
- Comprometida sim! Morta? Nunca!
Thur fala:
Terça-feira passou. Quarta-feira também. Quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta e sexta. Todos os dias foram quase os mesmos.
As provas ocupavam todo o nosso tempo. E, em nosso tempo livre, os meninos eram basicamente ignorados pelas namoradas e eu e Lua mantínhamos nosso relacionamento entre quatro paredes.
As do meu quarto, para ser mais exato.
Lá dentro, nós podiamos fazer tudo que desse na telha.
Bem, exceto o que eu realmente queria, mas não vamos falar sobre isso.
Lua dormia no quarto de visitas – que foi devidamente limpo por nós quatro – e, no meio da noite, sempre dava uma escapulida para ir ao meu quarto. [N/A: Calma Katy, isso não foi inspirado em você. Cof cof.].
Tínhamos mais ou menos duas horas juntos por dia. Ou por madrugada. Porque fora do quarto, e pelo resto das horas, éramos amigos de oi e tchau.
Amigos não, no máximo colegas. Mas os olhares trocados por nós dois durante o dia compensavam tudo.
Bella? Não tinha terminado com ela, embora Lua achasse que sim.
Mas, porra, eu não conseguia! Ela simplesmente fazia todas as chantagens emocionais do mundo! E eu? Caía em todas.
É, Aguiar, acho que você nunca mais seria o mesmo...
Ryan? Não voltou a aparecer na escola. Não voltou a aparecer em lugar nenhum, para ser mais exato. Descobri – com ajuda das meninas e dos dudes – que ele e seu pai estavam hospedados no Hotel Ynn, no centro da cidade. Então, quando estávamos com Lua, evitávamos ir até lá.
- Mas eu quero comer uma casquinha de menta no centro! - ela choramingava.
- Não, hoje nós vamos... Ao Barney's! - algum de nós sempre tentava mudar o rumo do local. - Ah, foda-se... - ela sempre acabava concordando.
Josh? Lua terminara com ele, e, desse modo, demonstrava ser mais macho do que eu.
Merda...
Mas ele não se abalou. E eles continuaram amigos.
Amigos, sei... Ele que ficasse de gracinha com a minha garota!
Sra. Blanco? Bom, concordou que Lua morasse com a gente.
Melhor do que morar em um motel qualquer. Pelo menos ela nos conhecia. E como Lua estava mesmo destinada a não falar com a mãe, nada melhor do que morar com os amigos para eles contarem tudo o que estava acontecendo, certo?
Pai da Lua? Nunca tentou contatar a filha.
Pelo menos não naquele momento.
John? Não voltou a enxer o saco.
Marcus? Mais veado do que nunca.
James? Continuava a nos servir no Barney's, e, como sempre, nos dando descontos.
Bob Willians? Sei lá, aquele lá era pirado.
Patrick Fedelso? Continuava a nos deixar cada vez mais ricos e famosos, com shows aos fins de semana. “Quando acabarem o ensino médio, faremos uma turnê mundial. Por agora, somente shows de fins de semana!”
Na verdade, Fedelso era um pai para nós quatro. Nos ensinava todos os truques e macetes do mundo da música. E, como todo pai tinha regras, ele não poderia ser diferente.
As suas eram: nada de largar os estudos, matar aula para fazer show, festas que éramos convidados só de fim de semana e não podíamos chegar depois das 3h e... Bem, nada de drogas. O sexo e rock n' roll era permitido.
Pelo menos isso, certo?
Agora, o que você deve estar querendo saber.
Gossip?
Bem, esse/essa era uma incógnita.
Depois do post das meninas dançando na varanda, ele/ela não voltou a postar.
“Quando voltar da Argentina, estará mais próximo de saber quem eu realmente sou!”
Mas que porra de dica era aquela?
Lua fala:
- Obrigado, meninas! - eu agradeci, pegando as minhas duas malas da mão de Aline. - Ela disse alguma coisa?
- Boa viagem. - Melanie disse, dando de ombros.
- Bom, melhor do que nada... - eu suspirei, jogando as duas malas em cima da minha cama de solteiro.
“Que saudades da minha cama de casal...”, pensei.
Mas do que adiantava uma cama de casal sem o Thur nela?
Pelo menos aquela cama de solteiro tinha história pra contar.
- E Rosa, como ela está? - perguntei, me lembrando subitamente.
- Ah, ela te mandou isso. - Sophia disse, pegando um pacote comprido do bolso do sobretudo e entregando a mim. Desembrulhei-o e sorri, ao ver que dentro do embrulho tinha um spray de pimenta. Um cartão escrito a mão – com uma caligrafia horrível, diga-se de passagem – dizia: “Ouvi dizer que os argentinos são bem tarados. Se cuida, criança. Com amor, Rosa.”
- HAHAHAHAHA, ela te deu um spray de pimenta? Adorei! - Aline disse, rindo.
- Pois é, pelo jeito os argentinos são bem mais tarados do que pensávamos! - exclamei, rindo. Joguei o spray de pimenta em cima da mala e caminhei até a janela. - E aí, vocês sabem de alguma coisa?
- Nada. - Sophia respondeu, parando ao meu lado e olhando na direção do meu olhar. O sol estava se pondo, deixando o céu todo laranja e rosa. Seria lindo, se meu estado de humor não fosse tão ruim. - Lu, vamos fazer uma promessa?
Olhei para o lado e percebi que não só Sophia estava lá. Melanie e Aline também estavam. Levantei a sobrancelha e achei esquisito, mas decidi obedecer minhas amigas. No meu estado frágil, elas deveriam saber o que era melhor para mim.
- Claro. Que tipo de promessa?
- Não vamos ficar na bad por nenhum motivo. - Melanie começou.
- Seja namorado, família, ciúmes ou qualquer outra coisa. - Aline continuou, olhando de volta para o pôr-do-sol.
- E se, por algum motivo, nós não conseguirmos isso... - Sophia disse, fazendo um certo suspense. Elas se entreolharam e Melanie completou:
- As amigas estarão lá para isso!
Sorri e senti lágrimas se formarem embaixo dos meus olhos. Respirei fundo e elas automaticamente sumiram, como sempre acontecia.
Eu tinha as melhores amigas do mundo.
Ficamos um pouco em silêncio, observando o céu passar de laranja para ébano em poucos minutos, até que alguém resolveu se manifestar.
- Ok, agora nós vamos embora. Daqui a pouco os meninos chegam do show e nós não queremos que eles nos vejam aqui. - Sophia suspirou, pegando sua bolsa em cima da minha cama.
- Até amanhã, Lu. Nós vamos passar aqui pra te pegar umas 14h, ok? - Aline perguntou. - Ok. Boa noite, meninas! - exclamei, me apoiando na porta e observando elas descerem as escadas.
Aquela viagem prometia.
Thur fala:
- Todos vocês estão com os passaportes? - Maker gritou do andar de baixo. - Porque eu acabei de dar descarga em um papel que era bem parecido com um.
- Sim! - gritei, ofegante por sair correndo do quarto de visitas para o meu.
- Eu tô com o meu! - Lua gritou do quarto de visitas. Ela colocou a cabeça para fora do quarto ao mesmo tempo que eu coloquei a minha. Ela mostrou a língua para mim e eu mostrei o dedo do meio. Lua sorriu e enfiou a cabeça de volta no quarto.
- O meu tá na cozinha, em cima da geladeira! - Micael gritou do seu quarto.
- O meu tá aqui comigo! - Chay respondeu, saindo só de boxers do quarto.
- Ótimo, então era só um catálogo de comida chinesa. - Maker disse e, logo em seguida, ouvimos o barulho do liquidificador.
Lua saiu do quarto também e trombou com Chay, que pediu desculpas e desceu as escadas.
E isso era um dia rotineiro na nossa casa.
Quatro homens e uma garota. Coisas espalhadas pela casa e pérolas como: “alguém viu minha cueca da sorte?” ou “Lua, você podia fazer o favor de não deixar suas calcinhas espalhadas pela casa?” eram comuns.
Nós pensamos que depois que ela se mudasse para lá, as coisas ficariam mais organizadas.
Mas o que nós não sabíamos era que Lua era pior do que todos nós. Juntos.
Acontecia de tudo um pouco.
E eu rezava todos os dias para que nenhum dos guys entrasse no meu quarto de madrugada.
Mas era por isso que existiam as chaves e as fechaduras.
- Chay! - ela exclamou, enquanto ele descia as escadas como um zumbi. - Você sabe que horas são? Nosso vôo é daqui duas horas! E você está de boxers ainda? - Ah Lu, não enche que eu sei que você acabou de colocar a roupa também. - Chay respondeu, parando na escada e se virando para ela. Eu assistia tudo da porta do meu quarto. - Porque a sua camiseta está no avesso.
Lua olhou para baixo e eu comecei a rir. Então, como se fosse a coisa mais normal, ela tirou a camiseta, desvirou-a e a colocou novamente. Simplesmente. Na frente de mim e de Chay.
Mas Chay só deu de ombros e voltou a descer as escadas.
Queria eu ter o poder de não surtar toda vez que visse minha garota de sutiã.
- Hey, Aguiar. - ela sussurrou. Eu chacoalhei a cabeça e subi o meu olhar para seu rosto. - Fecha a boca senão entra mosca!
- Não enche, sua profana! - brinquei, apontando para seus peitos. - Você acha muito legal fazer isso comigo, né?
Conversávamos entre os sussurros, como sempre tínhamos que fazer quando estávamos em casa.
- Deixa de taradice e vai se trocar! - ela exclamou, sumindo pelo quarto. Ainda fiquei alguns segundos olhando para o chão, sorrindo sozinho como idiota. Mas Chay, que subia as escadas com uma banana nas mãos [N/A: Huuum, Chay com uma banana nas mãos. Conseguem imaginar? xD], fez o favor de me tirar do transe.
- Thur, você vai de boxers e camisa de flanela? - perguntou, apontando para minha camisa com a cabeça. - Sabia que é a última moda em Paris?
- Ah, vai se foder. - murmurei, entrando no quarto. - Chay! - exclamei, e ele apareceu na porta. - Dá pra você tirar a caixa da pizza que você comeu sozinho ontem do meu quarto?
- Nossa, o que ela tá fazendo aí? - ele perguntou, inocente, pegando a caixa. Passou o dedo no catupiry e o levou a boca. - A é, eu tava te ajudando a arrumar a mala.
- Sabe o que eu soube? - perguntei, me lembrando repentinamente do que Lua havia me contando de noite, quando nós dois estávamos observando as estrelas pela janela do meu quarto.
- O quê? - Chay quis saber, pousando a caixa de pizza novamente no mesmo lugar.
- Melanie e as meninas vieram aqui ontem. - respondi, e sorri ao ver a expressão de indiferença e dor se instalar nos olhos de Chay.
- Grande coisa. - respondeu, voltando a passar o dedo pelo catupiry da caixa.
- Meu Deus... - sussurrei, me segurando para não rir. - Como vocês são gays!
- A Lua está morando no mesmo teto que você e você não faz nada e nós que somos gays? - Chay perguntou, pegando a caixa de cima da minha escrivaninha de vez.
Nada, nada, eu não diria.
Mas o que eu realmente queria fazer...
Ok, parece que eu sempre acabo voltando pra esse assunto.
- Cala boca, Chay. Lua é passado. - respondi, virando os olhos. Fechei uma gaveta aberta com o quadril e continuei: - Agora vaza que eu preciso me trocar.
- Falou. Mas depois, quando ela estiver namorando um argentino rico, não diga que eu não avisei. - ele disse, saindo pela porta, arrastando os pés atrás de si.
Porque ela ficaria com um argentino rico se ela tinha um rock star famoso também rico?
Certo?
Certo?
Ouvi a buzina do carro de Melanie tocar duas vezes lá embaixo. Caminhei até a janela com uma lata de cerveja que estava perdida no meu quarto na mão e observei Lua correr até o carro, jogar as duas malas gigantes no porta-malas e entrar no mesmo. As meninas riam sem parar de alguma coisa, daquele jeito histérico e fofo que só elas sabiam fazer, e eu encostei a testa no vidro da janela.
E antes de partir, Lua encostou a própria testa na janela do carro e mostrou a língua para mim.
Aquela viagem prometia.
Lua fala:
Última chamada para o vôo 3450 para a Argentina.
- Ótimo, somos nós! - Sophia piou, animadinha. Estávamos sentadas em uma fileira de bancos azuis de plástico duros, e, do outro lado, os meninos estavam apoiados na parede, conversando entre si.
- Prontos para o massacre? - ouvi Micael perguntar, fazendo os outros três rirem.
- Imbecis. - Aline murmurou, virando os olhos. Em voz alta, perguntou: - Hey, vocês aí, qual o número do assento?
- 122B. - Thur disse. Olhei para o meu papel. 123B.
- Ótimo, agora eu vou ter que viajar com o Aguiar. Simplesmente ótimo. - murmurei, usando meus truques de atriz, sem olhar para ele. Virei o papelzinho na mão e me levantei.
- 15J. - Maker exclamou. - Nossa, longe de vocês eim?
- Ah, só pode ser brincadeira! - Aline virou os olhos. - Eu sou 16J.
- Há. Destino cruel. Obrigado, Deus, por me fazer sentar ao lado... Dela. - Maker disse, com desgosto. Virou a aliança no dedo anular da mão direita – sim, eles ainda estavam de aliança, todos eles – e se desencostou da parede.
- Eu mereço... - Aline assoviou, se levantando também.
- O meu é 89R. - Chay disse, espiando o papelzinho de Melanie. Ela brisava no cartaz gigante de Suflair e não viu ele fazendo isso. Mas abaixou os olhos do cartaz na mesma hora que ele murmurou: - Droga...
Melanie olhou para o seu próprio papel e disse em voz alta, ainda não entendendo porque ele havia xingado:
- 87R. 87R... Ai, seu imbecil! Nem é do seu lado! - ela exclamou, dando com a bolsa de mão no braço de Chay. Ele soltou uma gargalhada anasalada e a empurrou de leve, fazendo-a quase cair do banco. – Ai! Seu idiota!
- Ai! Sua chata! - ele exclamou, imitando a voz dela.
- Vai se foder, Chay. - ela disse, se levantando. Eu e os outros assistíamos de camarote, enquanto os dois se matavam. - Nem sei como pude namorar com você...
- Mas... Nós ainda estamos namorando! - Chay disse, amaciando a voz. Fez uma carinha de gatinho quando ninguém quer fazer carinho e abaixou a cabeça. Acho que Melanie se comoveu com a cena, porque também abaixou a voz e murmurou:
- É. – e antes que aquele silêncio constrangedor pudesse envolver todos ali presentes, ela se levantou em silêncio e saiu batendo os pés até o portão de embarque.
- Isso! Foge mesmo! – Chay sussurrou para ele mesmo, mas mesmo assim foi atrás dela. Os dois sumiram pelo portão e nós nos entreolhamos.
- Uou. - Micael assoviou, franzindo a testa. – Essas férias vão ser interessantes.
- Só falta você me dizer que é 103A. - Sophia ignorou o comentário dele. Micael olhou para o papel e riu. - Que foi?
- Não, não sou não. - ele respondeu, e ela suspirou aliviada. - Sou 101A.
- Ah, brincadeira né? - ela perguntou, arregalando os olhos. Olhei o papel dela. 102A.
Mas que ironia.
Olhei para Thur e ele entortava a boca, como sempre fazia quando tentava não rir.
- Você fez isso? - perguntei, só mexendo os lábios.
- Quem sabe... - ele respondeu, e eu franzi a testa.
- Vai, vamos logo. - Aline pediu, mal humorada. Caminhamos em silêncio até o portão de embarque e, quando chegamos ao avião, cada um foi – resmungando – para os seus assentos.
Na frente, Maker e Aline iam discutindo. Em um reflexo, ele colocou a mão em seu ombro.
Péssimo reflexo.
- Não encosta em mim, Wash. – Aline ordenou, tirando a mão de seu ombro. Ele a colocou no bolso, meio sem graça, e respondeu:
- Então sai da minha frente. – dito isso, passou por ela e sumiu entre os assentos. Aline resmungou e foi atrás, batendo com sua pequena – pequena lê-se aquelas malas de rodinha de tamanho médio – mala “de mão” em todos nas fileiras.
- Ok, até o final da viagem. Se eu não matar o Wash antes. – ela disse, antes de se sentar ao lado dele, que ouvia iPod mal humorado.
- Até mais ver, gente! – disse, passando por eles quando o cara que estava na nossa frente finalmente parou de babar no decote de Aline e resolveu andar.
Passamos por Melanie e Chay, que ouviam iPod e liam livros diferentes.
Melanie lia A Menina Que Roubava Livros [N/A: Eu recomendo. ;D].
Chay lia Coisas Que Toda Garota Deve Saber.
Sim, você não leu errado.
No meio deles, uma mulher de uns 30 anos teclava furiosamente no laptop.
Eles não nos viram, então passamos reto, porque o cara atrás de nós estava ficando impaciente. Sophia e Micael acharam seus assentos e copiaram Chay eMelanie, colocando o fone de ouvido e se ignorando.
Eu e Thur fomos os últimos a nos sentar. Nossos assentos ficavam do outro lado daquela cortininha legal, de modo que nenhum dos nossos amigos iriam até lá, pois o banheiro ficava antes.
- Thur, você nos isolou de todos! – eu reclamei, sentando-me ao seu lado.
- Por que será? – ele perguntou, se curvando e estalando um beijo em meus lábios.
- Ah, então você acha que só porque nos isolou vai poder abusar de mim? – perguntei, roçando meu nariz no dele.
- Hm... – ele coçou a nuca, pensativo. – É.
- Tarado! – exclamei, me contorcendo por ele ter começando a fazer cócegas em mim.
Thur beijava meu pescoço e me fazia cócegas ao mesmo tempo, e eu estava quase sem fôlego de tanto rir.
- Pede penico rosa! Pede penico rosa! – ele ordenava, apertando minha barriga.
- Penico rosa! Peloamordedeus, penico rosa! – eu suspirei de alívio quando ele tirou as mãos de mim.
Sim minha gente, aquele era o tipo de brincadeira que nós fazíamos sozinhos.
Patético.
- Ótimo! – ele sorriu, vitorioso, estralando os dedos. O piloto começou a dizer as coisas de sempre pelo alto-falante e eu fiquei mexendo nos cabelos de Thur, que caíam em seus olhos. Ele fechou os olhos e encostou a cabeça em meu ombro. Fechei os meus também e deixei meu braço cair em cima do meu colo, onde Thur pegou minha mãe e a segurou com carinho. De repente, ouvi o barulho da cortina se abrindo e abri os olhos, soltando a mão de Thur e me sentando direito. Ele desencostou a cabeça do meu ombro no exato momento que um garoto passou pela cortina e foi até nossos assentos.
- E aí! – ele tinha mais ou menos a nossa idade e sorria verdadeiramente, como se estivesse feliz em nos conhecer. – Acho que meu lugar é aqui! – disse, olhando para o papel em suas mãos. – Importam-se?
“Importam-se”? Que tipo de pessoa da nossa idade falava daquele jeito?
- Claro que não. – respondi, sorrindo ao ser contagiada pelo seu bom humor.
Ele tinha a pele morena do sol e sardinhas minúsculos enfeitando seu rosto. Seu sorriso era branco e os dentes perfeitamente alinhados. Os caninos praticamente brilhavam. Seus olhos eram verde-água e sua sobrancelha espessa.
Resumindo. Gato.
Por um momento, esqueci que Thur estava ao meu lado e me perdi em seus olhos verde-água. Ele era... Bonito demais!
- E aí, cara! – Thur disse, estendendo a mão sobre meu colo, me tirando do transe. – Arthur Aguiar.
- Ben Tiller. – ele se apresentou, apertando a mão de Thur sem tirar os olhos de mim. – E você? – perguntou.
- Lua. – respondi, meio grogue.
- Lindo nome. – ele sorriu novamente. Seus caninos ficaram mais uma vez amostra e seu hálito de menta com cigarro soprou em meu rosto.
Eu estava hipnotizada por sua beleza.
E Thur estava ficando com ciúmes, porque pegou minha mão discretamente, para que Ben não pudesse ver, e se remexeu no banco, desconfortável.
Então Ben olhou para Thur e arqueeou a sobrancelha. E os dois começaram a falar ao mesmo tempo:
- Ela é minha...
- Você não é o Thur do...
Dei uma cotovelada em Thur, que parou de falar, e Ben terminou:
- McFLY?
Olhei com o canto dos olhos para ele, que estava com a testa franzida em uma expressão de mau humor, mais lindo do que nunca. Desviei a atenção para Ben, que ainda sorria de um jeito despreocupado, e comecei a realmente achar que estava no céu e os dois anjos mais lindos estavam ao meu lado.
Acho que sorte era pouco naquele momento.
- Hm... – ele pigarreou. – Sim, sou eu.
- Ah, que bom! – ele exclamou, piscando para mim de um jeito amigável. – Por um instante pensei que vocês fossem namorados, mas minha irmãzinha me disse que você namora uma tal de Bella ou sei lá o quê... – senti meu estômago se embrulhar ao ouvir aquele nome desprezível. – Então agora eu sei que você – ele pousou os olhos em mim e eu senti meu rosto corar. Thur apertou minha mão e ele continuou: -, não é namorada dele.
- Acontece que ela é minha... – Thur começou a responder Ben, e dava para sentir sua raiva no ar.
Mas ele não podia dizer. Qualquer que fosse nosso tipo de relacionamento – namorados? Ficantes? Amigos coloridos? –, ele simplesmente não podia dizer. Se ele dissesse, nada impediria que aquele estranho – gostoso, mas estranho – desse com a língua nos dentes.
E que língua!
E que dentes!
- Irmã! – exclamei, antes que ele pudesse respirar e terminar a frase. – Sou a irmã dele!
- E que irmã! – Ben brincou, sorrindo para mim.
E que problema eu iria arranjar...
Thur fala:
Filho... Da... Puta.
Essas três palavras descreviam perfeitamente Ben Tiller.
Minha mão formigava e suava, de tanto apertar a mão de Lua por trás do banco, e eu provavelmente não conseguiria me levantar do assento quando o avião pousasse, devido à posição desconfortável que eu estava.
“Calma, Thur, eles só estão conversando!” o anjinho sussurrava de um lado.
“Calma o caralho, Arthur Aguiar! Se você piscar o olho sua garota vai fugir para Las Vegas e casar com esse protótipo de lobo mau!” o diabinho não deixava a desejar.
Minha cabeça latejava, meu coração nem batia mais e eu sabia que a qualquer momento voaria no pescoço daquele folgado.
Uma gota de suor escorreu pelas minhas costas e eu fechei os olhos, encostando a cabeça no assento.
- Thur? – ouvi Lua chamar baixinho e pensei que fosse minha mente brincando de deixar-o-Thur-louco-e-depois-rir-da-cara-dele. Nem me dei ao trabalho de responder. – Thur?
Apertei os olhos já fechados, lutando para ignorar a voz doce que eu jurava ser uma brincadeira da minha mente corrompida pelo ciúmes.
- Thur, cacete!?
“Opa!” pensei, abrindo os olhos, “Isso é real!”
- Quê? – perguntei, tentando ser o mais arrogante possível.
- O que você tem? – ela perguntou, passando o polegar pela minha bochecha. Por um momento, toda a raiva que eu estava sentindo sumiu, e eu me perdi em seus olhos.
“Me perdi nos seus olhos...”
Que tipo de homem diz isso?
- Nada. – respondi, virando meu rosto. Seu dedo escorregou e bateu em seu colo. – Cadê seu novo amigo? – perguntei, a ironia quase saltando entre minhas palavras.
- No banheiro. – ela respondeu, olhando para baixo e, mais uma vez, senti a raiva se esvair pelo meu suor. – O que eu posso fazer? – ela sussurrou, brava. – Não posso simplesmente sair contando pra todo mundo que nós estamos juntos! Vocês estão ficando famosos! Qualquer informação é informação!
- Mas também não precisa ficar dando em cima do cara! – respondi, me arrependendo instantaneamente por ter falado aquilo.
Eu sabia que estava falando a coisa errada, e que aquilo provavelmente a deixaria triste e magoada, mas o ciúmes praticamente falava por mim.
Por isso, continuei, ignorando a sua expressão triste.
- Sabe como é, mesmo que ninguém saiba de nós dois, eu não saio por aí dando em cima das minhas fãs! – tudo bem que eu ainda estava com Bella, mas ela não precisava saber. Eu queria ganhar a briga de qualquer jeito. Homem é foda, quer sempre ter razão. – Principalmente quando estou do seu lado!
Soltei sua mão e pressionei os nós dos meus dedos.
- Sabe, Thur, você é a pessoa mais insegura que eu já conheci na vida! – ela respondeu às minhas ofensas serenamente, mas sua voz deixava transparecer que estava indignada. – Como você pode achar que eu vou trair você com qualquer estranho? Em um avião, pelo amor de Deus!
Silêncio.
Eu conseguia ouvir aquele barulho de velho-oeste e quase pude ver a bolinha de feno rolando pelo chão.
Não disse mais nada, primeiro porque ainda achava que estava com a razão e que ela que deveria pedir desculpas por dar em cima do cara na minha frente – embora em sua conversa com Ben não passasse de cordialidades – e segundo porque Ben acabara de voltar e já estava falando novamente, com seu jeito irônico de ser.
- Ótimo, aquele banheiro cheirava a suor, merda e cigarro.
- Eca! – Lua respondeu, voltando a sua voz normal, como se não estivesse gritando comigo há alguns segundos.
Enquanto os dois falavam sobre qualquer coisa sem importância, peguei-me pensando na possibilidade de amar tanto Lua que já sabia de cor todos os seus sinais; como quando sempre que estava prestes a chorar, seus lábios se retraíam e ela ficava rígida, impedindo que isso acontecesse, ou como apertava as mãos sempre que tinha algo importante a falar.
Mas, apesar de conhecê-la tanto, naquele momento, quando o ciúmes tomou conta de mim, não peguei um dos sinais cruciais que talvez evitasse que aquela viagem fosse catastrófica. Mas, se tivesse pego sua inquietação no ar, nunca conheceria todos os lados do amor como conheci aquela semana.
Continua....
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