27 março, 2013

Gossip Boys - 15° capítulo




- O príncipe encantado sempre estará la pela princesa em perigo


Lua fala:

- Isso é tão emocionante! – Aline piou, olhando em volta com um sorriso bobo no rosto. 
- Emocionante? – Melanie perguntou, emburrada. – Você realmente acha emocionante umas 4 mil garotas histéricas gritando os nomes dos nossos namorados? 
- Seus namorados. – a corrigi, como sempre. 
- Ai Mel, credo, que insegurança é essa? – Sophia perguntou, e eu concordei com a cabeça. 
- Relaxa, Mel, o Chay é meio bobão, mas ele te ama! – afirmei, roubando um chocolate da mesa do camarim dos meninos, que estavam lá fora gritando como mocinhas ao ver todas as fãs, socadas no DellRay, que gritavam seus nomes enlouquecidamente. – Sabe como é, nenhuma dessas fãs chega aos seus pés. 
- Quem ama quem? – Thur perguntou, entrando com tudo pela porta, sem olhar para mim. Apertei meu celular no bolso com força, lembrando a mim mesma a mensagem que recebera dele na noite passada. “Queria você aqui comigo. É difícil de admitir, mas eu preciso de você cada dia mais. Te amo!”. 
“Eu que te amo, porra!” fiquei com vontade de dizer. 
- Não interessa, Aguiar. – respondi, ao invés disso. 
- Tudo estava tão bem quando vocês fingiam que eram amigos... – Aline disse, revirando os olhos para nós dois. 
O negócio é que, depois do nosso pacto na chuva, voltamos a nos maltratar na frente dos nossos amigos. 
- Vocês viram quanta gente!? – ele perguntou, ignorando Aline. – Nunca imaginei que tantas meninas gritariam meu nome assim sem ser porque eu passei a mão nelas “acidentalmente”! Bem que Bob disse, mas eu meio que não acreditei que os ingressos estavam esgotados e... 
- Será mesmo que esgotou? – Aline perguntou. 
- Patrick disse que sim, e é o que parece. As meninas estão esmagadas ali embaixo! Tem, tipo, umas 4 mil fãs gritando nossos nomes ali! – ele respondeu, com os olhos brilhando. Seu olhar se encontrou com o meu e eu sorri rapidamente. 
- 4 mil meninas gatas, vadias e louquinhas para ficar com o MEU Chay! – Melanie resmungou. 
- Não exagera, Mel. Acho que é uma coisa mais equilibrada, tipo umas mil pra cada um... – Thur brincou e Melanie ficou mais emburrada ainda, se afundando de vez no sofá. 
- 5 minutos! Ai caralho! – Micael irrompeu pela porta com Chay e Maker atrás. – Agora eu sei o que vocês sentem quando ovulam! 
- Meu Deus, que coisa mais nojenta! – Aline exclamou, fazendo uma careta e jogando uma toalha branca e felpuda em Micael, que gargalhou. 
Continuamos a zoá-lo, e em meio as risadas, Chay percebeu Melanie emburrada no sofá e foi conversar com ela. 
Ele a abraçou pelos ombros e falou algo baixinho em seu ouvido, enquanto ela só afirmava com a cabeça. Quando Patrick apareceu na porta do camarim para avisar que o show iria começar, ela parecia mais calma. 
- Nós vamos esperar aqui fora. – Sophia disse, percebendo que os meninos queriam ficar sozinhos com o empresário. 
Patrick fechou a porta e começou a falar alguma coisa para os meninos, que só murmuravam em resposta. Nós, lá fora, começávamos a ficar nervosas. 
Eles só ficaram alguns segundos lá dentro, mas para mim pareceu uma eternidade. Eu estava muito nervosa por Thur, porque era seu primeiro grande show. Eu não queria ver o cara que eu amava se dando mal em frente de todas as fãs. 
Ou queria? 
- Vamos? – Maker, visivelmente o mais calmo, perguntou para nós, ao sair do camarim. 
- Vamos aonde? – perguntei, saindo dos meus pensamentos. 
- Ué, vocês não vão assistir ao show do lado do palco? – ele perguntou, estranhando minha pergunta. 
Dã! 
- Ah, é, claro. – respondi, me lembrando. Eu estava tão nervosa que até me esquecera do que estava fazendo ali. 
- Vamos, meu baterista gostosão! – Aline exclamou, sumindo com Maker pelo corredor. 
- Ok. Palheta: no bolso. Cabelo: penteado. Zíper: fechado. – Micael ia conferindo tudo e se apalpando ao andar pelo corredor ao lado de Sophia. – Agora, onde eu deixei m... 
- Tá no palco, Micael, no palco... – Sophia suspirou, cortando-o porque era a terceira vez que ele perguntava onde estava seu instrumento. Os dois também sumiram pelo corredor. 
- ... Prometo, ok? – Chay continuava a falar baixinho com Melanie, enquanto viraram o corredor atrás de Micael e Sophia.
Olhei para a porta e quase fui derrubada por Patrick, que murmurou algo como “desculpe” e saiu correndo pelo corredor. 
Enfim a sós. 
Com Thur.
Hum... 
- Nervoso? – perguntei, me apoiando na parede branca e áspera. Lancei-lhe um olhar sou-uma-moça-inocente e sorri. 
- Um pouco. – ele respondeu, com as mãos nos bolsos, me olhando com malícia no olhar. 
- O que foi? – perguntei, ainda bancando a inocente. Pisquei os olhos algumas vezes e ele soltou uma risada meio anasalada. Balançou a cabeça e sorriu torto. 
Ah, aquele sorriso torto... 
- Nada. – respondeu, ainda com o sorriso no rosto. – Nado um tapa de leve na cabeça de Aline. – Você não viu a cor da sobrancelha dela? 
- Ai cabeção! – Aline repetiu o gesto, fazendo Maker rir. – Você não sabe que dá pra pintar as sobrancelhas? 
- Meu Deus, vocês são o casal mais chato do mundo! – Lua exclamou, rindo. 
Aline e Maker discutiam sobre uma fã que ficara dando em cima de Micael, que, por sua vez, se agarrou em Sophia e não soltou mais, aparentemente com medo da menina. 
- Ok, o que acham de pedirmos uma pizza? – Maker sugeriu, dando partida no carro e seguindo Chay pela rua. 
- Pizza! – eu e Lua exclamamos ao mesmo tempo. Olhei para ela com a sobrancelha levantada, que deu de ombros. Por dentro, e isso eu pude sentir, ela se segurava para não rir. 
- E pizza será! – Aline disse, ligando o rádio. 
Chegamos em casa e pedimos a pizza, que chegou alguns minutos depois. Eu e Lua éramos os mais esfomeados, e meio que comemos uma pizza inteira. 
- Meu Deus! Não é à toa que vocês vivem brigando! Imagina se vocês namorassem. Tipo: “Sai, Thur, esse pedaço de pizza é meu!”. – Sophia comentou, horrorizada, apontando para a caixa de pizza vazia que eu e Lua comemos. 
Eu olhei para ela e sorri tímido, abaixando os olhos. Lua, ao meu lado, ficou em silêncio. Mas era meio o que acontecia toda vez que comentavam sobre nós dois. 
Ah, se eles soubessem! 
Mas sabe que esse negócio de ficar mentindo estava me transformando em um ótimo ator e todas essas merdas. 
Hollywood, me aguarde! 
- Hey, vocês, venham ver isso! – Chay gritou do computador, algum tempo depois da sessão vamos-falar-sobre-Lua-e-Thur, atrapalhando nossa sessão “piadas de pontinhos”. 
Ótimo. Lá vamos nós de novo! 
Nos levantamos, já ansiosos pelo o que iríamos encontrar lá. Ao chegar no computador, encontramos o Conte Seu Babado – supresa! – aberto e uma foto piscando no monitor. 
Era uma foto do McFLY com algumas fãs. Com quatro fãs para ser mais exato. A ordem da foto era Maker abraçado – meio de lado, como se estivesse em uma conversa super interessante com a garota – a uma morena. Ao lado da morena uma ruiva – que sorria mais do que a sala podia suportar, me fazendo sorrir também, porque, dude, aquela era realmente minha fã – abraçada a mim. Ao seu lado, Chay abraçava – e olhava interessado para o decote dela – uma morena com as pontas dos cabelos mais claros e, ao lado dela, Micael abraçado à loira que ficou dando em cima dele. 
Embaixo da foto, outro post. 

“Como vão, coisas fofas? Tudo bem? Comigo está tudo ótimo, caso vocês queiram saber. Os negócios estão indo de vento em polpa! 
Mas ignoremos as formalidades e falemos sobre os novos rockstar do nosso colégio. Os gostosos do McFLY! 
Na foto, como vocês podem ver, são eles e algumas fãs. Mas que relação ‘próxima’ com elas, eim? Foram as próprias meninas que me mandaram essa foto! 
Não é uma graça? 
Ali do lado esquerdo, Maker e Melody. Parece que os dois estão muito bem entretidos, eim? Ao lado de Melody, Jennifer e Thur. Agora, quem está mais feliz na foto? Eu não sei... Ao lado de Thur, Chay, Mandy e os olhos de Chay no decote de Mandy. Hahahaha. Mas que feio, eim sr. Suede! E ao lado de Mandy, Elise eMicael. Elise? Elise... Não foi ela que ficou o show inteiro segurando um cartaz ‘Micael, casa comigo?’. 
Hum, parece que sim... 
Agora, vocês devem – ou não – estar se perguntando: qual é a grande fofoca dessa foto? 
O problema, meus lindos, como vocês já devem saber em meio às fofocas que circulam em nosso respeitável instituto de educação, é que os meninos têm namorada!!! 
É... Sophia, Melanie, Aline e Bella? – se bem que Bella é mais ou menos um estepe, mas vamos considerar que sim. – Se eu fosse vocês, cuidaria mais dos seus homens! 
Sabe que eu acho que foi exatamente por isso que Lua deu um pé bem dado na bunda do Aguiar?
Provavelmente alguém não agüenta o ciúmeees. 
Ah, e por falar nos garotos do McFLY, tenho um recado especial para você-sabe-quem. 
Pista 1 – Você conversa comigo quase todos os dias. Nós somos até que próximos. De um jeito diferente, mas somos.
Beijos para as meninas e para os meninos também! 
XXOO.” 

Terminei de ler e olhei para Melanie, que estava com a boca ligeramente aberta. Virei meu rosto para Chay e ele estava com as sobrancelhas unidas, com um rosto legal-agora-eu-me-ferrei. 
- Hum. – murmurei, porque, bem, foi a única coisa que eu consegui fazer. – Olha. Minha primeira pista! – exclamei, tentando cortar o silêncio da sala. 
- Chay. Por que você estava olhando para o decote da menina? – Melanie perguntou, ignorando meu comentário e se virando para ele. Chay se curvou como se tivesse tomado um soco no estômago e respondeu: 
- Amor, veja bem, eu... 
- Você e eu. Lá em cima. Agora. – ela disse, marchando em direção à escada. 
Chay nos lançou um olhar foi-bom-conhecer-vocês e foi atrás de Melanie, como um cachorrinho. Olhei para Aline, que parecia não ter se importado com a foto e já estava conversando sobre Et's com Maker. Et's? 
Quem conversa sobre Et's com a namorada? 
Principalmente depois de ter visto uma foto completamente alheia ao assunto? 
Mas bom, deixa pra lá, meus amigos eram meio estranhos mesmo... 
Sophia também não pareceu ligar. Na verdade, estava rindo dos dentes tortos da loira que estava com Micael, que também ria, aliviado. 
Olhei por último para Lua, que levantou a sobrancelha e foi até a cozinha. Entendendo o recado, disfarcei um pouco e fui atrás. 
- Hum... – disse, ao entrar. – Você ficou chateada? – perguntei, me apoiando na bancada ao seu lado. Ela sorriu e tomou um gole de Coca. 
- Não, Thur. Só quero saber quando você vai terminar com Bella. – ela respondeu, virando outro gole. – Só isso. Suas fãs não me preocupam. 
- Segunda. E você, quando vai terminar com o Josh? 
- Segunda. 
Ficamos em silêncio, nos analisando. 
- GENTE! VENHAM VER ISSO! – Micael exclamou, entrando na cozinha. Tomei um susto e Lua sorriu torto. – Lu e Thur juntos sem se matar! – ele esclareceu, quando Sophia, Maker e Aline se juntaram a nós. 
- Ah, vai se foder, Borges... – ela disse, mordendo a bochecha de Micael, que sorriu e mordeu a dela. 
Ficamos por ali até uma e pouco da manhã, falando besteira e – novamente – combinando nossas férias, que seriam dali duas semanas. 
- Tchau para os que ficam! – Sophia exclamou, dando um selinho no namorado e um beijo no meu rosto, no de Maker e no de Chay – que havia descido com Melanie meio pálido, mas já estava bem com ela. Pelo menos foi o que pareceu. – Até amanhã! 
- Amanhã nós temos show de novo. – eu informei. 
- E quem disse que nós não vamos? – Aline perguntou, fazendo uma careta e roubando a barra de chocolate que Maker comia. 
- É, se vocês forem ficar dando em cima de suas fãs, nós temos que estar por perto para zoar elas. – Sophia concordou e Melanie riu. 
- Ok, não agüento mais olhar pra cara de vocês! – disse, empurrando as meninas pela porta. – Até amanhã! 
- Até amanhã, seu mal comido! – Melanie disse, e elas entraram no carro de Maker, que as levaria para casa. Aproveitando que elas se estapeavam para ver quem ia na frente – e quem iria escolher os Cd's – peguei meu celular e mandei uma mensagem para Lua, que chegou enquanto Maker ainda ligava o carro e se defendia as unhadas entre si das meninas. 
“Boa noite, princesa!” 
Ela respondeu, gargalhando ao escrever no celular. 
“Princesa? Que coisa mais brega, Aguiar! Mas boa noite mesmo assim, meu príncipe!” 
Sorri. 
- É a Bella, dude? – Micael perguntou, apontando para o meu celular. 
- Não. – respondi, guardando-o. – É alguém bem melhor.

Lua fala:

Entrei em casa na ponta dos pés para não acordar minha mãe, porque ela odiava ser acordada no meio da noite. Ela voltara mais cedo de sua viagem, e eu agradeci aos céus por ela não ter voltado antes e visto a festa que eu havia dado. 
Rosa ainda não havia chegado, então éramos só nós duas na casa. 
Passei pela cozinha e parei, ao ver uma neblina sair de lá dentro. E antes que eu pudesse correr escada acima, ouvi minha mãe me chamar de dentro dela: 
- Lua, pode vir aqui? 
Opa. 
Mãe. 
Na cozinha. 
Fumando. 
De madrugada. 
Coisa boa não era. 
- Desculpe, mãe, eu prometo que amanhã eu chego cedo! É que os meninos fizeram o primeiro grande show deles e... – tentei explicar, mas ela me cortou. 
- Não é nada disso. Eu preciso... – ela parou de falar para tragar seu cigarro. – Falar com você. Sobre algo. E é importante. 
- Tudo bem. Estou toda a ouvidos. – respondi, com receio do que seria. Minha mãe só fumava quando algo estava realmente errado. 
Entrei na cozinha e olhei para ela, de costas para mim, que não se virou e continuou falando: 
- Não sei se você algum dia vai me perdoar por te contar isso só agora, sendo que eu sei disso há meses. Mas agora não é hora de se arrepender... Bom, eu vou direto ao ponto. – então ela se virou, e eu me assustei ao ver seus olhos inchados e vermelhos. – Querida... – lágrimas caíram por sua bochecha. – Seu pai está voltando para o país. Daqui a pouco. Com... – agora as lágrimas caíam sem que ela pudesse controlar. – Com Ryan. 
Respirei fundo, tentando processar o que tinha ouvido. 
Meu pai. 
Com Ryan. 
Voltando. 
- C-como assim? – gaguejei, não processando muito bem a informação. 
Eu acabara de ouvir minha mãe pronunciar o nome do meu irmão? 
- Querida, há alguns meses seu pai vem me ligando, dizendo que iria voltar. E eu não acreditei nele, por isso te privei desse sofrimento desnecessário. Mas... Mas hoje ele me ligou e disse que estava embarcando com Ryan para ver você. E que não iria mais embora. Que iria ficar aqui no país com Ryan. 
Fiquei em silêncio, olhando para ela e pedindo para que aquilo fosse algum tipo de brincadeira. 
Mas ela não estava exatamente no humor para brincar. 
- Querida, por favor, fale alguma coisa! – ela pediu, se aproximando de mim e pegando meu pulso. Olhei para baixo e a verdade me atingiu em cheio. 
Meu pai estava voltando.
Com Ryan. 
Olhei para a mão da minha mãe que segurava meu pulso e a repeli, com nojo. 
Até pouco tempo eu estava feliz, com o cara que eu amava, e logo depois eu recebo uma notícia daquelas da pessoa que eu mais confiava no mundo? 
Senti uma bola se formar na minha garganta. 
- Lua? – ela pediu mais uma vez, segurando meu braço novamente. O repeli também, agora com uma mistuta de nojo com ódio. 
Ódio por ela ter mentido daquele jeito para mim. 
- Por favor, eu fiz isso para seu bem! – ela tentou pela última vez que eu dissesse algo, soluçando e não impedindo as lágrimas que corriam por seu rosto. 
- Para o meu bem? – juntei forças que jurei não ter para conseguir dizer. E então as palavras começaram a correr para fora da minha boca. – PARA O MEU BEM? – repeti, gritando. – MEU PAI E MEU IRMÃO VOLTAM DEPOIS DE 8 ANOS LONGE E VOCÊ SÓ ME AVISA NA HORA QUE ISSO VAI ACONTECER? – continuei gritando, agora sentindo lágrimas se formarem embaixo dos meus olhos. – MÃE! – me curvei, como se uma espada tivesse furado meu estômago. As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. De repente, não tinha mais forças para gritar. – Mãe... – repeti, soluçando. – Eu não quero vê-los! Eu não quero... Eu não posso... – sussurrei, com as mãos no estômago, sentindo uma dor incomparável. 
- Me perdoe. Por favor, querida, me perdoe... – ela pediu, com a voz desesperada, envolvendo seus braços no meu cabelo e me encostando em seu peito. – Eu nunca quis que você sofresse. Eu nunca quis... 
Fiquei ali, chorando abraçada a ela, que passava a mão por meus cabelos e também chorava, sentida. 
Mas depois de algum tempo, o ódio me dominou por completo. Desvencilhei-me dos seus braços e fiquei em pé, limpando as lágrimas com as costas da mão. 
- Você mentiu para mim, mãe. Você prometeu que eles não voltariam. Você prometeu que eu nunca mais iria sofrer assim. Você é uma mentirosa. – eu disse com uma voz séria, baixa e irada, despejando toda minha raiva em cima dela, que arregalou os olhos e ficou me olhando. 
- Eu sei, eu sei que prometi, mas eu não pude fazer nada, eu... – ela gaguejou, olhando no fundo dos meus olhos e se assustando com a intensidade com que eles a fitavam. 
Não posso culpá-la. Até eu estava assustada com que o que estava sentindo. 
- Eu te odeio. – disse por fim, cuspindo as palavras que estavam entaladas na minha garganta. 
Minha mãe soltou um gritinho acompanhado de um soluço, e voltou a chorar, com as mãos enterradas no rosto. Mas não esperei resposta e nem fiquei por lá para me arrepender. Fui até a sala, peguei meu blusão da GAP. E quando dei por mim, estava correndo pela rua, sem rumo. 
Corria como se pudesse esquecer os problemas. Como se a única coisa que existisse no mundo fossem minhas pernas embaixo de mim. A sensação me deixava segura, mas logo me cansei. Cansei de tentar esquecer dos problemas quando eles estavam ali, batendo à minha porta. Cansei de me fazer de forte, quando o que eu mais queria era parar o mundo e descer. 
Nem sei por quanto tempo corri, mas deve ter sido muito, porque quando parei, estava na frente da casa dos meninos. Olhei para a janela da frente e meu coração deu um pulo diferente dentro do peito, um pulo gostoso, como sempre dava ao me lembrar dele. 
Ele. O cara da minha vida. A única pessoa com quem eu me sentia segura o suficiente para conversar, contar coisas da minha vida e rir. 
Rir. 
Eu estava precisando rir. 
Agora eu soluçava baixinho e não conseguia me controlar. E suspeitei que não conseguiria sozinha. Por isso, agachei-me, peguei algumas pedrinhas no chão e me dirigi à janela da frente. 
Eu sabia que ele me entederia e me ajudaria. 
E, naquele momento, percebi porque eu precisava tanto dele que chegava a doer. Na verdade, Thur, além de ser o cara que eu amava, era o meu porto seguro.

Thur fala:

Parecia que eu tinha acabado de fechar os olhos quando comecei a ouvir barulhinhos irritantes na minha janela. Abri as pálpebras e esperei um pouco. Eles cessaram. Voltei a fechá-las. E como naqueles desenhos animados chatos, no momento que isso aconteceu, os barulhos começaram de novo. 
- Porra... – sussurrei, me apoiando nos cotovelos. Olhei para a janela sonolento e a luz do poste a iluminava, deixando minha visão ofuscada. Levantei-me e calcei meus chinelos no chão. Arrastei-me até a janela e a abri. – Quem é o filho da p... – ia dizendo, mas parei, quando meus olhos desfocados se encontraram com os olhos chorosos que me encaravam lá embaixo. – Lu!?
- Thur...? – ela soluçou baixinho e eu me apoiei na batente da janela. 
- Espera aí. – sussurrei, entendendo que ela precisava de mim. – Estou descendo. 
Ela concordou fraquinha com a cabeça e continuou a soluçar. 
Entrei em meu quarto, coloquei a primeira camiseta que achei, um moletom velho e enfiei meias em meus pés, logo depois os calçando nos chinelos. Desci as escadas correndo e sem fazer barulho, e quando apareci na porta, Lua estava agachada perto dela, chorando sem parar. 
Eu nunca tinha a visto daquele jeito. Suas mãos estavam enfiadas no couro cabeludo e seus soluços eram baixinhos mas mortais. 
Meu coração parou de bater na mesma hora. 
- Lu, o que aconteceu? – perguntei, correndo até ela, que se limitou a continuar chorando. Agachei-me ao seu lado e envolvi meus braços em sua cintura. Ela amoleceu e tombou a cabeça em mim. – Lu, você tá me assustando! O que aconteceu? 
Seu rosto estava inchado e seus olhos vermelhos. Sua boca tremia e as lágrimas corriam rapidamente por seu rosto, se dissolvendo em seus lábios vermelhos. 
- Meu pai... Voltando... Ryan... – ela murmurou, entre espasmos do corpo. Passei os dedos por entre seus cabelos e não disse nada, com medo de dizer algo que piorasse a situação. 
O negócio é que eu era bem resolvido com a minha família. Nunca tivera problemas e sempre fora muito amado – fora algumas briguinhas particulares – por meus pais. Eles não tinham problemas entre eles, sempre comemoravam suas bodas em um restaurante japonês nojento – que eu não sei como até hoje nunca foram intoxicados – e assistiam a Tv juntos. 
Sabe como é, o que todo casal depois dos 40 anos se limita a fazer. 
Fechei meus olhos e enconstei minha cabeça em seus cabelos desgrenhados, respirando fundo seu perfume. 
Não sei porquê, mas de repende me senti... Triste. 
Triste por Lua, que estava ali, tão magoada e vulnerável. 
- Sabe, quando eu era criança e meus pais brigavam comigo, a única coisa que me acalmava depois era fugir para a casa do meu amigo, Jimmy, e ficar horas e mais horas na piscina, boiando e pensando na vida. – confidenciei e ela, que fungou no meu peito. Não sei porquê disse aquilo, mas queria de algum jeito acalmá-la. 
Ficamos um pouco em silêncio, ouvindo o som dos grilos misturado ao som de seu choro magoado. Então ela balançou os cabelos e levantou a cabeça para mim, piscando seus grandes olhos vermelhos e me encarando. 
- Vamos fazer isso. – ela disse, fungando. – Vamos fazer isso! – repetiu, agora mais animada, se levantando em um salto. 
- Isso o quê? – perguntei, me levantando também. Lua passou a mão por entre os cabelos, jogando-os para trás, e respondeu: 
- Nadar. Na piscina de alguém! 
- Lu, ninguém vai querer deixar nós entrarmos na piscina às 2 da madrugada e... – eu ia dizendo, quando algo me atingiu em cheio. – É! – exclamei, já a agarrando pela mão e a arrastando pela rua. – Vamos fazer isso! 
Então ela sorriu pela primeira vez, fazendo meus lábios se curvarem juntos, involuntariamente. E acho que pela primeira vez na vida eu me senti feliz em ser acordado no meio da madrugada.

Lua fala:

Thur me puxou pela rua deserta, banhada pela luz cintilante da lua, até uma casa grande, amarela e com aspecto de abandonada. Seu portão de madeira estava fechado e a grama crescia sem qualquer tipo de refreamento. Todas as janelas e portas da casa estavam fechadas e emboloradas, dando à casa um ar de mal-assombrada. 
Tudo o que eu queria. 
Atravessamos a espessa grama e fomos até o portão, que estava emperrado. Thur o forçou e ele se abriu com facilidade. Passamos pelo corredor úmido e chegamos ao quintal da casa, que era composto por um jardim muito bonito e uma piscina redonda. O jardim estava muito bem cuidado e a piscina mais ainda, e eu achei estranho, porque todo o resto da casa parecia estar ali, fechada e abandonada, por, pelo menos, uns 10 anos. 
- Eu sempre venho aqui quando quero ficar sozinho. – Thur disse, jogando os cabelos para trás e sorrindo vagamente. – Quando nós terminamos eu vinha aqui praticamente todos os dias. 
- Não sabia que você mexia com plantas. – deixei escapar. Thur riu baixinho e se aproximou de minhas costas, me envolvendo pela cintura. Encostou o queixo no topo na minha cabeça e ficou admirando o jardim comigo. 
- Eu também não. – ele admitiu, com um tom de voz calmo e doce que me fez esquecer porquê estávamos ali. 
Mas ele logo me lembrou, quando começou a tirar o moletom de qualquer jeito pela cabeça. 
- Acho que isso não foi uma boa idéia. – disse, mordendo o lábio inferior. Porque visto daquele ponto de vista, realmente não era uma boa idéia. Primeiro porque fazia frio, segundo porque eu estava usando sutiã de florzinhas e calcinha de ursinho e terceiro porque não sei se ver Thur sem roupa seria um bom calmante. 
Como se eu não soubesse que me acalmar era a última coisa que aquela visão me faria. 
- Foi sim. Você vai ver. – ele disse, já tirando as calças, ficando só de boxers. Sem querer – ou será que não? – meus olhos fizeram todo o contorno do seu corpo. Então, sem pensar duas vezes, comecei a tirar minha roupa, ficando só de calcinha e sutiã. – Gostei da calcinha. – ele brincou e eu mostrei o dedo do meio para ele. 
- No três? – perguntei, me posicionando ao seu lado na beirada da piscina. 
- No já. – ele respondeu. – Um, dois, três e... 
- JÁ! – gritamos ao mesmo tempo, pulando na piscina. 
Ao cair na piscina, a água gelada invadiu meus sentidos como se fosse mil agulhas perfurando meu corpo. Meus olhos se fecharam e eu forcei meu punho, sentindo um frio quente por todos os meus membros. Pensei seriamente que estava morta. Bati os braços algumas vezes e emergi. Ao chegar à superfície, Thur já estava lá, com uma cara engraçada de dor misturada com alegria. A mesma cara que eu suspeitei que estivesse. 
- Putaqueopariu, que frio da porra! – eu exclamei, nadando até ele, que gargalhou e me abraçou pela cintura por debaixo d'água. – Já reparou que nós geralmente nos encontramos quando está frio e envolve água nisso? 
- Acho que alguém lá em cima não quer que nós façamos besteira. – Thur sugeriu. 
- Provalmente... – eu concordei, encostando meu nariz gelado em sua bochecha mais gelada ainda. Nós ficamos um pouco em silêncio, de olhos fechados, com a água tão fria que parecia cortar. E aquilo realmente me acalmou, porque eu meio que esqueci de tudo e só fiquei ali, sentindo o corpo de Thur junto ao meu e a água gelada paralisando meu cérebro. 
Ele andou devagar até a borda da piscina, me levando junto. Apoiou-se lá e eu o abracei, encostando minha bochecha em seu ombro. 
- Não precisa se preocupar com nada, Lu. – ele sussurrou no meu ouvido, fazendo um arrepio gostoso percorrer todo o meu corpo. Apertei os olhos já fechados e me apertei mais a ele. – Eu sempre vou estar ao seu lado, não importa o que acontecer. Ninguém vai te magoar e sair impune disso. 
- Obrigada, Thur. – sussurrei em resposta. 
- Pelo o quê? – ele perguntou, curioso. 
- Por ser meu príncipe encantado. – respondi. 

Continua...




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