05 maio, 2013

Gossip Boys - 20° capítulos



- Sorry's not good enough


Thur fala:

- A Melanie roubou pão, na casa do João! A Melanie roubou pão, na casa do João! – os sete, menos eu, estavam cantando a plenos pulmões, na Van prateada em que estávamos. Eu não agüentava mais ouvir aquela música, que se repetia várias e várias vezes, como se todos eles fossem crianças na primeira excursão da escola.Ben ia na frente, conversando animadamente com o motorista.Em espanhol.O negócio é que ele nos vira sentandos no acostamento. Na verdade, vira Lua, que ficou em pé, balançando o dedão para ele. Não sei se ela tinha visto que se tratava de Ben Tiller, mas pela sua animação ao chacoalhar a mão, é provável que sim. Então ele parou, abriu o vidro, conversou algum tempo com ela e, em menos de 15 minutos, uma Van prateada estava parando ao nosso lado, para nos levar ao Hotel de seu pai.Sim, Ben tinha uma rede de Hotéis pelo mundo inteiro.Fiquei super feliz em saber que ele era rico. Com certeza alegrou meu dia.Certo...- Quem eu? – Melanie perguntou, finalmente entrando na brincadeira, depois de insistentes tentativas de todos. “Merda...” pensei, virando os olhos. “Perdi mais uma...”- AEEEEEW! – Sophia, Aline, Lua, Chay, Micael e Maker gritaram.- Ok, acho que vocês acabaram de estragar a brincadeira. – ela disse, segurando-se para não rir. Micael, que conseguiu se sentar ao lado de Sophia, abraçou-a pelos ombros e ela, que até aquele momento ainda estava magoada com ele, sorriu, não retirando a mão. Ele piscou para Maker que olhou para Aline, analisando se fazia o mesmo ou não. Chay, ao lado de Melanie, não cogitou a idéia. Sabia que, se fizesse isso, ia receber um soco bem dando no seu provedor de espermatozóides.
Mas não posso negar. Depois que Ben nos resgatara, as coisas estavam ficando melhores.
Merda de Ben...
- Bom, chegamos! – ele disse, virando-se para trás e sorrindo para Lua. Ela sorriu de volta, por educação, e eu me segurei no banco, para não voar na cabeça daquele desgraçado.
A Van parou e ele saiu do banco da frente. Abriu a porta de correr e ficou segurando, até que todos nós saíssemos. Fui o último, deixando meu queixo cair ao ver o tamanho do Hotel. Aliás, eu nunca tinha visto um Hotel mais bonito que aquele.
A fachada era toda rústica, com fontes e um jardim impecável. Para chegar até e porta automática da entrada, tínhamos que passar por um ponte de madeira onde, embaixo, carpas vermelhas reluziam com as moedas ali jogadas.
- Legal, né? – Ben perguntou, sorrindo para mim.
Olhei para ele e não respondi, saindo do carro para a calçada.
“Legal é meu p...” pensei em dizer, mas se a situação não era agradável com Lua depois da nossa briga, as coisas não melhorariam muito depois desse comentário.
Calei-me, como uma criança contrariada.
- Ok, coloquei as meninas em um quarto e os meninos no outro. Meninas quarto 1009 e meninos quarto 3010. Podem subir. – ele explicou, dando uma chave para Micael e uma para Melanie.
- Muito obrigado por estar fazendo isso, Ben! – Lua agradeceu. – Nem sei como agradecer!
- Se vocês estiverem bem acomodados eu estou feliz. – ele disse, como todo bom cavalheiro. Veado. Isso sim que ele era.
Pelo menos eu torcia para isso.
Mas eu não podia discordar. Quem não agradeceria um Hotel daqueles depois de sair daquela casa grotesca?
Caminhamos mais livres do que nunca, sem o peso das malas, que estavam a caminho em um carrinho motorizado. Fazia Sol, mas, mesmo assim, o frio era intenso.
Lua caminhava na frente, ouvindo com atenção o que Ben falava, rindo sem mostrar os dentes.
Fiquei observando seu jeito delicado de andar, seus gestos meticulosos ao falar, seu modo discreto de rir quando estava sem as amigas... Tudo.
Tudo nela me fazia bem.
- Hey, Thur. – Chay me chamou, com um sussurro, desviando minha atenção do quadril de Lua. – O que você acha de levarmos as meninas para fazer compras hoje à noite? – perguntou.
- Como assim? O que você pretende com isso? – perguntei, curioso. Chay sorriu diabolicamente, como se tramasse um plano, e começou a me explicar:
- Bom, as meninas visivelmente ainda estão bravas...
- Eu sei disso, mas e daí? – perguntei, ainda não entendendo seu raciocício.
- Thur, se liga, periquita! – ele exclamou, na sua melhor imitação gay-man, olhando em volta para ver se nenhuma delas nos observava. – São mulheres! Tem coisa melhor do que compras para deixá-las felizes? Repara só, está escrito na testa de cada uma delas: comprar, comprar, comprar!
Arqueei a sobrancelha e olhei para os lados. Sophia e Aline comentavam sobre as roupas de uma garota que andava mais à frente com os pais. Melanie observava com brilho nos olhos o luxo do Hotel. E Lua passava os dedos pelo cabelo, pensativa.
- Chay... – sussurrei, e ele se curvou para ouvir melhor. – Você é um gênio!

Lua fala:

O quarto não podia ser mais lindo. E tenho certeza que, pelos “Nossa!” e “Uau!” que ouvi das meninas ao entrarmos nele, elas acharam o mesmo.
Todo rústico e confortável, ele era dividido em sala e quarto. Na sala, uma lareira estava acesa, nos aquecendo quase que instantaneamente. De frente para a lareira, alguns pufes pretos e cinzas. No chão, um fofo tapete cor de gelo. Uma Tv LCD de, no mínimo, 40 polegadas, estava presa ao teto.
Do outro lado de dois pilares muito bem desenhados, o quarto, com duas camas de casal que eu nunca havia visto mais fofas. Seus travesseiros eram brancos e o edredom preto e cinza, combinando com os pufes. No chão, o mármore reluzia pela luz amarela escura das lâmpadas.
Em todos aqueles anos viajando com minha mãe, nunca havia ficado em um lugar tão lindo e gostoso como aquele.
- Agora sim isso aqui é uma viagem! – Melanie exclamou, se jogando na primeira cama de casal. Aline e Sophia imitaram seu gesto e eu fui me deitar na outra, sem ânimo para fofocar ou falar merda.
Olhei para o teto e me senti aconchegada, descansada e feliz. Finalmente alguma coisa havia dado certo na viagem.
Fechei os olhos e fiquei ouvindo as meninas conversarem. Mas, depois de algum tempo ali, deitada, as vozes começaram a ficar cada vez mais distantes. E antes que eu percebesse, estava absorta em pensamentos.
“E aquele papo furado com Ben? Se aquilo não pode ser chamado de motivo, eu não sei mais o que pode...”. Aquelas palavras me cortavam, como se fossem facas. Eu estava cansada de tentar achar uma justificativa para tudo aquilo que estava acontecendo. Depois de todo o esforço que fizemos quando estávamos morando na mesma casa, fugindo e se escondendo de tudo e de todos, agora, que poderíamos muito bem escapar por ali, sem que ninguém percebesse, brigávamos!
Que tipo de lógica era aquela?
Mas acho que ninguém havia me explicado direito o que era amar. E eu sempre achei que tudo daria certo. Sabe como é, achava que aquelas histórias de vai e volta só aconteciam na Tv. Que, quando eu encontrasse meu amor verdadeiro, nós nunca iríamos brigar.
“Bela percepção da vida, eim Lua!?”, pensei, sorrindo de mim mesma.
Estava sendo bem difícil perceber a verdade, da pior maneira.
Peguei-me pensando em tudo novamente, como sempre fazia em uma crise. Desde o começo, que motivos havia dado para tanta desconfiança? Porque, ao mesmo tempo que houve John, houve o fato de eu o odiar. Ao mesmo tempo que houve Josh, houve Bella. Se ele tinha ciúmes, eu tinha todo o direito de também ter. Mas eu sabia que ele nunca faria nada para me magoar, então o meu ciúmes era mais controlado.
Então porque pra ele era tão diferente?
- Meninas? – a voz abafada de Maker me tirou dos pensamentos. Levantei a cabeça e vi Sophia, Aline e Melanie olhando fixas para a porta, com cara de passarinho assustado.
- Oi, Maker! – respondi, vendo que nenhuma delas estava pensando em fazê-lo.
- Então, nós vamos pra Buenos Aires, é só 15 minutos daqui. Queríamos levá-las para fazer compras. Para, sabe como é, tentar nos desculpar.
“Aaaah!” elas murmuraram, caindo na risada.
- E aí, vocês topam?
Nos entreolhamos e gritamos, em uníssono:
- Sim!

Thur fala:

Esperávamos no táxi. Dessa vez, Ben havia avisado ao taxista exatamente aonde queríamos ir, para nada dar errado. Aliás, por falar em Ben, Maker, Chay e Micael já estavam mais que amigos dele. Combinavam de jogar pôquer mais tarde quando as meninas fossem dormir, e isso envolvia dinheiro e modelos.
Traíras...
O frio estava dez mil vezes pior do que de manhã, e eu me apertava por debaixo da jaqueta. Ben parecia nem estar sentindo, só com uma leve blusa de moletom.
A cada minuto que passava ao seu lado, me sentia mais fraco. Sabia que ele era mais bonito que eu, melhor que eu, mais rico que eu. E isso estava me matando. Sabe como é, o fato de saber que um cara bem melhor que eu estava dando em cima da minha garota. E que eu não podia fazer nada para impedir aquilo.
Ou podia?
Minha cabeça estava tão bagunçada que, quando olhei pela janela do carro, abri a boca mais do que devia, ao ver as meninas chegando.
Mas aquilo era uma característica minha. Era só ver Lua que meu queixo caía. Ela parecia conseguir ficar mais linda a cada dia, e isso não me fazia muito bem; na verdade, já estava me sentindo paranóico por ela.
- Olá, meninos! – Aline piou, apoiando-se na batente da janela. – Vamos então?
- Sim, claro. – Maker sorriu para ela, que sorriu com desdém e caminhou até o outro táxi. Ben se despediu de nós, alegando “estar ocupado demais com Tom Cruise, que não parava de beber e Suri, que não parava quieta um segundo” para ir à Bueno Aires com a gente.
Ah, que dia mais feliz!
- Ok então, carta branca para elas? – Micael perguntou, mexendo na carteira, onde um cartão dourado brilhava.
- Acho que sim. E se, mesmo assim, elas ficarem de cu doce, eu não sei mais o que eu faço... – Chay respondeu, parecendo desolado.
Ficamos o resto do caminho combinando que iríamos esquiar no dia seguinte. Já havíamos perdido um dia naquela casa asquerosa, e mais um dia no Hotel. Se vocês sabem contar, só nos sobravam cinco dias, que pretendíamos gastar do melhor jeito possível.
E quando digo do melhor jeito possível, isso envolvia bebida, festas, esquiar e reconsquistar nossas namoradas. Quer dizer, os meninos reconquistarem as namoradas. Eu só precisava... Parar de ser tão ciumento.
Mas é que... Aquele Ben não me passava nada de bom. Sei que isso pode parecer idiotice, mas algo nele me fazia pensar no pior, e isso não era nem um pouco legal.
O táxi parou em frente a um Shopping. Entramos pelo estacionamento e ele nos deixou na porta autómatica. Ele já havia sido pago por Ben – filho da mãe, filho da mãe – então nós só precisávamos nos preocupar em ligar de volta quande quiséssemos ir embora.
Olhei no relógio e eram exatamente 19:34h.
- Pronto para ir à falência? – Maker perguntou, suspirando.
- Vocês. Eu não vou pagar nada pra ninguém. – respondi, sorrindo como uma criança.
- Ah, dude, como eu queria ser você numa hora dessas... – Micael murmurou, alisando o cartão de crédito dourado, que estava prestes a ser assassinado.
Pobre cartão...
- Ai meu Deus, ali estão elas! – Maker exclamou, abrindo a porta para Aline, que ia na frente com o motorista. Ela sorriu, verdadeiramente agradecida.
- Vamos então! – Melanie sorriu, animada. Envolveu o braço com o de Chay e ele piscou para mim, no melhor jeito cafetão. Aline e Sophia fizeram o mesmo e Lua andou na frente, ainda me evitando. Senti um aperto no coração e evitei pensar naquilo. Mas o frio era tão intenso que era meio difícil não pensar em querê-la junto a mim, para me aquecer.
Comecei a me sentir mal por ter sido tão idiota com ela, quando ela tentou se desculpar. Mas aquele era eu, sempre me arrependendo nas horas erradas.
Entramos no Shopping e o clima estava, de longe, bem melhor. E acho que era o fato das meninas estarem sendo carinhosas com os meninos e eles estarem sendo fofos com elas.
Ou era o fato de elas estarem no seu habitat natural, o shopping.
Vai saber...
Depois de algum tempo lá dentro, agradeci aos céus por Lua estar brigada comigo. Eu sei, isso pode parecer maldade, mas Melanie comprou 5 calças jeans na primeira loja que entrou, Aline gastou 500 dólares em maquiagem e Sophia comprou cinco perfumes. Caros.
- Tudo bem, Lu, eu pago pra você. – sussurrei no seu ouvido, com a minha voz mais fofa possível, abraçando-a pela cintura quando percebi que todos estavam ocupados demais provando roupas ou rezando para que o cartão não estourasse. Tentei ser o menos falso possível, mas no fundo eu estava com medo de que ela aceitasse.
Respirei aliviado quando ela só negou com a cabeça e continuou a tomar seu sorvete, se desvencilhando dos meus braços.
Tudo bem, se ela não queria gastar meu dinheiro, eu é que não ia reclamar.
Mas, mesmo assim, fiquei triste em ver que todos estavam se divertindo tanto, e nós dois estávamos daquele jeito.
Saímos de lá às 22:32h, com mais sacos que todos os dedos das nossas mãos juntos. O táxi já nos esperava, e, dessa vez, Maker, Aline, Micael e Sophia foram em um, eu, Lua, Melanie e Chay fomos no outro.
No nosso táxi, o clima mudara da água para o vinho.
Melanie e Chay sussurravam coisas incompreensíveis e riam sem parar.
“Love is in the aaair!”
Lua, ao lado deles, ouvia iPod com a testa encostada no vidro da janela, com a expressão vazia, observando a chuva que havia começado e caía forte, fazendo um estrondo no carro. A música estava alta e eu pude ouvir o que ela escutava. “Candles – Hey Monday.”
É dude, eu estava ferrado.
O taxista nos levou até o Hotel. E como sempre, Ben nos esperava.
Ele ajudou Lua a sair do carro, ignorando completamente minha presença, estendendo sua mão para ela. Melanie, ao passar por eles, assoviou, e eu tive vontade de me matar.
Sério.
Sophia e Aline, ao passarem por Lua, a cutucaram, pois ela conversava animadamente com Ben sobre algo completamente inútil. E eu não sei se os dudes perceberam minha cara de ódio, só sei que estavam fazendo de tudo para eu me sentir bem.
Entramos no Hotel e ficamos conversando em uma sala reservada. Agradeci por estar bem perto da lareira, primeiro porque se quisesse matar Ben era só jogá-lo lá dentro, segundo porque o frio dera lugar ao calor, e eu sentia menos falta de Lua.
Mas, claro, ainda sentia saudades de seus beijos, mesmo que fizessem menos de 48 horas que os sentira pela última vez.
Quando eram 24:56h, ainda estavávamos lá, conversando. E eu ainda estava olhando com uma expressão exterminador-do-futuro para Lua e Ben, que pareciam estar tão entretidos na conversa que nem perceberam a quantidade de pigarros que eu emiti.
- Ah, eu estou com sono! – Aline reclamou, encostando a cabeça em Maker  Ele sorriu e passou os dedos por seu cabelo, fazendo-a fechar os olhos. Melanie concordou com a cabeça, que já estava apoiada no ombro de Chay, e Sophia fez o mesmo, balançando os cabelos enquanto balançava a cabeça. Desentrelaçou a mão da mão de Micael e se levantou, anunciando:
- Ok, chega, eu vou dormir, senão amanhã eu não paro em pé... Até amanhã, meninos! – disse, sorrindo para nós. Depois, abaixou a cabeça e deu um beijo estalado na bochecha de Micael. – Boa noite, Micael.
- Boa noite, Soph. – ele desejou, sorrindo como idiota.
- Boa noite, Suede! – Melanie disse, piscando para ele, que piscou de volta e mandou um beijo no ar.
- Até amanhã, Maker. – Aline murmurou, sem conseguir abrir os olhos direito de tanto sono. Maker beijou o topo da sua cabeça e a ajudou a se levantar.
- Boa noite, meninos! – Lua desejou. Então disse algo para Ben e ele sorriu, dando um beijo na sua bochecha. E, antes de sair do saguão, ela me lançou um olhar magoado de partir o coração.
Era agora ou nunca. Vencer o cara mais detestável no mundo no melhor jogo para recuperar a dignidade masculina: pôquer!
Ok, me entusiasmei...

Lua fala:

- Ah, eu não consigo. Eu tentei, mas não consigo, com C maiúsculo! – Melanie exclamou, escovando o cabelo na frente do espelho. – Ele é lindo demais, perfeito demais, fofo demais, apaixonante demais e, o melhor de tudo, rico demais!
- HAHAHAHAHAHA. Como você é interesseira, Mel! – disse, encarando o teto. – Mas eu já acho que passou do tempo de vocês voltarem. Todos vocês.
- Você fala isso porque... – Aline tentou dizer, mas a cortei.
- Não me coloquem na história, por favor. Eu só quero ver meus amigos felizes de novo. É pedir demais?
- Ok, certo, certo... – Sophia concordou, pulando em cima da cama. – Amanhã eu vou ficar com o Micael e chega de greve. Porque, meninas, descobri, do pior jeito, que greve mata!
- E você com Ben Tiller, dona Lu? – Melanie perguntou, olhando para mim com um sorriso malicioso.
- É meeesmo! Porque ele está doidinho por você... – Aline concordou, como quem não quer nada.
- Ah, não enche! – exclamei, me enfiando embaixo do edredom. – Ele é gostoso mas... Não faz meu tipo.
- Aaaah, e quem faz seu tipo? – Sophia perguntou, tirando o edredom de cima do meu rosto. – Arthur Aguiar, habilidoso com as mãos?
- Vai se foder, Abrahão! – exclamei, me virando de lado, fingindo estar com sono demais para conversar.
Antes de cair no sono, fiquei observando o céu escuro pela janela.
Ben dera em cima de mim a noite inteira, mas algo me impedia de ficar com ele. Tudo bem, aqueles olhos verdes e sorriso de matar realmente eram difíceis de resistir, mas quando eu olhava para o outro lado da sala e via Thur, com cara de ciumento, meu coração se desmanchava.
“É isso...”, pensei, finalmente entendendo o porquê de tudo aquilo. Era fato, estatística: eu era uma azarada. Tudo sempre dava errado para mim. “Vai dormir,Lua, você já tá variando...”, pensei, antes de cair no sono.

Mais tarde.

- ... não, eu acho ela horrível... – foi a primeira coisa que ouvi ao despertar de um sono pesado. Abri os olhos e soltei um suspiro leve. Apoiei-me nos cotovelos e olhei em volta. O quarto estava escuro, mas vi três sombras reunidas em uma cama só, aos sussurros.
- Posso saber o que está acontecendo aqui? – perguntei, alto e claro. Melanie soltou um gritinho, Sophia começou a rir da cara dela e Aline respondeu:
- Estamos sem sono. Sabe como é, homens...
- Sei muito bem. – sorri, pulando de uma cama para outra. – O que foi, estão com tesão demais para dormir?
- Credo, Lu! – Melanie disse, me empurrando. – Só a Sophia é desse tipo de menina!
- Falou aí, santinha! – ela brincou, batendo com a almofada na cabeça de Melanie.
- Mas e aí meninas, tudo à pampa na rampa? – perguntei, mudando de assunto.
- Ah, sabe como é, tudo massa na desgraça... – Sophia respondeu, sorrindo.
Nos entreolhamos e caímos na risada mais uma vez.
- O que será que os meninos estão fazendo? – Aline perguntou, suspirando.
- Não sei... – respondi, sincera. – E nem quero saber. Mas agora que vocês me acordaram, eu tenho um plano para ajudá-las... – disse, diabolicamente. As três me olharam com esperança e eu esclareci: - Vamos lá descobrir!

Thur fala:

- Olá, meninas! – Ben disse, ao abrir a porta para cinco desconhecidas com cara de eu-não-como-há-uns-três-anos. Ou seja: modelos. – Prontas para nossa festinha particular?
As meninas sorriram de um jeito malicioso e eu pensei em sair correndo dali, para não cair em tentação.
Percebi que, longe das meninas, Ben tinha a maior pinta de cafetão.
A primeira que entrou era loira e muito alta, a mais alta das cinco. Tinha o cabelo todo ondulado e um sorriso de matar. Nos comprimentou, apresentou-se como Juliana, e sentou-se ao lado de Maker  que travava uma luta interna para não olhar para as pernas enfiadas em um shorts minúsculos ao seu lado. A segunda foi menos receptiva, sentando-se ao lado de Chay e murmurando seu nome, Daniela. Era menos loira que a primeira, tinha o cabelo meio mel. E o que mais se destacava nela eram os olhos verdes. A terceira, Maria, era a mais simpática. Era a mais baixa – mesmo assim era alta pra burro – e tinha os cabelos negros e lisos, parando em seus ombros estreitos. Os olhos negros eram perceptivos e suas duas covinhas eram de matar. A quarta menina parecia uma estrela do rock, com o cabelo todo despontado e com, pelo menos, umas três cores nele. Seu rosto era pontudo e bonito, e seu sorriso podia se compara com o de Juliana. Seu nome era Dulce e ela falava cinco línguas fluentemente. A quinta, e acompanhante de Ben, era ruiva natural e tinha os cabelos todos ondulados. Sua comissão de frente era a maior de todas e seus lábios eram completamente beijáveis.
Sério, eu fiquei com vontade de beijá-la.
- Esses são meus amigos, Maker, Chay, Micael e Thur. – disse, nos apresentando. Micael não conseguia piscar, Chay contava piadas feito idiota e Maker olhava com o canto dos olhos para Juliana, fingindo que embaralhava as cartas.
- Vamos jogar? – Ben perguntou, ligando o som. As meninas foram se sentar no sofá de couro branco e nós, homens, fomos nos sentar na mesa de vidro. Ben começou a dar as cartas e começamos a jogar.
Jogamos por mais ou menos meia hora. Micael havia perdido 100 dólares, Chay 80 e Maker 150. Eu havia ganho 300 e Ben 270. Estava ganhando e me sentindo feliz.
Pelo menos em alguma coisa eu era melhor que ele.
- Ok, chega, vamos fazer algo melhor. – Ben sussurrou, sorrindo e apontando com a cabeça as meninas que conversavam no sofá.
No instante em que levantamos da mesa, a porta se abriu e Sophia, Aline, Melanie e Lua nos olharam, logo em seguida olhando para as meninas sentadas no sofá.
Opa.

Lua fala:

- Eu não vou. – Sophia anunciou, começando a tirar a roupa. Corri até ela e a impedi de tirar a blusa de frio. – Lu, eu já disse, eu não vou!
- Vai sim! – repliquei, fechando o zíper do seu blusão. – Todas vocês vão!
- Lu... – choramingou Melanie, que olhava para o teto, deitada na cama. – Por que eles são tão idiotas assim?
- Mel! Eles não estavam fazendo nada! – exclamei, começando a ficar nervosa com tudo aquilo.
O negócio é que, na noite passada, quando entramos no quarto dos meninos, vimos cinco bichos-pau sentandas no sofá, com cara de vou-pegar-seu-namorado. Os meninos tentaram se explicar, mas quando dei por mim já estávamos de volta no quentinho do nosso quarto, enquanto as meninas choravam de ódio, tristeza ou saudades.
Os meninos até tentaram se desculpar, batendo na porta, pedindo, implorando e... Nada.
- Eu vou ficar aqui, na Internet, que eu ganho mais. – Aline disse, ligando o laptop no seu colo. Virei os olhos.
- Vocês vão deixar de se divertir por isso? – argumentei, tentando animá-las. – Por favor meninas, eu quero esquiar. E lembrem-se da nossa promessa! Até parece que vocês já esqueceram disso!
Elas se entreolharam, como se conversassem mentalmente. Depois suspiraram e deram de ombros, ao mesmo tempo.
- Certo, se você não está mal pelo seu... – Melanie parou de falar, mas eu só sorri e continuei por ela:
- Irmão. E pai.
- Isso, se você está tentando, nós também podemos! – disse, forçando um sorriso. – Afinal, são só garotos...
- Deixa só eu ver se tem alguma coisa nova no Conte Seu Babado. – Aline pediu. – O que acho difícil. Nós estamos na Argentina!
Mas acho que não era tão difícil assim.
O post inical era uma foto dividida. De um lado, algumas meninas estavam sentadas na porta da casa dos meninos, com cartazes, fotos e EP's. Escrito na foto estava: “Fãs loucas acampam na casa dos meninos do McFLY!”. A outra foto era uma nossa no Shopping, na loja onde Melanie comprara 5 calças jeans. Escrito na foto estava: “Enquanto isso, McGuys torram todo o dinheiro das fãs em roupas para as Patricinhas de Bervely Hills.”

“Boa dia, boa tarde ou boa noite! Como vão vocês?
Eu estou preso(a) em casa nessas férias. Trabalho de inverno, muito obrigado, mamãe! Mas quem foi que disse que isso me impediria de dar novidades sobre nossos mais novos astros do rock? Tá aí, fotinhos novas em folha!
Pra falar a verdade, a foto das fãs na casa deles fui eu quem tirei. A outra foi um fã anônimo, mas que eu, gentilmente, furtei a foto. Espero que ele não ligue.
Bom, como vocês podem ver, os casais estão em plena sintonia, certo?
Haaam, acho que não... Minhas fontes disseram que as brigas rolam a solta e... Bem, as meninas estão deixando os meninos no chinelo! Aaaah, safadinhas!
Bom, eu queria muito pedir para que vocês voltassem logo. Estou com saudades das festinhas regadas a bebidas, babados e MUITA pegação! Sabe como é, essa cidade pára quando vocês estão longe! ;DPista 3 – Não se engane. Às vezes as pessoas não são nada do que você acha que são! Fique ligado, existem os vencedores e os subordinados!
Acho que por hoje é só... Mais uma vez: voltem logo e tragam o MAIOR babado que conseguiram da Argentina, chiquititos!
Beejomeliga!

Thur fala:

- As pessoas não são nada do que eu penso? Existem vencedores e subordinados? Mas que porra isso quer dizer? – perguntei, quase arrancando meus cabelos. – Até hoje eu não tenho IDÉIA de quem seja essa merda de Gossip!
- Eu sei o que isso quer dizer! Isso quer dizer que... – Micael começou a dizer, e todos nós olhamos para ele, que filosofava com a mão no queixo. Esperamos uns 5 segundos até ele continuar, profético: - Eu não sei o que isso quer dizer... – suspirou, e nós bufamos, voltando a fazer o que estávamos fazendo. Ou seja, nada.
Agora é que nós estávamos ferrados mesmo. As meninas tinham visto as modelos no nosso quarto, então o ciúmes tinha triplicado. O(a) Gossip voltou a atacar, espalhando que não estávamos assim tão bem na nossa viagem, deixando os invejosos de plantão deliciando-se com a informação e nós não tínhamos a mínima idéia de quem ele(a) era.
Ah, e esqueci do melhor: agora iríamos esquiar todos juntinhos, como quatro casais felizes.
Mas pelo menos o filme de Ben havia sido queimado.
- Bom, vamos, antes que eu mude de idéia.
Vamos antes que todos mudemos de idéia.

Lua fala:

Certo. Esquiar juntos foi uma idéia um tanto quanto... Imbecil.
Imbecil? Foi a pior idéia que alguém já teve!
Primeiro porque, ao nos encontrar, as meninas foram as coisinhas mais grossas do mundo com os meninos. Segundo porque, bem, eles não deixaram barato. Eles se vingaram. Feio.
E se vingar envolve: gelo, derrubar e dor.
Sério. Eu contei quantas vezes os meninos derrubaram as meninas na neve, e isso ultrapassa todos os meus fios de cabelos.
É, dude, foi punk...
Saímos de lá uma 18h. As meninas mancavam e desgraçavam até a última geração dos meninos. Eu saí toda cerelepe, porque fiquei bem longe de Thur. Sabe como é, se ele quisesse me derrubar, eu estava a salvo, muito obrigada.
Mas, pra falar a verdade, ele estava meio esquisito, longe do grupo, pensativo... De vez em quando derrapava e quase caía, mas sempre recobrava os sentidos. E, preciso admitir que fiquei com vontade de abraçá-lo e perguntar porquê estava tão pensativo.
Será que era pela dica nova do(a) Gossip?
Claro que eu não fiz. Sabe como é, abraçá-lo e perguntar porquê ele estava assim. Porque, bem, ele fora muito grosso comigo. E eu não era menina de engolir sapo. Certo?
- Idiotas. Imbecis. Inúteis. Trogloditas. – Melanie xingava, enquanto passava gelo pelo tornozelo. – Como eu vou à festa hoje à noite desse jeito?
Melanie se referia a uma festa, que fomos convidadas por Ben mais cedo, para ir naquela noite.
Ah, e por falar em Ben, ele estava bem sujo na rodinha também. Mas é claro, como ele não ficaria? Fora ele quem levara as meninas/bichos-pau para o quarto!
- Ah, relaxa, qualquer coisa eu te carrego nas costas! – brinquei, e ela fechou a cara. – Aaaaaaaaaah, Mel, não fica bravinha! Você vai encontrar um argentino rico, gostoso, lindo, simpático, cheiroso, alto, forte, sensual... – ia dizendo e viajando, olhando para cima.
- Lu, Lu, não dispersa, continua! – Aline disse, estalando os dedos na minha frente.
- Ah, é, claro... – disse, voltando ao normal, chacoalhando a cabeça. – Então... Você vai encontrar um desses e o Chay vai se arrepender de ter te derrubado nos... Nos... – não consegui continuar, porque eu, Sophia e Aline caímos na risada.
Chay empurrara Melanie em dois velhinhos, que ficaram duas horas xigando-a. E nós não podíamos tocar no assunto sem cair na risada.
- Velhinhos! – Sophia completou, e nós começamos a rolar no chão de dar risada.
- Ah, suas vacas menstruadas. Vou tomar banho que eu ganho mais... – ela disse, nervosa, entrando no banheiro e batendo a porta atrás de si.
- Ok, precisamos juntas a Mel e o Chay, se não ela vai à loucura! – Sophia disse, virando os olhos.
- Olha só quem fala! – brinquei, cutucando-a.
Olha só quem estava falando “quem fala”, certo?

Thur fala:

- EURECA! – Micael gritou, saindo do banheiro enrolado em uma toalha. Aparentemente ele sempre tinha idéias tomando banho. – JÁ SEI!
- Já sabe o quê, projeto de ser humano? – Maker perguntou, zapeando pelos canais da Tv, mas eles eram todos em espanhol, o que não ajudava muito. – Já sabe qual a raiz quadrada de 9?
- Não, isso eu já sabia... – ele disse, como se Maker estivesse falando sério. Fechei o livro que estava lendo e Chay se espreguiçou, prestando atenção em Micael. – Já sei como vamos fazer as meninas nos perdoarem!
Por que ele foi dizer aquilo?
- AAAAAH, QUE LINDO! – Chay gritou, se jogando em cima dele.
- QUE GAY, QUE GAY, QUE GAY! – Maker imitou o gesto, se jogando em cima de Chay. Joguei-me por último, gritando:
- MICAEL TEM SENTIMENTOS! MICAEL TEM SENTIMENTOS!
Ele riu por uns bons dois minutos, antes de usar toda sua força para tirar os três marmanjos de cima dele. Caí sentado no chão e Chay caiu ao meu lado. Maker ficou de pé, recobrando a postura, e Micael sorriu.
- Dudes, eu tenho o melhor plano do mundo!
- Ah, ele tem o melhor plano do mundo! – Maker ironizou.
- Cérebro, o que vamos fazer hoje? – perguntei para Chay, entrando na onda.
- Tentar conquistar o mundo! – Chay exclamou, de um jeito teatral.
- Ok, zoa mesmo. Mas quando vocês ouvirem vão beijar o chão que eu piso! – Micael murmurou, ficando bravo.
- Conte seu plano maléfico, Borges, eu me interessei. – disse, olhando para ele com curiosidade.
- Bom, já que o quarto das meninas é no térreo, eu pensei que...

Lua fala:

Olha, não é por nada não, mas os meninos estavam impecáveis. Mais bonitos do que o normal. Perfeitos. Cheirosos. Lindos. E... Ok, parei.
Micael estava de terno riscado, cinza claro. Usava sapatos sociais pretos e os cabelos estavam para trás com gel. O terno estava aberto, e sua camisa rosa estava para fora da calça, com só uma parte presa, estilo John-requebra-tudo-Travolta em Grease. Andava de um jeito despojado e sorria ao passar pelas meninas, que só faltavam desmaiar. Ao chegar perto de nós, seu perfume invadiu o local, deixando Sophia tonta. Eu sei disso porque ela apertou minha mão com tanta força que, se ela não estivesse passando mal, iria se ver só comigo.
Chay estava menos social, mas, ainda assim, estava de matar. Usava uma camiseta polo branca com detalhes em rosa. Por cima, uma jaqueta de couro. Usava calça jeans escura, mas, mesmo assim, continuava sofisticado. Os cabelos estavam como sempre, mas ele tinha uma expressão tão sexy no rosto que parecia que tudo estava diferente.Maker usava uma camisa social preta, com três botões abertos, revelando seu peito. [N/A: E seu tapete do amor, diga-se de passagem.] Estava com uma calça jeans marrom e os cabelos estavam arrepiados pra cima [foto]. Andava olhando para as garotas e piscou para muitas delas, deixando Aline surtando ao meu lado. Quando chegou perto de nós, não disse nada, e continuou a observar as garotas.
Então, por último, veio Thur.
Thur... Por que ele tinha que ser tão... Gostoso!?
Sério, eu não sou de ferro, tenho meus pontos fracos. E, eu tinha certeza que, se ele chegasse em mim daquele jeito, adeus orgulho, adeus magoa e vem cá Arthur Aguiar!
Ele usava uma camisa de manga comprida social branca. Estava de gravata marrom e, por cima da camisa, um colete preto, abotoado. Usava uma calça jeans, bem... Skinny. Ok, não sei se era bem skinny. Mas era bem parecida. De qualquer jeito, era uma calça jeans azul escura e nos pés usava seu bom e velho All Star branco [foto]. O cabelo estava com sempre, mas o “como sempre” me fez suspirar.
Isso, Thur, provoca, provoca mesmo.
Senti duas mãos envolvendo minha cintura. Olhei para trás, assustada, e vi que se tratava de Ben, que também estava muito bem vestido, de terno preto e camisa social preta. Clássico e lindo.
Olhei de volta para Thur, e ele pareceu não se importar. Na verdade, estava conversando animadamente com uma loira que parecia ter se interessado por ele.
Ela tinha cara de fuinha e eu já sentia um ódio mortal por ela.
Quer saber? Foda-se. Por que não dar bola para Ben?
- E aí, Ben! – disse, sorrindo. – Tudo legal no bananal?
- Tudo... Bom. – ele disse, sorrindo de um jeito estranho. “Nunca falar essas gírias com pessoas desconhecidas!”, pensei, anotando mentalmente aquilo. – E aí, tudo bom?
- Tuuudo! – disse, animada. Mas na verdade eu estava mais preocupada em olhar para Thur com o canto dos olhos, monitorando cada sorriso dado para a fulaninha com cara de fuinha.
Nunca gostei de fuinhas mesmo...
- Lu, eu queria falar com você, em... – Ben olhou em volta, e viu que Thur nos olhava. Mas quando cruzaram olhares, ele voltou sua atenção para a dona fuinha. – Particular.
- Hm... – tentei pensar em algo para fugir, mas ele havia me encurralado. – Claro.
Ele me segurou pela cintura e eu não senti aquela sensação boa que sempre sentia quando Thur fazia aquilo. Na verdade, me senti nervosa.
Ben me levou por uma escada circular até o andar de cima do sobrado onde estávamos. Sobrado não, mansão.
- De quem é essa casa? – perguntei, como quem não quer nada.
- Do meu pai. – ele respondeu, como se fosse uma coisa normal. – Ele me deixa dar festas aqui. Legal, não é?
Legal!? Só legal!?
Ok, admito, eu tinha dinheiro. Mas Ben tinha muito – muito mesmo – mais.
Chegamos a uma sacada. Não fazia tanto frio, e as estrelas brilhavam. Perfeito. Só não era mais perfeito porque eu não estava com quem queria.
- Lu... – Ben disse, depois de algum tempo observando as pessoas lá embaixo. – Eu queria... Queria te dizer algo. Algo que eu estou pra te dizer há um bom tempo.
Opa, opa, opa. Sinal vermelho. Sirenes soando.
- Pode falar, Ben. – encorajeio-o, evitando ao máximo olhar para ele.
- Vou dizer de uma vez, antes que eu perca a coragem. – ele disse, e eu me virei para ele. Seus olhos se perderam nos meus, e eu não senti nada, a não ser vergonha. – Eu gosto de você. Eu acho você a menina mais linda do mundo. E não é só de hoje! Eu sempre te observei na escola, mesmo não freqüentando muito as aulas, e quando vi você ao meu lado, naquele avião, comemorei mentalmente. Mas depois você se foi de novo, e preciso dizer que pensei que nunca mais fosse te ver. Mas então eu te vi naquela estrada, perdida e isso... Isso foi mais que um sinal para mim.
Ele ia dizendo e eu ia abrindo a boca.
Como assim gosta de mim? Pensei que, no máximo, ele ia pedir pra ficar comigo! Não que era perdidamente apaixonado por minha pessoa!
- Então, estou te dizendo isso porque há tempos eu quero fazer isso.
Então ele me beijou. E foi como se eu estivesse beijando meu cotovelo. Sério. Pode parecer insensível, depois daquela declaração e tudo o mais, mas eu realmente não senti nada. Não tive vontade de retribuir, muito menos de abraçá-lo. Por isso fiquei parada, com os braços ao longo do corpo, enquanto ele me beijava.
Acho que ele percebeu meu desgosto, porque separou nossos lábios e perguntou:
- O que foi? O que eu fiz?
- Ben, não é você... – suspirei, buscando na memória algum fora pronto. Às vezes eu me sentia uma pessoa muito má. – É que...
- Então vem cá! – ele exclamou, não me deixando terminar. Puxou-me para outro beijo, dessa vez me segurando entre seus braços. Tentei me soltar, mas ele não deixou. Então começou a passar a mão pelo meu corpo e foi aí que eu comecei a me assustar.
Sabe como é, ele era bem mais alto que eu. Sem contar o fato de que era um homem.
E eu, nem de longe, sou boa em artes marciais.
- Se solta, Lu! – ele pediu, sussurrando, enquanto passava a mão em mim.
- Para com isso! – pedi, tentando me separar dele.
Mas ele ignorou, dessa vez subindo meu vestido rosa bebê pela barra. Ele puxava para cima e eu para baixo, tentando de todos os jeitos me devencilhiar. Dei chutes, tapas, mas ele era muito mais forte que eu.
Pela primeira vez, senti em seu hálito o cheiro forte de álcool, e me desesperei mais ainda. “Meu Deus, o que ele vai tentar fazer comigo!?”, era a única coisa que eu conseguia pensar.
Ele não parava, e acabou rasgando meu vestido na barra. Em um dos poucos momentos que consegui me livrar de sua boca, gritei, logo sendo abafada por seus lábios:
- Alguém me ajuda!
Estava quase sem forças, despencando em seus braços, quando ouvi um barulho de porta correndo e logo em seguida Ben estava no chão, tonto e com a mão no nariz. Apoiei-me na parede, e lágrimas começaram a cair sem que eu pudesse evitar. Respirava fundo, enquanto pensava comigo mesma “acabou”.
Não me entrava na cabeça que Ben fizera aquilo comigo.
Quando finalmente olhei para o lado, vi Thur ali parado, com a pior cara que eu já vira ele fazer. Seus olhos estavam em órbita, e sua testa enrugada. Seus pulsos estavam apertados e ele respirava fundo, como se fosse matar Ben ali mesmo.
- Thur, Thur, por favor, calma, respira fundo. – disse, indo até ele aos tropeços, ainda sem muita força. – Respira fundo. Calma, por favor meu amor, calma. – pedi, me esquecendo de tudo que acontecera entre nós dois nos últimos dias. Quando consegui alcançá-lo, senti seus braços me envolverem, e ele sussurrou em meu ouvido:
- Nunca. Mais. Suma. Assim.
Então eu senti suas lágrimas molharem a alça do meu vestido. Não sei se eram lágrimas de raiva, de ódio, de ira, de tristeza, de saudades... Só sei que não consegui ouvi-lo chorar, e comecei a chorar junto, de novo, enquanto dizia, como uma idiota:
- Desculpa, Thur. Desculpa por tudo. Eu te amo, me perdoa!
- Claro que desculpo, minha linda, claro que sim! – ele fungava em meu ombro, e eu tremia, envolta por seus braços. – Me perdoe por ser tão idiota, eu não queria agir assim!
- Ah, eu sabia! – Ben disse, se pronunciando pela primeira vez. Levantou-se e nos encarou com raiva. – Aquela história de irmã nunca me enganou! Mas tudo bem, isso ainda vai se virar contra vocês. – dito isso, saiu da sacada, limpando o terno com raiva. Antes de descer as escadas, disse: - Quero vocês e seus amigos imundos fora do minha casa e fora do meu Hotel, agora mesmo!
Fiquei um tempo abraçada com Thur, fungando baixinho. Ele já tinha parado de chorar, mas eu não conseguia me controlar. Tudo que senti enquanto Ben me agarrava não saía da minha cabeça.
- Lu, pode ficar tranqüila, ele não vai mais fazer mal a você! – Thur tentou me tranqüilizar, beijando meu cabelo. Deixou a boca ali e continuou: - Eu não vou deixar ele chegar perto de você. Se ele chegar perto de você, eu mato ele!
- Desculpa, Thur... – parecia ser a única coisa que eu conseguia dizer.
- A culpa não foi sua. Eu que fui idiota. Não devia ter deixando esse imbecil chegar perto de você e... – ele começou a dizer, mas eu o cortei.
- Não, Thur, fui eu quem deixou. Acho que... – parei, para respirar fundo. Iria admitir pela primeira vez minha estupidez. Era um progresso e tanto. – Achei fofinho o seu ciúmes e dei bola pra ele. Não deveria ter feito isso...
- Lua, por favor, vamos esquecer isso. – ele pediu, acabando com o assunto de uma vez por todas. – E vamos sair logo daqui, antes que a polícia chegue para nos tirar!

Thur fala:

- Tudo pronto? – perguntei em espanhol, para os velhinhos atrás de nós. Eles sorriram de um jeito simpático e Chay gritou, embaixo da janela das meninas:
- Meninas!? Vocês estão acordadas?
Ficamos um tempo em silêncio, esperando. Depois de algum tempo, quatro cabeças desgrenhadas apareceram na janela, sonolentas.
- O que está acontecendo aqui? – Sophia perguntou, coçando os olhos.
- Aproveitem o show. – Micael pediu, piscando para ela.
O negócio era que nossa idéia de pedido de desculpas era uma serenata, bem ao estilo tradicional, com quatro senhores atrás de nós, tocando violão e esses outros instrumentos de corda estranhos.
Não disse nada a Lua, pois sabia que ela estava abalada demais. Ao deixá-la junto com as outras meninas no quarto, só disse que era para ela descansar e que, no dia seguinte, iríamos para outro Hotel. Inventei que Ben era enrolado com drogas e por isso iríamos embora, e as meninas pareceram acreditar.
Assim, nenhuma delas desconfiou de nada.
Os primeiros acordes de violão começaram.
- “I can't stop, I can't stop loving you! You're a dreamer, and dreaming's what you do! I won't stop believing that this is the end, there must be another way... 'Cause I couldn't handle the thought of you going away! Woah, yeah!” (Eu não posso parar, eu não posso para de te amar! Você é uma sonhadora, e sonhar é o que você faz! Eu não irei parar de acreditar que esse é o fim, deve ter outro jeito... Porque eu não poderia agüentar o pensamento de você ir embora! Woah, yeah!) – nós cantamos juntos. Maker  ao meu lado, cantava como uma gralha menstruada, mas isso não era capaz de abafar três vozes boas. – “Sorry's not good enough! Why are we breaking up? 'Cause I didn't treat you rough, so please don't go changing! What was I thinking of? You said you're out of love! Baby, don't call this off because sorry's not good enough!” (Desculpa não é bom o bastante! Por que nós estamos terminando? Porque eu não te tratei mal, então por favor não vá mudando! No que eu estava pensando? Você disse que estava sem amor! Baby, não termine isso porque desculpa não é bom o bastante!)
As meninas olhavam estupefatas, com a boca aberta. Lágrimas escorriam pelo rosto de Aline, Sophia sorria como idiota, Melanie ria sem parar e Lua olhava para mim, como se não acreditasse naquilo.
- “Don't stop, all those things you do! I'm a believer, and that's what gets you through! I can't fight this feeling that this is the end... We're in the thick of it, when will this ever end? Woah, woah!” (Não pare todas essas coisas que você faz! Eu sou um "acreditador" e isso é o que te faz continuar! Eu não consigo lutar com esse sentimento de que esse é o fim... Nós estamos no limite disto, quando isso vai acabar? Woah, woah!) – continuamos, com a mão no peito, no melhor estilo Backstreet Boys de ser.
Cantamos refrão mais uma vez e terminamos a música:
- “For you, said, you'd never leave me be there, to hold and please me! Sorry's... Just not good enough for you! But everybody makes mistakes! And that's just what we do!” (Para você, disse que nunca iria me deixar, esteja lá para me segurar e agradar! Desculpa... Apenas não é bom o bastante para você! Mas todos cometem erros, e isso é o que fazemos!)
Ao acabarmos, as meninas aplaudiram com vontade, rindo. Nós jogamos rosas vermelhas para elas e, em seus rostos, podíamos ver que a greve havia acabado.

Continua...

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