fala:
“Merda, Thur! Ela dorme em casa um dia e você já está pensando nessas coisas?” eu pensava comigo mesmo embaixo do chuveiro, me esfregando com muita força. A água quente levava pelo ralo a ardência da minha pele, mas não os pensamentos. Não. Eles ainda giravam pela minha cabeça, junto com o beijo.
E que beijo!
Eu jurei a mim mesmo. Sabe como é. “Não vá tentar fazer nada, Aguiar, ela só está passando por alguns problemas e logo vai embora. Mesmo se quisesse, não teria cabeça para isso!”. Mas não, eu com meus pensamentos nefastos e Thur Jr. com a sua... Hum... Vontade, tínhamos que estragar tudo!
Será que ela tinha percebido?
E se percebeu, será que sabia que fora só um impulso?
Ah, Aguiar, seu pervetido!
- “She's got a lip ring and five colours in her hair! Not into fashion but I love the clothes she wears! Her tattoo's always hidden by her underwear, but she don't care!” (Ela tem um piercing no lábio e cinco cores no cabelo! Não dentro da moda, mas eu amo as roupas que ela usa! A tatoo dela sempre escondida pela calcinha, ela não liga!). – ouvi algumas vozes distantes cantarem. Apurei os ouvidos e permaneci em silêncio. – “Everybody wants to know her name! I threw a house party and she came! Everyone asked me: Who the hell is she? That weirdo with five colours in her hair!” (Todos querem saber seu nome! Eu a convidei para uma festa e ela veio! Todos me perguntaram: Quem diabos é ela? Aquela estranha com cinco cores no cabelo!).
“Mas que merda é essa?”, pensei, desligando o chuveiro para ouvir melhor.
- “She's just a loner with a sexy atittude! I'd like to phone her cos she puts me in the mood! The rumours spreading that she cooks in the nude! She don't care, she don't care!” (Ela é apenas uma solitária com uma atitude sexy! Eu gostaria de telefonar para ela, porque ela me deixa de bom humor! Tem boatos que ela cozinha pelada! Ela não liga, ela não liga!). - fiquei ouvindo mais um pouco e finalmente tive a brilhante idéia de sair do box. Enrolei uma toalha no quadril e abri a porta do banheiro, deixando o vapor escapar e ouvindo as vozes femininas mais nitidamente. Andei devagar até a janela, como se aquilo fosse algum tipo de ataque extraterrestre, e ao chegar lá, abri minha boca.
Não era um ataque extraterrestre.
Era bem mais estranho.
Ali, paradas no meu jardim, umas 30 meninas berravam Five Colours In Her Hair, gritavam nossos nomes e arrancavam pedaço dos guys que estavam lá no meio, tentando dar autógrafos.
Não que eles não estivessem gostando.
Coloquei a roupa que tinha separado para o show, tentei secar meu cabelo com a toalha – em vão, pois ele continuou pingando – e desci as escadas correndo, parando para respirar ao chegar na porta de entrada. Lua estava lá, e, quando as meninas me perceberam parado ali, ela se curvou como se tirasse um fiapo da camiseta e sussurrou:
- Boa sorte.
E logo depois sua voz doce e calma foi substituída por gritos e choros na minha mente. Pisquei os olhos algumas vezes e, quando dei por mim, estava no meio das meninas, assinando papéis, E.P's, fotos, camisetas, tênis e, hum, sutiãs. Meninas me puxavam por todos os lados e os barulhos de fotos tiradas estouravam em volta de mim. Tentei sorrir, mas deconfio que minha cara tenha ficado mais ou menos: 'Putaqueopariu, o que tá acontecendo?'.
- Mas que porra é essa? - perguntei, quando a maré de meninas me arrastaram para perto de Maker Ele sorriu meio torto, com duas fãs – hots, diga-se de passagem – nos braços e respondeu, baixinho:
- Acho que alguém espalhou por aí onde nós moramos!
- Sério!? Nem tinha percebido! - respondi, e ele me mostrou o dedo do meio, voltando a atenção a duas – não as que estavam agarradas a ele, mas outras duas – meninas que queriam tirar uma foto beijando a bochecha dele dos dois lados.
Dei mais alguns autógrafos e tirei mais algumas fotos e Chay veio até mim pela maré.
- Thur...! - ele arfou, com uma menina meio... Avantajada, agarrada a ele. - Eu sou forte... Mas... Nem tanto... - ele ia parando para respirar, enquanto a menina se apoiava cada vez mais nele. - Me salva...!
Mas nem foi preciso pedir. Ao me ver, a menina deu um urro, largou Chay e veio se atirar em mim. Ele suspirou aliviado e foi atender algumas fãs de uns 10 anos no máximo, que queriam porque queriam um beijo dele.
Aaah, esse Chay Pedófilo Suede.
Ficamos ali por uns 15 minutos, atendendo todas as fãs e tentando não dar muuuuita atenção para uma ou outra que, bem, poderia ser resumida em uma palavra: Hot!
O que foi recompensado, pois quando Melanie, Aline e Sophia encostaram com o carro de Melanie na porta de casa, nós estávamos conversando com algumas meninas que podiam ser resumidas em duas palavras: Nada hot.
- Bom, meninas, agora nós realmente temos que ir! - Maker gritou mais alto que os gritos das meninas, olhando para o relógio e para a cara de Aline, que não era a das melhores.
Elas murmuraram um “Aaaaaaah!” e começaram a desgrudar de nós, lentamente.
- É, nós temos um show e se não corrermos, ele vai começar sem a gente! - Micael completou, e elas riram. - Então, vocês vão estar lá?
“Siiiim!”.
Ótimo, quanto mais fãs, mais grana.
Não vou ser hipócrita. Desde que Five Colours começou a circular nas rádios e nós começamos a dar shows mais grandes, nossas contas estavam um pouco mais... Cheias.
Um pouco? Meu pai havia me ligado para perguntar se eu estava roubando bancos ou algo do tipo!
- Até lá então! - Chay exclamou, seguindo Maker até o conversível vermelho. Eu e Micael fomos atrás e subimos no carro. Esperamos Lua caminhar calmamente – como se algumas fãs lunáticas não estivessem nos observando e prontas para dar o bote – até o carro das meninas, esperamos elas bateram as portas com força – ciúmes? - e esperamos elas saírem disparadas pela rua, para, finalmente, sair da garagem.
As fãs nos seguiram com o olhar e Micael e Chay gritaram um animado:
- Tchaaaaau!
E o imbecil do Micael completou:
- Voltem sempre!
- Cala boca, Borges! - Maker exclamou, dando um tapa na cabeça dele. - Seu jumento! Elas podem realmente achar que nós queremos serenatas em plena luz do dia!
- Certo, qual dos dois retardados mentais contou para alguma fã aonde nós moramos? - perguntei, me virando para trás para encarar Micael e Chay.
- Hey! Por que o Wash não pode ter contado? - Chay perguntou, fazendo bico igualzinho uma criancinha.
- É, por que o Maker não pode ter contado!? - Micael repetiu, imitando o gesto do amigo.
- Porque o Maker não tem problemas mentais como vocês dois! - respondi, e eles riram.
- Eu não disse nada a ninguém. Nem minha mãe sabe aonde eu moro... - Micael respondeu, virando os olhos e passando a mão pelos cabelos molhados, tentando colocá-los no lugar.
- Eu não disse nada. Eu nem sei o nome da nossa rua! - Chay disse. - Qual é?
- Meu Deus, dude, morre! - eu respondi, me sentando direito. Olhei para Maker que dirigia sem olhar para a rua, e sim para o retrovisor, e perguntei:
- E você, mocinha, disse alguma coisa?
- Bem... - ele suspirou. - Eu posso ter dito alguma coisa...
- AHÁ! - Micael e Chay comemoraram, batendo as mãos a gritando “Hi-Five!”.
- Como assim pode ter dito alguma coisa? - perguntei, arqueando a sobrancelha. Maker suspirou e respondeu:
- Bem, eu posso ter dito alguma coisa para aquela mocinha que me vendeu a aliança... Qual era o nome dela? Sue? Sandra? Samantha?
- Suzannah, seu imbecil. - respondi, dando um tapa na minha própria testa. - Você achou mesmo que ela não iria espalhar a informação!?
- Qual é, Aguiar, nós nem éramos famosos! - ele respondeu, olhando para mim e deixando o carro balançar um pouco.
- Falou aí, sr. Eu Sou Famoso! - respondi, dando um soco de leve no seu ombro.
- Agora fodeu. Nós vamos ter que trocar de casa, de país e quem sabe mudar para a Lua! - Chay disse do banco de trás. Eu e Micael olhamos para ele, que fez uma cara de: “O quê? Que que eu fiz?”, e nós dois demos um tapa na sua cabeça quase ao mesmo tempo.
- Bom, acho que nossa maior preocupação agora não são as fãs lunáticas, e sim as nossas... - Maker começou a dizer.
- Namoradas! - Micael, Chay e Maker exclamaram juntos, se lembrando repentimante delas.
Eu olhei para o outro lado e desconfio que fiz a mesma cara de desesperado que eles estavam fazendo.
Lua fala:
- Filhos da puta. - Melanie exclamou, enfiando um Cd do Simple Plan de qualquer jeito no rádio do carro. - São uns cafajestes que não podem ver uma bunda!
- E peitos! - Aline completou, passando gloss enfurecidamente na boca. - Vocês viram a cara de feliz que eles estavam fazendo!? Viram!?
- São uns... Uns... Aaaah, uns desgraçados, cuzões e escrotos! - Sophia disse, com muita raiva, apertando a bolsa contra o corpo. - Nem sei como nós podemos namorar uns losers como eles!
- Veados... - Melanie sussurrou, apertando o volante.
- Gente, calma! - eu pedi, tentando não rir da situação. - Não foram eles que chamaram as fãs ali! Elas simplesmente apareceram!
- Como você sabe? - Aline perguntou.
- E o quê você estava fazendo lá, por falar nisso!? - Sophia perguntou também, cuspindo as palavras.
- Bom, isso não vem ao caso... - eu respondi, fechando os olhos.
Depois de todo aquele rolo, tinha até me esquecido de o porquê eu estava ali. Mas a imagem do meu pai voltando com meu irmão veio a tona, e eu me senti tonta. Mas antes que alguma delas pudesse perceber alguma coisa, eu abri os olhos e continuei: - Mas eu estava ali quando elas chegaram, e sei que nenhum deles as chamou ali!
Elas ficaram em silêncio.
- Qual é, meninas, agora eles estão ficando famosos, eles vão ter fãs grudadas aos pés 26 horas por dia. Vocês, como namoradas, têm que entender isso! E dar apoio! Não soltar vespas pela boca cada vez que alguma menina se aproximar deles!
- Falar é fácil, Lu. Mas você não namora algum deles para saber. - Aline disse. - Nem ao menos gosta de algum deles, para saber como é ruim!
Bom, tecnicamente...
- Ah, parem com isso! Eles amam vocês! - murmurei, tentando fugir do assunto Lua-não-ama-ninguém.
- Amam, até alguma fã mais gostosa aparecer. - Melanie suspirou, um pouco mais calma.
- Relaxem, meus amores. Daqui há uma semana e seis dias nós vamos para a Argentina esquiar e tudo vai ficar bem! - eu tentei acalmá-las.
- Argentina!? - elas exclamaram juntas.
- Era pra ser uma surpresa, então quando eles falarem, finjam estarem surpresas. - respondi, e elas deram alguns gritinhos abafados.
- Argentina! Ai, que sonho! - Sophia suspirou.
- E o que aconteceu com a Suíça? - Melanie perguntou.
- Ah, não sei... - respondi, com medo de parecer uma idiota completa por não saber se em julho era frio na Suíça. - Eles acharam melhor Argentina. E eu também acho. Os argentinos são uns gatos!
- Isso é verdade... - Aline pareceu desanimada. - Mas o que nós podemos fazer com um bando de argentinos gatos e nossos namorados!?
- E é por isso que eu estou solteira! - respondi.
Bom, tecnicamente...
- ARGENTINA! - nós quatro gritamos ao mesmo tempo, e caímos na risada, esquecendo um pouco a raiva que estávamos sentindo dos guys.
Porque sim, eu também estava com um pouco de ciúmes.
Mas só um pouco.
Fomos rindo até o local do show, e, quando entramos no backstage, eles já haviam entrado no palco. As meninas iam à loucura e nós assistíamos ao show com os olhos brilhantes ao ver nossos homens ali, todos fofinhos, famosos e desejados.
NOT!
Quando o show acabou, eles saíram pelas laterais e deram de cara com a gente. E parece que todo o discurso “Não liguem para as fãs, eles amam vocês!” que eu tinha dado mais cedo não adiantara nada, por que elas olharam para eles com raiva e caminharam em silêncio ao camarim. Os meninos se cutucavam e as meninas se entreolhavam. Mais atrás, eu e Thur nos olhávamos e tentávamos não rir, o que estava sendo um desafio e tanto.
- McFLY! - umas fãs que já esperavam no camarim gritaram quando eles entraram. As meninas me olharam com raiva e eu sussurrei nas costas de Micael, antes de ele ir falar com as fãs:
- Nós vamos para a casa da Aline, vou dormir lá hoje. Amanhã nos falamos na escola.
Micael se virou, me deu um beijo na bochecha e sussurrou de volta:
- Me salva. Não quero perder a namorada!
Sorri para ele e me virei, saindo pela porta. Mas antes de sair, joguei um beijo no ar para Thur, quando ninguém olhava. Ele pegou o beijo no ar e guardou no bolso. Mandou outro e eu guardei no decote – porque eu havia me trocado no carro. Nunca que eu iria de calça jeans e camiseta em um show daqueles.
Eu andava com losers, mas continuava louca por maquiagem como sempre.
Bom, só sei que eu não iria dormir na casa deles porque não sei se conseguiria depois daquele beijo de mais cedo. Sabe como é, dormir ao lado de Thur não seria a melhor idéia.
Mas eu teria que voltar para lá de qualquer jeito. Não poderia ficar na casa de Aline para sempre. E nem voltaria para minha própria casa tão cedo.
Então eu era, definitivamente, o quinto elemento na casa dos meninos.
Só restava saber se isso era bom ou ruim.
Continua...
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